Fatualidade

Perdido na neblina dum sonho
O ar frio narinas adentro - respirando a teia de aranha da água no ar
Venho cinzento
Barro cozido sem-graça, de barro de esquina qualquer, até reles
Mas, ah!, pronto ao artista atento
Com seus pincéis güaches óleos cosmologias.

O túnel nos abocanha
O Amanhã é pálido e cálido
Nunca se cala!
O requebrado é veloz
A sutileza atroz
Ama-se o pegajoso
Aplaude-se mais aos perdidos que aos achados
E todas as raízes se fundem numa só no âmago do Coração da Existência.

Ninguém pode duvidar de que
Num certo pontinho longínquo
No perfectamente calculado o vivente em zona mais improvável do cosmos
Um sábio vovô regue suas plantas na chuva
E chame por um cachorro que nunca existiu
Morando sozinho lá naquele pequeno planetinha que sabe-se-lá-o-nome...
Ele que nunca viu um cachorro poderia chamar por um cachorro? -
Lá no meio do nada, sozinho, do mesmo daonde ele mesmo surgiu?
Sem nunca ter visto cachorro, complica mesmo...

De certas coisas
Pode-se duvidar impiamente, por outro lado:
O riso descompassado do mórbido orgulhoso
A apreensão do vaidoso frente ao continuum-existentiales de que participa
O lábio torto do jovem insolente desprecavido descabido
Deus
Jesus Cristo
Friedrich Nietszche
O Papa
Michael Jackon e Madonna
Depois muitos outros como todo Led Zeppelin e The Doors... mesmo Kraftwerk!
Ah, bem, mas não vou enumerar tudo de que se pode duvidar, não duvidemos de que poderíamos duvidar de muita inutilidade, nos tomaria uma vida toda - ou, quem sabe, já nos toma?

Ah, mas nem todos desconhecem o compasso frio e inerte da espiral da grama mundo adentro
Há, sim, Esperança
E ela irradia dadaísta em cada emprego de vontade
Nossas amizades meras certezas infinitamente transmutantes.

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ESTÓRICO