Natal

Vim brincar com as palavras
Degustar as alcaparras
Ah!, quantas farras!

Quase sempre me farto de mim
Mas raramente em quandos de celebração -
Me gosto pobre podre - se à Festa!
Que mal há no pé duro e forte que pinica a lama pálida e gélida numa dança como o faz o pica-pau ao tronco?
Quanto da insolência que atribuímos a nossas crianças não é nossa estúpida e dócil conformidade?...

Pouco me incomoda a miséria
Que mal há na posse desmesurada de homem sobre homem?
Somos o Dê -
A Modernidade o é, o Excuso, o Roto, o Dito-Cujo horrendo do anônimo...
Este desespero
Que quer culpar ao próprio Inteligentíssimo
Inefável
Irretocável
Inexpugnável Coração da Vida
De íntimas desavergonhadas autopiedades...

Pois bem:
O Sol brota do horizonte
O Natal nos abraça como o mundo faz à borboleta quando sai do casulo
E se há um Tempo a ser vivido
Se o homem é coisa que supõe-se que é
E se cada ato de paixão pode ser consagrado em nome de algo indizível e indelével...

Por um instante
Um lapso de inspiração
Me fugia o eixo de mim
E quase fugia do texto
O poema afogado em si
A história viciada em si
A evolução - A Evolução.

Caríssimos,
Se há telepatia a ser feita
É esta nossa derradeira hora.

Engasgo

A natureza nos impele à Paz
Nos força à força
Nos impele ao orgasmo
Nos exige o vigor do búfalo, o riso da hiena, o ventre da Afrodite.

Transmito descontentamento
Ciente da máscara que não posso tirar
Ciente do objetivo intraduzível que supostamente temos de partilhar -
Suspenso no ar
Como sentado numa pequenina amiga, nuvem voadora invisível
Reflito.

Meu intelecto atravancou:
Sinto meu corpo
Sei dele e sou ele,
Mas qualquer coisa quase somente lógica quer se comprovar pura lógica e tomar posse de meu arbítrio.
Demorei demais a aceitar minhas responsabilidades
E isto não me tornou mais feio
Até mais respeitado profissionalmente!
Só que não quero mais que isto seja um canto pra desabafos nervosos de uma víbora
Pouco importa a este ponto minha escolha
Meu documento de identidade
O ar correndo pelos meus pulmões... - ou, não, certas coisas importam e muito ainda...
Ah, sim, estou tentando evitar mentir
Em verso
O que ajuda muito pouco
E cá estamos
Tudo Tudo
Nenhuma fronteira
Continuidade
As drogas todas que consumi... ginseng, THC, vitamina-C...

Além do meu corpo
Há todos os outros corpos -
Só não digo "infinitos" porquê não pude contá-los ainda -
Cada corpo esta auto-percepção auto-existente
Tentando ensinar-se a si de si
Dos outros corpos
Das drogas que consumimos.
Meu corpo:
O que tem dentro da pele
A própria pele inclusa...
Mas à música
Quando danço
Me fundo
E daí meu corpo é o ambiente e todos mais dançantes presentes
E então o prazer é mui mais complexo, - que onde terá ido parar meu ponto-G?
Ah,... se a Vida, apesar de infinita, por causa do Tempo,
Não passasse também tão rápida pros dançantes presentes...
Só que, é!, rápida e furiosa
Ela não diz realmente que se tem de ter pressa...
Como se o silêncio humano apreciasse a paranóia de poder viver eternamente
Pelo simples fato de permití-lo olhar-se de fora de seu corpo sem um espelho.

Então, a Morte vem,
Como uma deliciosa recostada à trilha num descanso de quinze minutinhos que nunca terminou -
Uma ação humana perpétua demonstrada.

Fatualidade

Perdido na neblina dum sonho
O ar frio narinas adentro - respirando a teia de aranha da água no ar
Venho cinzento
Barro cozido sem-graça, de barro de esquina qualquer, até reles
Mas, ah!, pronto ao artista atento
Com seus pincéis güaches óleos cosmologias.

O túnel nos abocanha
O Amanhã é pálido e cálido
Nunca se cala!
O requebrado é veloz
A sutileza atroz
Ama-se o pegajoso
Aplaude-se mais aos perdidos que aos achados
E todas as raízes se fundem numa só no âmago do Coração da Existência.

Ninguém pode duvidar de que
Num certo pontinho longínquo
No perfectamente calculado o vivente em zona mais improvável do cosmos
Um sábio vovô regue suas plantas na chuva
E chame por um cachorro que nunca existiu
Morando sozinho lá naquele pequeno planetinha que sabe-se-lá-o-nome...
Ele que nunca viu um cachorro poderia chamar por um cachorro? -
Lá no meio do nada, sozinho, do mesmo daonde ele mesmo surgiu?
Sem nunca ter visto cachorro, complica mesmo...

De certas coisas
Pode-se duvidar impiamente, por outro lado:
O riso descompassado do mórbido orgulhoso
A apreensão do vaidoso frente ao continuum-existentiales de que participa
O lábio torto do jovem insolente desprecavido descabido
Deus
Jesus Cristo
Friedrich Nietszche
O Papa
Michael Jackon e Madonna
Depois muitos outros como todo Led Zeppelin e The Doors... mesmo Kraftwerk!
Ah, bem, mas não vou enumerar tudo de que se pode duvidar, não duvidemos de que poderíamos duvidar de muita inutilidade, nos tomaria uma vida toda - ou, quem sabe, já nos toma?

