Aguaí

Sob a sombra
Repousava
Ouvindo o rumor do mundo.

Da frondosa copa
Quedavam
Os frutos da vileza e da lealdade.

Tinha sede
Regateava
E a cascavel da sabedoria
Veio-lhe ter com sua opinião.

A serpente cantava
Sussurrava
E seu chocalho sibilava.

O som do sabor
Guismos
Abraçou moroso à dor.

Enfim mordeu a fruta
Hidratado de dulçor
Fez-se sério como pedra
E feliz como o pássaro verde.

Saciada a secura
Despertou
A verdade era cruel -

Do maligno viria o mel
Do venenoso o céu.

Plurálogo

Te pergunto,
meu caro amigo:


o que é que realmente possuímos
nesta vida?


passamos ao menos perto de possuir qualquer coisa
enquanto vivemos?


ou não será mais A Vida
que se possui a Si
despossuidamente,
e assim também a todos nós?...

Manhã D'Inverno D'Verão

Liberdade
Ah palavra mais cara
mais querida
e mais difícil de quitar.

Liberdade
Ah sorrateira fugaz
a palavra mais custosa
o gozo do bom paladar.

Quem dela prova
e quem dela se alimenta
quem dela conhece o dulçor

guerreia sempre
de novo e de novo
pela assim cunhada condição!

Quem dela sabe
da negra e aflita
Liberdade
Ah quem dela sabe jamais esquece!

Jamais esquece
os solavancos e tempestades
jamais esquece a turbulência suntuosa
dum amor profundo que se vê livre de coração...

Liberdade:

Esta palavra
custa caro
Mas vale
Ah se vale a lavra!

Caríssima libertinagem
salva-nos modesta
e nos abriga...

Nos dá de comer
e boas pernas
pra correr...

Arre Pendências!

Quando fazemos algo de errado,
dá pra pedir desculpas
(a não ser em caso de morte ou aleijamento...)

mas quando não fazemos,
não tem desculpa,
nem de si pra si...

A única redenção
é injetar coragem
e não deixar ela vazar
pelos poros do cotidiano!

Jambragem

As boas idéias
não são de ninguém -
são do ar...

mas quem as entoa
quem faz delas vez
leva o mérito todo.

Sonhatrix

Em mim
o além de mim
Os mil sonhos
dos mil sóis de mim!

Ai tudo que sou!
E tudo que não sou
que também faz parte de mim
Ai tudo que existe
e tudo que não existe que ainda faz parte de tudo!

Ah sonhos
quantos sonhos
que não cabem em mim

que não cabem
nessa infância eterna
nessa maldade inocente que não me escapa

Ah quantos sonhos
quantos sonhos sou
e quantos sonhos que não sou
ainda formam o coração pulsante do sonho que sou!

O coração ainda pulsa
e a vida é pra valer

o verme ainda rói
e a emoção faz doer

Quero o relâmpago
a tempestade de mim
a chuva que acalme este sol
este sol violeta e indigo em mim
Sol de todos os sóis que nunca serei

e que
ainda assim
são tudo que sou...

ESTÓRICO