Trintetrês

Sou um amigo
De quem se esqueceriam
No instante breve e fugidio em que eu de mim mesmo me esquecia
Estupefato por tamanha ignorância
Conectado a tudo por cabos e membranas
Louco ao troar do sino que se dissipa.

Trinta e três, trinta-e-três, trintetrês...

A madrugada desperta aliviava-se no canto da cotovia
Tempestades solares nos noticiários
Ácido lisérgico e hemoglobinas
E dobrada a esquina de mim mesmo, custei a prestar a devida atenção à minha respiração...

Buscamos no mito a realidade
E ela se esbalda de nós, nos atirando baldes de tempo,
Tão infinitamente impossível
Tão afinal real -
E ao espelho me achei um roto maltratado...

Só que me resta minha labuta
Os compromissos d'amanhã
Os planos todos
Curto médio longo prazo -
E o longuíssimo?, pergunta afoito o superlativo
Tão nobre em sua benevolência paterna.
Me restam todas as intricâncias fotografáveis dos corações de minhas canções favoritas
As resultantes dos bailes de meu espírito
A imensa fornalha onde arde minha alegria.
Ah, se não impiamente nos arrebatasse tão real a Realidade...

Depois
A vontade de fazer xixi
Saber que tem que ir pra cama
Saber que tem que se levantar pros compromissos d'amanhã
E então imaginar um zilhão de seres joviais e faladores -
Não como no meu bairro a esta excusa hora do breu, que só de vez em nunca passa a Kombi entregando os jornais.
E de novo a respiração, e saber que ainda não fiz xixi
E entender que a música continua em nossas cabeças enquanto fizermos força pra isso.
Talvez eu seja um mago cínico afogado em antenas parabólicas
E lembrei de que se abrir mui bem os olhos, o mundo parece mais brilhante, e enfim
Quem sabe, meu mundo possa me parecer tão brilhante quanto deve ser.
Quem sabe eu aprenda a orar, e,... ah, sim, já lembrei do trabalho!

A Babilonia é o que é
Curta e grossa
E eu sou quem sou
Curto e grosso.

Respiremos então o cheiro da grama e da terra que reside sob nossas peles
Lembremo-nos, sempre respirando - fluxo contrafluxo
De que somos barro eletrizado
Borboleta de vinte dedos
Caipirice preconceito-free!
E sshhhhhhhh!!!!!!, que já passam das dez há tempos!
Quietinho, júnior, que a essa hora já cantam os galos e estão de pé o povo que faz café e bolo de rua pro povo.
Eh, povaréu! - Onde vai parar?...

Ah, creio que não há de parar... difícil parar...
Coisa teimosa,
Tão dilatada, quase pavorosa
Ai, essa juventude de aço e concreto... vamos fugir pra perto de um rio...
Nos fartar do tempo que doamos
Adormecer em meio às consequencias inevitáveis de nossas tentativas diárias de realizarmos o sonho de uma Vida.
Se o Sol não fosse dourado, eu não duvidaria que a Morte é a invenção mais bela.
Bom dia, e Amém.

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