Ah, mas nem todos desconhecem o compasso frio e inerte da espiral da grama mundo adentro
Há, sim, Esperança
E ela irradia dadaísta em cada emprego de vontade
Nossas amizades meras certezas infinitamente transmutantes.

Trintetrês

Sou um amigo
De quem se esqueceriam
No instante breve e fugidio em que eu de mim mesmo me esquecia
Estupefato por tamanha ignorância
Conectado a tudo por cabos e membranas
Louco ao troar do sino que se dissipa.

Trinta e três, trinta-e-três, trintetrês...

A madrugada desperta aliviava-se no canto da cotovia
Tempestades solares nos noticiários
Ácido lisérgico e hemoglobinas
E dobrada a esquina de mim mesmo, custei a prestar a devida atenção à minha respiração...

Buscamos no mito a realidade
E ela se esbalda de nós, nos atirando baldes de tempo,
Tão infinitamente impossível
Tão afinal real -
E ao espelho me achei um roto maltratado...

Só que me resta minha labuta
Os compromissos d'amanhã
Os planos todos
Curto médio longo prazo -
E o longuíssimo?, pergunta afoito o superlativo
Tão nobre em sua benevolência paterna.
Me restam todas as intricâncias fotografáveis dos corações de minhas canções favoritas
As resultantes dos bailes de meu espírito
A imensa fornalha onde arde minha alegria.
Ah, se não impiamente nos arrebatasse tão real a Realidade...

Depois
A vontade de fazer xixi
Saber que tem que ir pra cama
Saber que tem que se levantar pros compromissos d'amanhã
E então imaginar um zilhão de seres joviais e faladores -
Não como no meu bairro a esta excusa hora do breu, que só de vez em nunca passa a Kombi entregando os jornais.
E de novo a respiração, e saber que ainda não fiz xixi
E entender que a música continua em nossas cabeças enquanto fizermos força pra isso.
Talvez eu seja um mago cínico afogado em antenas parabólicas
E lembrei de que se abrir mui bem os olhos, o mundo parece mais brilhante, e enfim
Quem sabe, meu mundo possa me parecer tão brilhante quanto deve ser.
Quem sabe eu aprenda a orar, e,... ah, sim, já lembrei do trabalho!

A Babilonia é o que é
Curta e grossa
E eu sou quem sou
Curto e grosso.

Respiremos então o cheiro da grama e da terra que reside sob nossas peles
Lembremo-nos, sempre respirando - fluxo contrafluxo
De que somos barro eletrizado
Borboleta de vinte dedos
Caipirice preconceito-free!
E sshhhhhhhh!!!!!!, que já passam das dez há tempos!
Quietinho, júnior, que a essa hora já cantam os galos e estão de pé o povo que faz café e bolo de rua pro povo.
Eh, povaréu! - Onde vai parar?...

Ah, creio que não há de parar... difícil parar...
Coisa teimosa,
Tão dilatada, quase pavorosa
Ai, essa juventude de aço e concreto... vamos fugir pra perto de um rio...
Nos fartar do tempo que doamos
Adormecer em meio às consequencias inevitáveis de nossas tentativas diárias de realizarmos o sonho de uma Vida.
Se o Sol não fosse dourado, eu não duvidaria que a Morte é a invenção mais bela.
Bom dia, e Amém.

Prestidigitando

Minha ciência da consciência
A aturdida disponibilidade da infinitesimal criatividade.

Balouçando ao vento
A moça
O catavento
Meu tormento meu talento
Minha sina que alucina
Síncope sincopada
Branda brancura
Branca brandura
A Unidade.

Aguarde processamento:
Ruído, paixão, benevolência;
Matagal, usina indústria, astral musical;
Acelere o processo, catalise o progresso, assuma o Acesso.

O fraseado continua
Na fibra que se quer fortalecer
No Amor que quer prevalecer.
Os pontos, pontuados, um a um, todos duma vez, desenham a linha do tempo
E às vezes parecem pontuadamente pontuarem-se mutuamente num mesmo ponto
Como uma civilização toda que se concentra em firmar-se afirmativamente.

Depois disso um rife rasgado
A repetitividade da retiscência
A potência da voluptuosidade
O recato da monstruosidade de Miles Davis
O sinistro da aprofundidade da Verdade.

Ah, essa radialidade que me conduz
Essa juventude transviada que me traduz
Essa luminescência da quintessência que através de mim reluz...
Ah, esse amargo delicioso de depois-do-jantar
Essa ansiedade que retorce as entranhas quando se está perto de uma festa ou de um evento qualquer que envolve alguma tolice platônica...
Ah, a ferrugem azul do cobre,
A transparência no tórax da borboleta tão tão requintada,
A imoderação do artista sobrevivente
A velocidade abstratamente fenomenal com que dedos conseguem desenhar canções...

Concretamente
Brinco com os termos
Por temer os términos -
De seja lá que for! -
Que o terminal a seguir é sempre uma surpresa insondável.

Dar um passo em frente em seguida do instante em que algo mui relevante e imprevisível a ocorrer se fez pressentido...

