Heurísticas

Normal principiar-se confiante
Normal a posteriori desconfiar
Normal tornar-se descrente desconfiado.

Aos poucos
De pouco em pouco
Redescobre-se a maravilha duma ilusão perdida
O azedo faz-se de novo mel
A confiança retorna.

Já cri em deuses às pencas
Inventei minha própria igreja
Que tinha teto pra todos os santos de todas as eras
Querendo somar tudo de mais sagrada num só peito.

Mas o descompromisso divino se faz óbvio
E restam em mãos possibilidades restritas
Resta especialmente o desafio da revolução.

Indefinível pódio da beleza
Os melhores são os melhores quando somam-se
O amor é poderoso quando sabe a perversidade
E as latentes leis naturais maestros da irretocável orquestra que é a existência.

Siricutico

A vida vem espremida
Em bloquinhos de sokoban cósmico
Esquinas que desviamos pra não esborrachar.

A vida vem espremida como suco de limão na manhã
Rasgante exprimindo a ciência da tez da chibata
Sudoríporos em contagens regressivas digressivas
Calados na poesia demais real jasmins hortências.

Dobro cenhos punhos e ventre
Rasgo a mortalha sebenta
Adeus à hesitação do ato
Alegria por sobre todas as lágrimas.

Um corte
Um curto
Um entrecorte
Um susto!

É arguido que se ouça
Que se esperneie em alto proclamo
As novas razões pés pontes rolantes
Pelo seio macio da esfera gloriosa da certeza.

Pelo pouco que se tem em que se pode confabular
Pelos breves gestos que ora nos ornamos retocar
Os soluços sanguinolentos duma ânsia por mais sempre mais.

Pontas de dedos
Alheios
Tocando-se
Ao vento veloz
De amor espartano
Ascese ascencionada
O monstro seguia rolando
E as promessas das estradas
Faziam sede de água cristalina.

Salvamo-nos enquanto podemos
Enquanto durem as baterias
Ou as ceias de protocolos
Liberdade simbiótica dominatrix
Uma moléstia virática adocicante.

A paixão maturada é vinho de concórdia
É a suprema coincidência
Abraçada e amalgamada
Fronteira imaginária entre o acaso e o destino
Ao preço de tua superação de si
Em nome do elo natural
Frágil recompensa
Em nome do futuro do mundo
Os modos adequados.

Restarte

O chamado da solidão denuncia
Ácaros invisíveis atracando a sedução.

A borboleta rufla asas
Irrisória dispensável
Kodaks raros em extinção.

De quê viverá o mundo do futuro?
Quando as terras e as águas se tiverem esgotado?
De quê há de se sustentar o usurpador?
Quando a escola de milhões de anos Amazônia ruir?

Vejo homens híbridos
Uns meio máquina
Outros meio molusco
E crianças com olhos vermelhos como fogo
E dentes e garras de predador onças pintadas sapiens.

ESTÓRICO