Trisco

Caçando insetos vampiros
Insone trabalhando a extinção do sanguessuga
De luzes acesas contra paredes brancas pra bem ver.

O cômodo ainda incômodo
Pelos zumbidos grossos abusados
Vai se alimpando aos cheios tapas
Escorre sangue de si nas palmas vitoriosas.

Por pouco escapa um e outro
Mas a tenaz perseverança triunfa
No breu calado enfim livre das agulhas
No sono tranquilo desbragado dos parasitas
Cemitério de mosquitos em fronhas e lençóis.

Amaino as coceiras da batalha
Noite a noite uma nova guerrilha
Alargando as fronteiras da dedicação
Investindo sacrifícios de tempo e energia
Botando lenha óleo e resina em gastura
Que toda luz precisa seu combustível.

Vencemos a tempestade as marés
Sem xingos sem raiva no afã
As quedas endireitando
Coluna posta rija
Em capote leal.

E vestimo-nos mui bem
Delicada moda de cacau
Esbaforindo os vaidosos
Em humildade refinada.

Jecas sabidos de terra roxa
Reciclando revoltas instantâneas
Confiança familiar abrindo horizontes.

Gemofagia

Persigo lúcido
Sonhos diamante.

A força é que é a beleza
Só a instigância nos une.

Mastigo safiras incompreensível
Santo abençoando gratuitamente
Prematura conquista do plasma rubi de si
Fertilizante de preciosidades bem mastigadas.

Esculpir o instrumento que é o espírito
Lapidar a rocha tenra que é o delta ao mar
Batendo água mole em pedra dura até furar.

Destilo milênios
Nos arrepios duma noite de primavera
À beira do éden
Fazendo silêncio pra bem captar o mote
Coração é meu dote.

Que é que me faz querer chorar?
Que é isto do passado esconjurado que me faz pensar?
Por que tanta mentira cobardia imprudência?

Cedo ou tarde
Toda família se reúne
Do outro lado do vento
Descansando as dores da missão.

Cedo ou tarde
Todo revés se revela
Todo carinho se interpela
Na trova suada da labuta
Ante impaciência à estulta.

Quiseram não crescer
Quiseram não mudar
Partiram o ciclo o transformar
Recalques insólitos da rebeldia
Preferiram não se importar
Maldisseram ao que queria curar.

Mas o dom vence
E não há sofrer antigo que a nova alegria não estrangule.

Palito dentes sastifeito
Tropeçando só pelo efeito
Remo surfo velejo com respeito
Vem vai rima estranha sem defeito.

O grito lancina
Rasga o ódio
E desperto outra vez lúdico
Vivo hoje pelo sonho de amanhã
É só isto que desejo
Seguir a senda do onírico
Que com tanto amor se faz empírico.

Quebraponto

Ultimatus
Veritade circense
A alegria é nosso compromisso.

Nossa obrigação
Dos condores
Por sobre himalaias
Pra com o mundo
Pra com a vida
Supremo desafio
O pulso incita ao ato
A natureza exige a paz.

A responsabilidade
É a felicidade.

Dívida pra com o vácuo
Penhor de antimatérias
A satisfação é o preço da união
Só bem é que se vê qualquer bem.

Não há porém cobrador
O sentimento vem de graça
Dádiva inominável de cada hálito.

Seje dos que esfregam as próprias costas
Do que se lança à milanesa às frigideiras
Seje dos que ansejam
Sem postergos
Sem andrajos
Seje calmo.

Calma imensa rotunda lagoa
Espiralando vapores às nuvens
Estreitando-se trovões em tempestades
Águas sacras dando voltas em torno do globo.

A terra é toda num rio
De pontes prismáticas
Um sustenta o outro
E o amor é o ouro.

Sedento do futuro longínquo
Abastado do passado esquecido
Somos espórulos cósmicos
Germinando vênuses e centauros
Lagartixas polidáctilas informatizadas
Astrodelismos livrertários.

Xenofonia

Lobo negro espantado
Em beco suburbano de paralelepípedos
Me espiou.

Farejava miticamente
Às bordas da avenida jabaquara
Encoleirado e cheio de cólera
Por algum restume de gentama.

Brilho ancião e estrangeiro
Nos olhos perdidos do canino
Temendo a extinção de todos bichos
Sonhando lâminas aniquiladoras
Cavalgando com unicórnios.

ESTÓRICO