Gagá

Estou querendo chorar por motivo nenhum
E por esclarecer isso a mim mesmo me veio solícito um nobre sutil sorrizinho.
"A gente chora porquê quer", certa vez bradei inocente.
Mas chega de confundir canto e pranto.

A verdade é que tenho dançado pouco ultimamente
E o tempo me tem passado rápido demais
Eras todas decorridas num par de horas -
Dores incríveis de vassalos desapercebidas
Sonhos absurdos de mensageiras incompreendidos...
Mas sei que tenho de estar mais e mais vigilante
Sei que tenho de prezar pelas minhas mães
Que tenho de respeitar os incompletos que me permitem vislumbrar uma plenitude realizável...

Às vezes sinto falta de um pranto mordaz que me fustigue com violência
E me lembro da minha adolescência
Dos excessos de maionese outrora em minhas veias
Da falta de lucidez em minhas meditações.
Hoje risquei de minha agenda algumas musas
Por julgar que minha presença não lhes seja mui relevante -
Não quero alimentar esperanças confusas.
E de repente a melancolia me pareceu engraçada
Como uma ânsia de orgasmo que se tenta satisfazer com um litro de sorvete de creme
Como um erro que justifique outro erro
Ou uma hesitação que se tenta afirmar a mais perfeita contemplação...

Importa que à meia-noite o hoje vira ontem e o amanhã se torna o infinito presente.

Teimosias

Se meu dia tivesse quarenta e duas horas
Eu seria o espírito dum elefante confinado num pequenino corpo humano.
Levantar-me pra uma caminhada seria como entrar no chuveiro frio numa alvorada invernal.
Mesmo coçar minha perna direita seria um desafio, quase como me é hoje em dia evitar uma masturbação.

Se meu dia tivesse mil horas, eu o arredondaria pra um dia de quarenta e dois dias.
Eu seria como uma borboleta insone
Que depois que sai do casulo passa a vida toda voando
Um imenso dia em que construo minha família, em que assino meu testamento, em que rio de Tudo até me sufocar.
E tentaria mergulhar no límpido azul celeste como os espadartes mergulham na profundeza oceânica -
Quem sabe conseguiria, em meu último inspirar, voar tão alto, que morresse exausto além da Gravidade
E flutuaria inanimado ao vazio cósmico, uma pequenina vida que durou um dia imenso.

Se eu ficasse sabendo que aos quarenta e dois de idade morrerei atropelado
Ia tentar ficar acordado até o dia do meu Juízo, não piscar mais os olhos pra não perder nada do que se passou pra mim.
Meu mundo só existe pra mim, só existe em meu nome, em nome do meu propósito
Isso tudo que me estarrece, que me afaga com estarrecimentos
Que me acalma com implosões de tesão e me sacode de manhã pulsando cristalino o espírito do mundo
Isso tudo que me inclui em infinitos contextos de que nunca poderia me imiscuir nem conscientizar
Isso tudo que me solapa em revoluções morais e revoltas fraternais
Isso tudo que me arremessa em quarenta e duas direções sincronicamente em torno de um mesmo centro inapontável
Isso tudo que é Tudo, vez ou outra, me vem ao encontro como qualquer coisa que amo.

E nesses quandos
Em que amo Tudo pois sou obrigado a isso
Nesses breves soluços de auto-realização
Infinitamente conjuro a mim mesmo resoluções inomináveis
Me faço dissolver na corrente sanguínea de Gaya
Me forço à crença digital
E exclamo a mim mesmo, quase assônico "hei de viver eternamente".

Como borboleta ou elefante,
Como os pardais cantando aos maiores músicos
Ou o Sol presenteando aos grandes surfistas.
Hei de ressuscitar inconfundível dentre as raízes de Yggdrasil
E, então, sabe-se lá... quem sabe morra novamente, como algum aprendizado que me seja oferecido.
Como rubi escarlate, quem sabe eu me fixe rigidamente nalgum subsolo e aguarde quarenta e dois milênios por uma lapidação que me encaminhe à coroa de alguma rainha moura futurista.
Como petróleo, quem sabe eu abasteça motocicletas de dinossauros ultra-inteligentes e conduza alguma alma réptil estressada a algum belo recanto de quartzo, algum oásis transparente em que se purifique.
Ou, como carambola, visite alguma praia perfeita na pança dalguma criança sapeca
Ou, como figo, visite os esgotos japoneses, depois de ser encaixotado, importado, comprado e regurgitado após alguma ceia exagerada.
Quem sabe o pequenino ponto que é o centro do meu cérebro desapareça
E Deus o agarre vagando pelas estrelas, e o conduza a algum centro educacional de fractais perdidos.
E daí eu posso até renascer em algum Éden que nunca degenera
Passear nú Eternidade afora pelo holograma sem peso que é a Vida.

Por enquanto eu ainda recupero o fôlego
Gozei sozinho, não resisti -
E a libido violada, o ego sedento por mais sempre mais, o espírito um tanto pesado
Vou me empurrando virtual à frente
À próxima esticadela estúpida de vértebras
À próxima dormência de tornozelos por escrever um poema todo na mesma posição de pernas cruzadas
Ao próximo imprevisível infinito que certamente há de florescer
Ao seguinte quarenta-e-dois que se me apresente e me faça pensar de novo um pouco sobre o arrependimento do orgasmo solitário.

