Se existe porquê
para o que a gente sente
sei que ele é insondável...
Se existe um porquê
para cada ação cada som
se existe razão
lógica latente -
do nada que sei
sei que jamais saberei.
Se do silêncio
a súbita interrupção
Se da angústia
a crescente mansidão
se o que se sente
é ainda passível de senso
beijo mãos e dou graças
se o que se vê
é ainda possível imagem
dou graças e um bom abraço!
A Vida
pediu para ser vivida
Pressurosa
volátil
atraente como mulher
Com duros dedos
tricotadeira prodígia
a colecionar corações
A Vida
implorou ser vivida
Exigiu
bateu pé
acendeu velas em oração
Esperneou chorou
a Vida cruzou braços
esperançando ser vivida...
Pertador
Quem mandou
quem mandou pintar de desabafo
o quadro da poesia?
Quem mandou
dar tons tais de melancolia
esborraçar lamento e lamúria?
Quem disse
quem foi que disse
que a vida é dor e labuta -
quem foi o filho da puta?
Que envenenou
a infância
com peçonhas pessimistas
quem corrupto alarmista
quem envenenou de carência
a bibliografia do sossego
pingou is com lágrimas
fez porém de cada vírgula -
quem, quem?
Foi homem
bicho de braços
coisa pensante sobre dois pés,
ou será obra conjunta
magnânima bazófia
o encabresto universal? -
Chove sal sobre a lesma
o poeta rasga as roupas
deita o rosto ao chão.
Esta noite
é de dança
e da dança
virá a aurora.
quem mandou pintar de desabafo
o quadro da poesia?
Quem mandou
dar tons tais de melancolia
esborraçar lamento e lamúria?
Quem disse
quem foi que disse
que a vida é dor e labuta -
quem foi o filho da puta?
Que envenenou
a infância
com peçonhas pessimistas
quem corrupto alarmista
quem envenenou de carência
a bibliografia do sossego
pingou is com lágrimas
fez porém de cada vírgula -
quem, quem?
Foi homem
bicho de braços
coisa pensante sobre dois pés,
ou será obra conjunta
magnânima bazófia
o encabresto universal? -
Chove sal sobre a lesma
o poeta rasga as roupas
deita o rosto ao chão.
Esta noite
é de dança
e da dança
virá a aurora.
Primevoo
Regozijai! Ah o ar puro do supremo amor!
Pelas calçadas megalopáticas da capital
Caminham ainda de mãos atadas o poeta e sua musa
Musa transestelar
De poros e pensares escancarados
Modelo e manequim irretocável de fotógrafos amadores da Vila Mariana
No ponto de ônibus duas senhoras veem passar o casal
Que estanca circunspecto subitamente para um beijo ardente
Toca um telefone na loja defronte
Rasgam os motores vociferantes pela rua mas o ósculo divino não se incomoda
Sem nódoas bastardas ou cânticos de reprimenda
A gratidão galopa destroçando a mesmice do passeio paralelepípedico
Pascente beijo o emplastro de todo engodo
Cura de toda fria obliquidade das almas
Flores lumessenciais ornam a lentidão do compasso
Ópa trepa à pitangueira a guerreira da emoção!
Gostoso gostosinho!
É vivaz meio-dia inconsternado de horários veronis
A hora varonil funde ponteiros e descompassa a pressa...
Regozijai! Ah o tempo maravilhoso da paixão confessa!
Da paixão brutalmente sincera e perfeccionista!
Anunciam-me tempestades em cada esquina
Mas o que vejo é a promessa do arco-íris
A paciência veste coroa de maduras daturas
Uma transeunte nauseabunda cata cacas de seu cãozinho
Crianças absortas afagam filhotes felinos às prateleiras do petshop banal
Linhas de ônibus e baldeações confusas não conduzem a esta felicidade
Tal amor pertence às calçadas machucadas do bairro velho
Às camadas esquecidas do palimpsesto multimorfo
Há guerras e produções cinematográficas multimilionárias em andamento
Mas ali
A três passos do ponto aleatório e suas duas senhorinhas desmoralizadas
De frente ao comércio deserto cujo telefone ninguém atendeu
Ali o poeta e sua musa
Estancam o passo e se beijam
E o universo deixa de rodar
Os oceanos cessam o agitar
Pombos e pássaros sortidos congelam ao ar
Na palma da mão de Deus
Que diga-se de paragem nunca precisou de Nietzsche para amar
No fluxo freado em velocidade de milagre
O beijo estala molhado
Olhares de indescritível ternura se entrelaçam
O dia cai e o mundo se esvai e se repõe em duas dúzias de segundos
A meditação completada
Tornam abstratos ao trânsito
Pitando sal sagaz na rotina destemperada...
Regozijai! Ah o ar puro do supremo amor!
Abençoados artistas da emoção
Esculpindo e polindo o marmóreo magma do coração!
Contemplar a vida e a criação
Abraçar a Deus
Entregar-se à redenção.
É uma nova eternidade respirando afoita
A borboleta ri seu riso visceral
As senhoras relembram sonhos de outrora
O asfalto ruge e o sol atravessa o cinza da segunda-feira parametral...
Regozijai!
Mariando
O tempo é uma ilusão que não para.
Ilusão é a fome do ser pelo ser
pela vida
pelo testemunho cúmplice.
Onde houver vida há partilha.
Vida é um termo seco
reto e duro apesar da caligrafia
grosso além das letras.
Vida é um processo -
Cósmico.
Vida é um infinito de processos cósmicos.
Que, pelo bem, pelo mal
lembramos de encaixar nesta palavrita.
Amor, amizade.
São processos cósmicos
espiralando eternas interações
ciclos tiques e trejeitos
das danças galácticas
vida é um termo seco e duro
para traçar bordas ao inefável...
Ilusão é a fome do ser pelo ser
pela vida
pelo testemunho cúmplice.
Onde houver vida há partilha.
Vida é um termo seco
reto e duro apesar da caligrafia
grosso além das letras.
Vida é um processo -
Cósmico.
Vida é um infinito de processos cósmicos.
Que, pelo bem, pelo mal
lembramos de encaixar nesta palavrita.
Amor, amizade.
São processos cósmicos
espiralando eternas interações
ciclos tiques e trejeitos
das danças galácticas
vida é um termo seco e duro
para traçar bordas ao inefável...
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