Afinal

Tem vezes que uma coisa acaba
Bem quando parecia que estava continuando.

Tem vezes que uma coisa continua
Bem quando parecia que já estava pra acabar.

Meu fim é em vida
É a finalidade
É afinal e afinado.

E enquanto isso de existir eu duro pra sempre
Propósito eterno consumado no caos da origem
Enquanto isso de estar vivo eu sou um sem fim
Liberdade imposta sagrada no amor em vertigem.

Primaveracidade

Eia público bom vivã
Venho exclamar aos sete ventos
Tantos nobres intentos
Fazer florir as primaveras
Das novas eras ainda porvir.

Semeando amanhãs
Escapando das febres terçãs
Somos a meiga primavera
Primeira verdade que renasce
Bela prima do verão.

Engatando quintas marchas
Nos tráfegos aéreos da alegria
Só há trânsito de concórdias
Semáforos de azaléias e margaridas
Os amarelos dizem atenção
Cuidado à natureza em ação.

Somos ainda e pra sempre crianças
Crescendo de dentro pra fora de nós mesmos
Abrimos os braços à estação
Sintonizados nas frequências da emoção
É chegado tempo de partilha
Novos começos pra matilha
De nossas cachorradas tão leais
Transbordando prazeres em mananciais.

Quem nos cura se aprochegue
Inspire o hálito de aconchego
Nessa irmandade tão suada
Vamos de mãos dadas à estrada
Que nos leve leves às alturas do azul
Que nos pouse suaves aos vermelhos da paixão
Este verde nos sustente de cadências no bailão
Anunciamos primaveras prevendo alegria no coração.

E seguimos densas sendas
Trilhas espinhentas no dia a dia
Às vezes nos cortamos mas há boas enfermeiras
Há sempre belas ciências que nos resolvem certeiras.

E vamos de carona aos vendavais
Sementes de risos voando em altos astrais
Caímos em áfricas e chinas desconhecidas
Resgatando antigas artes esquecidas
Bailamos intensos na meditação
Quietude que é também gostosa falação.

Inventamos o futuro imaginando nossos filhos
Enteados primos e amigos
Que nos dêem a mão quando falta o pão
Que nos abracem forte fazendo aquela estralação
Vamos humildes e bonitos
Disfarçando as lágrimas que vira chuva
Vamos dando cor e muita certa noção.

E as irmandades desabrocham
Nas florestas de frutas escondidas
Representamos mitos perdidos
Nos aliando pelas rimas da razão.

Peço aos atentos compaixão
Um pouco de braveza e muita retidão
Peço aos ouvintes muita força de vontade
E também que por favor fiquem muito à vontade
Cá estamos vos servindo doces nomes que amamentam
Leite de fé cheio de luz
Vamos nascer de novo de nós mesmos
Que este ar transparente seja nosso ventre
Vamos nos parir de nós de nossa união
Parto esperto sem dor e sim comoção
Vamos sorrir às novas vidas que nos aguardam a lição.

O mundo quer mudança positiva
Quer vivas e alegres terapias
O mundo quer aprender a bendizer
Cuidar dos matos e singelamente benzer
O mundo quer nossos sonhos mais longínquos
Que eles são a solução
Quer um pouco de loucura também como não?

E vos pergunto atentamente
Peço fechem os olhos e respirem somente
Peço silêncio o quanto se puder
Pra lhes indagar uma novidade que nos faça crescer
E a grande pergunta é
Permites a ti mesmo morrer pra pela vida renascer?

Não fique nervoso
É morte imaginária
É como o rasante da canária
Que beberica do mamoeiro
É uma morte de todos os erros
Que deixe ressurgir os lindos ansejos
Que nos permita perdoar a nós mesmos
As atitudes incabidas que nos permitimos.

Concede ao próximo um olhar tranquilo
Se não por mim nem por ti
Faz pelas crianças que ainda não chegaram
Faz pelas amazônias ainda preservadas
Tua tranquilidade é teu maior bem
Tenha certeza que amor vale mais que qualquer vintém.

Caiu minha tristeza ao solo
É um pranto fértil dando novo ânimo
Neste jardim tão florido de gente firme
Vamos nos erguendo como troncos ao futuro
Esta primavera é a primeira verdade
É prima e vera
E depois vem o verão
Nosso forte irmão varão
Carpinando as hortas aromáticas
Fazendo suco de polpas selvagens
Vamos ser também um pouco índios
Cantando alto os deuses sem nome
Rogando ao cosmos pela harmonia
Que mesmo que não se entenda está lá
Harmonia estendida pra lá de bagdá
Nossas diferenças são só os medos de agradar.

Não tenha vergonha nem culpa alguma
É o que vim lhes transmitir
Neste portal de tempo eterno
Da nova estação que nos vem abraçar
Tudo que há é saúde e perfeição
Basta regar estudar e cuidar
Pra que ninguém fique sem a refeição.

E pra despedir e completar
Vou me tornar uma nuvem de tempestade
Roxa lilás e violeta a me esgazear
Vou chover pétalas de rosas que os deuses estão a despejar
Em ternura afago e carinho querem nos afogar
Vamos dar as mãos no silêncio confortável
Aceitando tudo que foi como foi e abrindo os olhos pro que vem a seguir
Que uma coisa vos garanto com toda felicidade que me cabe no peito
Pra quem ama está tudo certo e o que vem depois é comunhão com todo efeito.

Um breque de lucidez
O lar é o aonde o coração está.

A família é uma só
Ademais são as ciências aplicadas
E aguardar abdução dos antigos deuses astronautas.

A profecia
É que a vida estará imanente
Rainha indestronável de todos sentidos
Ígnea plásmica e dócil
Trovejando perfa morosa.

Sopro humano mundano
Terral esplêndido
Baleias cantando.

Pubicórneos

Num belo dia enfim me dei conta
De que a verdadeira independência
Não era a material mas sim a psicológica
Foi um arcoíris justificando os céus nublados.

Metronomia

Fraseados e convenções do espírito
Polirrítmos em progressões geométricas
Vou brincando de florear e sincopar
Alterno bases no esforço por relembrar
As tonalidades interinas ao sabor da ginga.

Faço música como danço
Punhos e tornozelos prolixos
À direita precisão e perseverança
À esquerda paciência e elegância
No foco único do tiquetaque
Em marés de alegria sônica
Conto estórias de beiços selados.

As emoções vão se inventando
Do compasso aprendo tudo
Cada dia um novo dia um novo timbre
Valso lâminas de ximbaus e ataques
Conduzindo a carroça de meu destino.

Deslizando à superfície do oceano
Tangenciando a grande esfera do mundo
Em manulações naturais vez ou outra um mergulho
Os remos da nau percussiva girolam cadências secretas.

O contraste é a chave
Entre grave e agudo
Luz e escuro
Explosão e quietude
Nas oscilações temporais
Alça solo vôo a águia
Paira com as brisas altaneiras
Por modulações métricas perfeitas.

Quero sempre o trabalho na cozinha
Nosso caldo fumegante de revelações
Grandes descobertas que fazemos
Traduzindo em gestos a abstração
Fundindo em fartura a imaginação.

ESTÓRICO