Paixão

Às vezes penso comigo mesmo que nunca mais serei capaz de escrever mais um verso.
E aquilo acaba sendo um novo verso, primeiro de uma estória supostamente impossível de se contar.

Daí fico querendo escrever sobre tudo de que me arrependeria
Se soubesse que amanhã é o dia em que enfim morro.
Fico querendo falar sobre o mundo do agora como qualquer coisa distante e incompreensível
Como parte de um eu que não tenha futuro longínquo
E assim posso olhar pras coisas como fosse minha última chance
Crio a ilusão de obrigatoriedade de aproximação ao universo
Me pressiono à culpa de estar ainda vivo
E ter em mãos uma vida inteira de escolhas e perturbações.

E então chegar ao fim de um dia de trabalho pode ser algo intenso e mórbido
Encarar a madrugada de repouso pode ser um vacilo, uma hesitação do tirano que quereria reger as nações todas.
A não ser que o dia de trabalho tenha sido mero cumprimento de abnegações espirituais.
É, estou perdido, um tanto enlouquecido, esperto ao frio do culto
Expectante ao truque do idoso
Aspirante à difamação em meio aos bocejadores.

Às vezes os versos são só confissões imprudentes
Não podem ser mais que desabafos únicos e estupidamente sinceros.
Às vezes a ode suprema é um simples agradecimento à chance que a Vida dá de repararmos nela.
Às vezes a superação ulterior de si mesmo é uma inspiração pisciana
Ou uma confusão teimosa em que a vaidade se amarga por afinal pertencer ao tempo
Ou uma insolência inadmissível em que o orgulho se adocica por afinal não constatar-se a si onipotente.

Sei que amo
Que te amo
Que me amo
Sei do amor dos súditos pelo amo
E o amor constrói nossa sabedoria polindo nossa curiosidade com algum diamante axiomático.

Aprendizado

Tanto se faz, tanto se vê
Tudo em nome de uma trilha sonora
Em nome de um tom invisível que colabore com nossas inspirações maquiavélicas
Tudo em nome de qualquer coisa inominável que nos marque como ferro quente.

Vez ou outra somos violentados por nossos pais.
Não raramente
Uma brisa singela
Se arrasta como que numa câmera lenta inconcebível
Em que o tempo espirala sobre si mesmo e os pássaros cantam como se seus hálitos fossem eternos.

E queremos sempre mais
Mais gozo, mais impaciência
Mais pele, mais pêlo, maior apelo, maior zêlo
Quero sempre melhor
Melhor sempre mais
Mais sempre melhor.

E escorro de olhos cerrados por estas teclas tão tão reais
E uma antiga música se me faz tão nova -
Tão nova quanto cada banal amanhecer
Quanto cada teste que é cada banal crepúsculo
E sinto meus dedos prestos como tentáculos agarrando a imensidão da dança
E a precisão do ritmo me arremessa ao âmago de mim
E respiro um pouco mais sábio
Um pouco mais amargo
Um pouco mais soberbo.

Sou um novo eu, o espírito, o corpo e o pensamento
Sempre um novo eu
Eu mais eu melhor eu sempre -
E morre-se porquê há de se morrer
Com ou sem porquê, se há de...

Mas enquanto isso tantos timbres
Sinos bandolins tambores
Enquanto isso beijos tímidos e inescápaveis
Abraços longos e estranhos
Tão longos e tão estranhos que já não se parecem mais com abraços
Ficam no ar como uma coisa longeva e bizarra que só pode acontecer entre dois seres demasiado longevos e bizarros.

Como eu e Deus, cá agora
Eu e o cosmos todo me ouvindo -
Eu falando no tique-taque parasincrônico do teclado digital
Gélido como o coração da Vida
Nú e de roupas
Como um rei sem súditos, rei de mim, ao menos
Como um camelo sedento, amante do infinito do dia, aspirante ao proximo oásis, à próxima miragem.

E luto contra a madrugada
Como luta o orvalho contra a relva
A borboleta contra a negritude do céu sem lua
As incontáveis estrelas contra o contrapeso delas sobre elas mesmas
Meu coração borbulhando magma controverso contra o id ego superego.

E implodo em clímax inesperado
Um zilhão de purpúreos magentas vociferando tranquilos os discursos do medo irracional
A delicadeza do sexo
O relaxamento estimulante da cura indevida
A cadência do tormento alegre de estar-se desperto
A voluptuosidade sonolenta da força inexpugnável
A sapiência terna paterna da taberna
O constranger-se no rodopio do samba
O querer querer-se a si se querendo a si
O querer querer
Querer saber querer.

Domar o leão em pura alienação
Temer à picada da abelha, não pela dor, mas pela morte da pequenina...

No fundo deste texto repousa algo
Que eu quero desenterrar
Que não sei bem o que é, mas que sei estar enterrado clamando ser exumado
Talvez uma expiração que notei e indevidamente desconsiderei
Ou saber que meu sangue tem gosto de romã
Ou que quero ter quarenta e duas esposar e tomar sopa de ventre toda noite no jantar
Ou que fazer música é como escovar os dentes na hora certa
Ou que conquistar o mundo é como tentar desenterrar qualquer coisa que não se sabe bem o que seja...

Que poderiam importar todas as palavras frente ao vital contrair-se em paixão arrebatora?
Que poderia importar toda história de caos, niilismo e pecado frente ao contemplar-se único e natural?
Que poderiam importar todas as irrelevâncias e discrepâncias da modernidade frente ao sopro de John Coltrane?
Quem poderia se importar com qualquer coisa tão estúpida e ridícula quanto a própria infinitude?
Quem leria nestes versos prosados o prazer do que mais prezo?
Quem entenderia a fugidia noção de se estar vivo e adormeceria em alívio?

Pletora

Mesmo Don Juan havia de
Pós crise muscular
Se questionar: "qual o sentido da Vida?"
E retornar a alguma origem
Decifrar o enigma de uma lembrança com que tão cegamente aprendeu.
Mesmo Napoleão havia de
Pós surto existencial
Se questionar: "qual a razão de Tudo?"
E retornar a alguma origem
Desmembrar os trâmites éticos de alguma incompetência com que se elevou.
Até Cleópatra
Certa vez
Há de ter exigido de seus sábios e escribas: "qual a palavra mais importante?"
E ter retornado a alguma origem
Secando por dentro ao testemunhar sua magia tão nítida em sua alienação.

Quem sabe como as formigas perguntam a si mesmas sobre Deus
Talvez lhes pareça o mofo sacro.
Quem sabe se oram os pássaros em suas cantorias
Ou se apenas lhes convêm o tórax aquecido pelo exercício.
Quem pode afirmar qualquer Absoluto e rubricar logo em baixo?
Quem sabe se o vento em movimento não é apenas uma teimosia
Se o pranto em desalento não é senão hipocrisia
Ou se as mulheres todas não compõem uma sobremesa infindável duma ceia pérfida?

Ouvi dizer que admiram minha paixão
E ao invés de um abraço me deram as costas -
Que importa minha paixão?
Luto por nomear prioridades
E peco em seguida nalguma displicência conceitual.
Um pouco mais pesado
Recordo-me do passado incontrolado que aqui me trouxe
E percebo minhas realizações como vacilos e disfarces.
Quero não piscar
E mal contribuo em firmar minha respiração
Como se de algum jeito estranho demais não valesse a pena viver.
Como se de algum jeito estranho demais não valesse a pena saber que se está vivo e que se irá morrer.
Como se de algum jeito estranho demais todo sentido que encontro fosse estúpido
E toda certeza que confabulo fosse inútil
E toda ganância e inveja e desprezo fossem simples atitudes aceitáveis.

Acomodado me incomodo
E tento conceber alguma pressa lógica que justifique minha ânsia erotomaníaca.
Penso sonoramente "honestidade" em meu silêncio de escritor em ação
E não consigo fugir do fato de que é apenas mais um grupo mui específico de letras
De que um chinês ou saxão não necessariamente saiba do que estou falando sem intérprete
Do fato de que estou murchando
Por querer crer num máximo de prazer tangível através de um minímo esforço.

Só que ainda não bati a cabeça forte demais pra me ter esquecido de que venho tentando ensinar-me a mim mesmo a viver melhor alvorada em cima de alvorada.

Fissura

Karma é a resultante infinitesimal das paradecisões.
O luxo nunca pode ser uma necessidade básica - é o que o distingue como luxo!
Tudo é real e também infinitamente improvável.
O porquê é invenção, tanto como o destino, o acaso, o previsível -
Se bem que, o acaso vez ou outra dá conta do recado e inventa algo por si.

Dormir é morrer
E dando uma de professor venho anunciar outras tantas maravilhas
Encontrei-as no fundo do baú da Vida!
Por exemplo, este texto aqui é um presente
Pra um casal de antareanos
Do outro lado da supergaláxia
Que vão me ler daqui uns cinquenta milhões de anos -
E nem me pergunte quantos globos oculares eles têm, porquê eu não sei!
O que importa é que eu amo eles porquê eles são meus fãs
Com tantos olhos quantos forem, eles são ligados no tchã dessa velha história de Universo.
Falando nisso, suas mãos, que você pode ver logo aí - se você é maneta, mil perdões -
Elas na verdade verdadeira nem estão aí!
É só uma hipertorrente de bósons e únions em volta do teu bendito humor
Honestamente, tudo é mesmo uma mentira
Um jogo de luzes, cortinas e aplausos abafados em bebedeiras e abençoados palavrões.
Como se a civilização não fosse mero manicômio a céu aberto...

É isso aí, os super-heróis não ficam em casa lendo gibi não!!!

Distanciação

Um risco que se assume
Um sonho
Que se auto-realiza
E entre os dedos a realidade.

Telepaticamente
Em comum
O sabor
A dor
O calor
O resplendor de um amor
Que por amizade não se deixa constranger.

O tesão numa súplica transparente
Numa confidência
De amantes que nasceram em épocas diferentes
Em universos poentes.

Sem querer querendo
Uma Perfeição.

Monoliticamente

Uma sobriedade eterna abraçando cada bacanau
Totems com publicidade na banca de jornal
E todos os rios do mundo num só ritmo.

Não há pensamento sem corpo
Começo sem fim -
Tudo propositado:
O canto das cotovias
O frio na barriga prenúncio alegre
O suor nas pontas dos dedos
Ficar de pé em cima da língua nos beijos
Amar sempre como pela primeira vez
Vender-se.

Em irreprimível malícia
Meus poros meus juízes
No sucumbir da ambição
No interagir da perdição -
Roleta-russa de redenção
Mortificante pelos motivos errados.

Bronze polido
O cotidiano nos esmaga com o mundo
Este mar de lã em que nos afogamos
A ignorância feminista
Esta crise de convenções
Desprezo tirano
O olfato destroçado
A grama gélida molhadinha
Gaya girando com o assoprar das árvores.

O horizonte banhado em tinto vinho
Crepúsculo
O gostinho de quero-mais.

Homeostase

É receitável
Tal recitabilidade.
Em tal recinto
É mui bem-vinda
Presta habilidade.

Sempre cri que a Vida é um único verso branco interminável
Que a verbalidade é a libido do sol que em cada um habita
Que a imensa profusão da profundidade imensurável do Ser é real
Que falar tem gosto de salada bem temperada
Que ouvir tem cheiro de pipoca estalando
Que cantar é espasmo vagalumínico
Que dançar é contato metassanguíneo
Que as frutas nas copas são as estrelas na lembrança
Numeravelmente
O vento sopra calor
As raízes das plantas enterradas nas calçadas
Os ódios e pavores de desconhecidos me atravessando com a chuva das ondas de rádio e tevê
Meu queixo rechonchudo
Tudo infinitamente o mesmo.

Um zilhão de instantes o mesmo
Um zilhão de infinitudes a mesma.
Esta mesma Vida toda
Girando sobre si
Através de si
Do zero ao um
E depois de novo e de novo
Todos os erros infinitamente repetidos
Todos os vacilos, todas as lições, toda concórdia e honra e pálida deliquência!
Toda lastimosa conformidade
Chegando na muralha no fim da eternidade
Começando de novo do zero
E sendo igualzinha
A existência infinitas vezes se repetindo sobre si mesma
E sempre a mesma
Sempre esta exatamente
Contundente
Intransigente
Resplandecente.

Deus exclamando: "Déjà vécu!"

E o relógio digital próximo da meia-noite
As pernas em lótus firmes fortes
As plantas dos pés bem apoiadas sobre o timo
Meus vícios como vícios
Minha juventude como um esquecimento e um frenesi de amnésia
Minha poderosa marreta enferrujando
Sonoplastia demais me atravessando
Tanto cinema estronchíssimo, cabalmente violento
O vento quase inerte
Meus ossos quase flexíveis
Minha imaginação quase domesticável...

E agir parece um nada, um vazio
Pensar parece um dispêndio dispéptico imponderável
As máquinas recebendo mais carinho das pessoas que as pessoas
Aquele ondular dos gramados e campos
Às marés das correntes soprantes
Meu pranto que não deixo escorrer palpitante
Minha alegria digerindo
O pânico uma injeção de adrenalina em overdose de cocaína
A frustração uma musa incomparável masculinizada
A paixão um sexo que é pura subjetivação
As coceiras e as sujeiras e o que mais tranborde do coração um pedido de socorro
Clamando por cachoeiras, rios e lagos translúcidos
Céus virgens, dias purpúreos
Batizados
Fogueiras em que se não assem pecadores
Clareiras em que se não fixem pregadores
Cumes instigantes
Descansos despreocupantes.

Utopia que me renova
Que me faz envelhecer
Humanidade
Definibilidade.

Torcicolo

Vemos o ponto final
E nos perdemos dobrando as esquinas das vírgulas.
E na mente as mil composições sorvidas
Divertidamente
Fundem caldo
Esgazeiam esfuziantes
Cérebro adentro e afora
Canções inéditas
A maré subindo.

E a juventude
Dona de si em sua rebeldia
Enfastiada do termo
Dos términos...

Vou me esbaldando
Despejando meus baldes de torpor
Denso sabor
Bálsamo em amargor
E uma crônica arriscando rimas
Pelo dulçor.

Quanta carnificina repousa no coração de todas as boas coisas dos homens.
Quanto melodrama nos impomos envelhecendo tão magros de perversidade.
Quanta familiaridade com o ceticismo, o sensacionalismo, - com o ismo!

Malditas referências inescapáveis
Me arremessando daqui àcolá
Bolinha de pingue-pongue
Esta vida
Liberdade e nada mais
Nosso queijo das manhãs embolorando de dentro pra fora
Nossa irremediável sincronicidade
Absolutivamente
Tropeçando nos antigos amores como em truques de magia desvendados
Sorrindo flamejantes imprevistos
Nas entregas à musa inesperada
À madrugada desvairada
Ao coito terno
Ao rouco inverno
Às rãzinhas azuis
Aos trumpetistas
Ao amendoim doce
Ao rasante da pomba confirmando
Ao pouso da pomba inconformando
À exatidão da devassidão da vastidão tão tão larga do silêncio daonde Tudo brota.

Lâmpada
Aforismo
Cataclísmico improviso.
Minha ode indiscreta
Meu inominável.

Féretro

Esquifei-me
Afogado no êxtase do supremo amor
Tantas vezes vítimas de auto-descaso
Embebido de acre vinho
Propedeuticamente
Psicroterapeuticamente
Psicrometrando...

Coisas no caminho
Que fui deixando -
Esbarro em mim:
A pequena que me ensinou tanto sem saber
A má tão bela que me sempre nutriu
Os signos que nunca compreenderei
As melodias que invento
Olhando ao mundo como ouvisse música
Minhas flores depois de mim
Eu jardim
E o medo da vírgula
O medo do fim
Que não se quer manifestar propositadamente
Só mente
Descrente
Mentiroso sem semente
Como alho que nunca fosse dente
Ou coração que nunca fosse quente.

E foi-se a cefaléia
Foram-se a cicatriz e a ferida
Tempo sem medida
Minhas contravenções
Contrações
Desditas.

Uma bordadeira ungida
A prostituição
Agonia inaudita.

Coerção

Tormentas
Atormentam
Rebentam
O pranto do super-herói
O cântico primaveril
Do sangue quente da tarantella.

Um escudo
Losango de luz entre os olhos
Pipa esvoaçante de Amor
Gargalhando
A biogeoquímica eterna
Das cromáticas degustações.

Maturidade úmida
Da humildade ímpia
Da sapiência ímpar
Da novela futurista -
Os pés sempre ao chão mesmo quando virados à lua.

Escolinha agridoce do perdão
Trovejando
A incomparável inconsternável pacificidade da maternidade.

Lenhador

Subiu a maré
Acima de todo pé
A água incontível
Incontável
Irreprimível
Inabalável
Notável
Infalível.

E a bela louca nua à Avenida Pacaembu comia javali defumado aos solavancos
A insana lua luzindo despreocupada os bafos do dragão de São Jorge estelionatário
Olhos piscando
Sóis pulsando
Flato consternando
Plasma trotando
As tradições das pobres locuções
Das formigas pisoteadas
Dos pavões mascarados
Da bitolagem exagerada -
As exasperações.

Fogo e vulcão
Lodo e falcão
Engodo guão
Sinapse ou não:
Caminhos à servidão
Manifestos de escravidão
Lastros emplastos
Porta-bandeiras virgens
Foligem...

Bem e mal
Abobrinha natal
Solitute normal
Beatitude nominal.

E minha entranhas
Pra me justificar.

Truques

Para fortalecer a audição:
Muito gengibre e pinhão
Muita erva doce
À glutão!

Já à emancipação:
Arte de desencontro
Branca brandura
Nobre ventura
E as brumas bradam
Acolá
Ali e aqui
Cá.

Entre nós tanto ranço, tanta selva
Tanto manso, tanta treva
E os ninguéns que ninguém conhece
Os que somens nas margens de erro das estatísticas.

Viva o Império Imortal!
Viva o Rei Sol!
Viva vívida
Vã solícita
Madame estrupícia
Viva toda esta malícia
Que ainda acalenta.

Quanto à magia?:
Sete vezes seis
Vem
Habitai
Conhecei.
Pergunte por perguntar "o que há de mais improvável a ser perguntado?"
E talvez
Escorrendo pelos espaços entre as letras
Um sino boçal troasse
E todo pássaro calasse
Cada fresta e aresta sorrindo
Um não-sei-quê confundindo
O propósito do significado
Uma foice
Um rubror rugindo.

Certa Vez

Uma pomba mui assanhada
Imitou grito pra moçada
Voz de dona
Como falante indiscernível
Se fez de mulher humana
O mito.

O grito
Depois cunharam inconsciente coletivo
Transporte supletivo
Xarope digestivo
Mas a pomba arrasa
Em rasante às testas rasas
Faraônica
Dança com a cabecinha àfrente e àtrás.
Ela também é malandra
Moleca
Caga na cabeça correta
Ciente da hipoteca
Do relógio mecânico e do caramujo
Amiga eletrônica
Do dono da flora e da fauna
Faz o noticiário oficial em assovios e gargarejos
Ecos sobejos.

Conta da Escuridão
Do desmembramento do esquecimento
Deste mundo de cimento
Cinza
O presidente um jumento!

Já roubamos o brilho do céu em tais e quais bairros.
Também às pobres crianças,
Que não mais brincam
Com barro...

Inespelho

Vida minha
Que minha nunca foi,
Vida nossa
Além de toda apropriação nominável:
Te conheço de dentro pra fora
Como conhece o orvalho à rosa.
Em minh'alma te sinto borbulhar
Como um banho sente quente o sabão.

Em verdade
A bem da verdade
A verdade é uma mentira.
E os verdadeiros gritam: ao menos é uma mentira honesta!

Este fio platinado
Duma teia de aranha
Que une meu coração à minha sensação,
Este cabelo inquebrantável
Tão só
Cílio único
Do uno olho,
Este abismo invisível
Inflexão risível
Cortina indivisível:
Reencarnações
Reencenações
E a musa provendo ensolações.

Dormi demais
E perdido no mais íntimo do ventre das trevas
Os uivos dos lobos me despertaram!
Esqueci demais
E escondido no mais fétido das certezas humanas
Ensurdeci:
Deus orava a si mesmo por discernimento.

Universo Cacofônico

A neve é morna.
O gelo é quente.

As acontecências insalubres,
As impermanências tão tão lúgubres,
E uma penitência que aparenta paciência testemunhando nossa ruína.
Sóis em mim,
Cada mitocôndria;
Tanto por mim,
E uma conformidade corcunda...

Apostamos tudo
E a roleta do eterno deu
Duplo-zero!
Aprendemos a barbárie
E nossa cultura se contaminou
Com a verdade.

O hoje nunca nasceu.
Só sempre foi:
Isto que Tudo é:
Isto que Tudo sempre foi:
Isto Tudo.
E esfrego os olhos desapercebido das supernovas consequentes ao ato.

Outro sonho se finda
Silencioso.
Os portais da morte se fecharam
E despontou ácido
De aço
O abismo azul do céu sem idade.

Cilada

Entendi o segredo de eu mesmo:
A preguiça, fatal inimiga -
A que não deve renascer, Fênix inconveniente.

Pinheiro

Quando o rei nasceu
Lhe escreveram uma carta
Pedindo por Justiça.

Cervo
Servo
Cresceu
Apareceu.
Severo incandesceu
E apavorou todo conter de risos em sublimação.

A coroa é um totem
Jarretts, Coreas, Weckls - tantos ecos!...

Se espirrar, Saúde, heim, Vossa Alteza!

Pavimentou de diamantes as ruas do mundo
Assinou a Lei Áurea de libertação da liberdade
Conquistou tantos reinos
Unificou tantas pátrias
Deu de comer aos cães
Apacientou às mães
E
Tudo secreto
Sem dar ordens nem receber medalhas
Sem confete nem rubro carpete...

É o rei do mundo
Que no dia em que nasceu recebeu uma carta que pedia por Justiça.

Dizem
Que ele separa mares - o cajado um piano
Que torna água em vinho - a alma enchendo a taça
Que move montanhas - porquê não as enxerga!

O que vi
Mesmo
Foi que ele sabe olhar pra si Amando
E por isso há de reinar pelos séculos dos séculos.

Ponte
Cruel
Cruelíssima
Tanto quanto um superlativo
Superlativíssima.

Que é lar sem família?
Desafio sem desafio?
Ruiva sem recato?

Um cubo se materializa em Urano
Meu cubo
Minha lei
Um jejum em segredo
Minha desconfiança traída.

Belicoso
Rigoroso
Astuto e comodista
Este arrepio que já não faz mais chorar.
Sei que sou amado
Incompreendido
Poeta do balé cósmico -
Quem pode Entender?...

Mil lunações
Um hálito solar
E a água boricada ansiosa por arder nalgum corte.

Amenofobia

Dorme demais
Defunto
Pigarreia seco
Dança sem asas
Digere sem eretibilidade
Tão poucos minutos ao Sol...

Cantem os antepassados do porvir
Rejubilem-se os que não sabem da Eternidade.

A metrópole respira
Enxofre
Gasolina e pólvora
Grafite
A escravidão e a imprensa.

Há quem saiba dos problemas de Deus.
Há quem saiba dos problemas da comunicação com Deus.
Há?...
Ah, mas há! "Há!!!", se pode até vociferar:
Este sonho em verbo inconjugável
Este pavor de relance relutante de averiguação.
A escovinha pra tirar o excesso grudado no sanitário.
A adolescente que tanto amei morta de meningite aos dezoito.
Os porres de cachaça vagabunda que não mais arrebatam.
As flores no campo
Apanhadas
Pra uma cega -
E o pessoal que vive perto de rio limpo.

Mural vazio
Abismo preenchido
E as cantigas de Capoeira!

Missão
Esta
Este isto
Esse isso
Insosso
De que não posso escapar -
E que seria de mim amissionário?:
Um teimoso aspirante a mago
Uma criança que não se deixa amadurecer
Ou mais um Cristo em pessoa...

Tantos caminhos
A torto e a direito -
Sem falar da Esquerda!,
O caleidoscópio intracelular de nosso self
Infindáveis tramas de luz cor tranças respirantes
E este coração batendo
Batendo-batendo.

Antes tarado que político
Deprimido que ganhador da Mega-Sena!
Antes sonhador.

Esperançosamente

Fujo
Pras próximas vinte e quatro horas.
Faz um zilhão de anos que escrevi isto.
Será que o coelhinho da Duracell aguenta até o Apocalypse?

Em menos de cem minutos há de rugir o despertador
E a Babilônia fervilha em torno da alvorada.
Já estamos atrasados, percebe?
E tenho medo
Dos riscos de repetência burocratizável.

Ai, meu harém me faz uma falta...
E do curso de marinheiro, nem me fale!...
Eu e tanta percussão pós o horário permitido de manifestação.
Eu e tanto tesão
Divagando
Confidente
Da lua minguante
Do cão tibetano
Do leito espaçoso...

Ao menos ensinei-me a relaxar o queixo
A curtir a fomezinha do desesperado
A brincar...
A brincar!

A roupa do armário perdeu o charme
Os livros da estante o surrealismo.
Quero ser tão forte que meu quinto membro faça juz ao nome!
E cozinhar pra centenas - o cardápio eu quem faço
E dar banho nos pés dos leais
Só rir risos fraternais.

É certo:
Esta inadimplência kármica vai dar galho, heim!

Post scriptum:
Eu tenho cheiro.

ESTÓRICO