Lucidez

O amor é a ardência
O passo de dança mudo
Os interruptores ligados.

O amor é foco sutil
Que faz mudar toda vida
É a liberdade doce de despertar
A constância da luz que aquieta
A atrocidade estelar que regenera.

O amor é a fome do saciado
É a maria das dores que quer ver todos em harmonia
Que quer sentir paz pra sempre
Mas uma paz louca sacana e safada deslumbrada.

O amor é o ódio do desgastado
É a calma alerta do confiante
A rubrica divina inconfundível.

O amor é a fé cética do maturado
Sobriedade deslanchante do dançante
É a coragem séria do pirofagista
Riso estranho solto do que vive de arte e amizade
É a batucada incendiada interrompida pela intolerância
É o pesadelo sangrento que ensina a reciprocidade.

O amor é a interdependência universal
É a ponte viva entre tudo que é vivo
É a inteligência do instinto degolador
As mãos calosas do gênio escultor
A boca seca do maratonista vencedor.

O amor é o bom futuro partilhado
Frutos da colheita unificada
É a pimenta e a banana no arroz com fejão
É todo beijo dado em hora e lugar certo
É a tristeza inelutável do espontâneo.

O amor é o brilho no olhar
É a cumplicidade de todos os sorrisos
Núcleo pulsante de toda boa emoção.

Cafuné

O jovem calado
De ouvidos tapados
Ouvia apenas os baques graves dos passos que andava
Às vezes parado
Num momento tranqüilo
Ouvia o tambor do coração e a ventania na cabeça oca
Em seu trajeto entre o rio e a música
Ouvia o sangue correr e a mente rutilar
Afogava a sede em cloro imperdoável
E tornava à ardência da cadência
Ouvia o silêncio da música
O perfeito silêncio criativo aflorando em mãos musicais.

O hálito sussurrava envolto em si
Uma psicologia orgânica a si mesmo
Problematizava-se pelo prazer de ver-se como solução
Dobrava as esquinas das indagações
Pelo estardalhaço do sucesso lógico
Fazendo folclore ultrajante além de deuses e demônios
Além de crenças em oposições de valores
O hálito era um cobrador indecoroso aborrecendo-se
Um habitante impacientando-se do desleixo da morada
Um descaso juvenil satisfazendo-se em ascese profana.

As cores empurrando o mundo pra dentro dos poros
O ar cheio d’água inundando o olhar presente
Plasma eufórico a desfibrilar a tensa farsa
A loucura rangia rancores
E o amor sempre terminava por resumir os nomes de todas boas coisas na vida.

Inesperâncias

Vai
Desgarra-te!

Desaflige-se presto
Siga o sonho
Jamais desista
Persista na ilusão
No erro da alegria.

A vida é curta
O mundo é tão grande
Mas não lamentes
Diga sim
Desfrute o poucado que resta
É assim pra tudo e todos
Melhor é não estar apaixonado
É viver a certeza neutra
Duma morte pagã.

Sem pompas
Anti-herói patético
Siga o sonho
Esqueça os limites
Permita-se sua dose de veneno e mistério
Abrace ainda o horror que te acalenta
Seja forte
Abra-se ainda
O medo que pulsa implica vida
A dor que lateja implica vida.

Avante
Sorria jovem!

Sorria
É tudo que tens
Gesto espiritual libertário
Sorria acima de si mesmo
Que cada um muito pouco é
Mas tudo em si é tanto que faz cada um valer.

Os amores vêm e vão como florações e primaveras
E em teu seio o palpitar do coração comociona
O ir e vir do alento do hálito breve
Toma conta de teu ritmo bom vivã vigia-te
Espaça bem teus passos
Cuida tornar-te pedra e mata a sede aos beijos.

Não há consolo ao atormentado
Não há salvação ao convicto
E o erro será sempre apenas interpretação pessimista
E a falta será sempre apenas esclerose e cobardia
Que a perfeição é imanente
E o fluxo é eterno.

Adorna-te colorido
Vaidoso em tua discórdia
Glorifica-te por tua insônia
Por teu ódio tua ganância
Ah pérfido sonhador
Ah santo tardio podador cruel
Entrega-te ao suplício
Mas em silêncio
Desfaz-te em angústia
Mas em solidão
Pra que sejas águia em renascimento
Pra que sejas maçã na boca da serpente.

A vida está escondida
Secreta pra nós
Encoberta pelas estórias do mundo
A vida ardente
É muda
Está reclusa na mudez -
Faz-te mudo então bailarino
Honra teu vício e cala-te
Cala-te e não te arrependa de nada!

Cala-te e não odeies para trás
Odeie para frente odeie a si mesmo agora destrua-te a ti mesmo agora
Mas não odeies para trás.

Vê surgir no horizonte longínquo
Aquilo a que chamais tua esperança
Aquilo indefinível e inimaginável
Que quereis cunhar tua altíssima fé -
Vislumbra na distância indifirente
No toque frio da platina negra do vazio
O devir imprevisível que te faça suspirar
O futuro incerto do humano que queremos semear.

Se fizeste tua parte
Se te couberam grandes feitos
Se foste seta indicadora
Ou suíno na lama -
Aceita-te assim como foste e como és
É o mínimo que fazes.

Encara tua putrefa face
Admite teus pestilentos estanques
E se tens tempo ainda
Sorri e faz justiça ao passado
Sorri e abre a janela do espírito
Pra que ainda uma vez banhe-te a luz sutil
Pra que ainda uma vez sinta dentro de ti o inconfundível instante corrente.

O tempo corre solto
Corcel furioso indomável
Pra tu e pra tudo
E por isso digo-te outra vez
Sorri
E corre
Pra que não esfries desatento
Pra que o vento de tua alma bafeje sempre quente.

Vai
E não te esquece jamais
Que de tudo que fizer não há recompensa senão mais vida na vida
Depois de toda obra pronta todo estudo feito
Não hás de tirar de teu esforço nada senão tua mesma biografia.

Lumenescência

Verdade alumiadora
Vôo de ave canora -
Que são teus segredos?
Que és teu que chamas teus segredos?
É o que proponho.

Quero ler um mesmo livro vinte vezes
Pra poder carregá-lo em mim
Ó bela arte decoreba
Imagens em que me fixo mais e menos profundamente
Transes em que me permito adentrar
Busco a inocência inerente
A inescapável inocência de que tudo que há.

E mais que cifrar em minh'alma prediletas
Mais que ter merecidamente forjado um relicário de sonhos marfim
Fui além e quis o silêncio
Quis o pior egoísmo
Mago ensandecido comandando uma caridade estrangeira
Quis ser mãe
Pai e mãe de si
Quis ser o juiz e o carrasco
E o silêncio refulgia toda impedância inextrincável
Enfim cansei de resistir
Aceitei o descontrole
A inevitável irresponsabilidade.

Quis amar
Sim quis amar a tudo que não podia evitar
E em fé desvairada cingira-se extramundos élficos agartas inesquecíveis.

Ninguém podia explicar
Era isto que o confortava
Via no melhor a cristalina capacidade de explicar que o essencial não se devia explicar
Exatamente por não se poder explicá-lo -
E fazia-se ouvir
Ah ohm sagrado
Marés de vida que correm em meu sangue
Tantos mundos este em que vivo
Tantas vidas belas com que convivo
E a isto tudo que dou nomes e verbos e gostos
Este mundinho de letras que chega a me fazer pranto
Esquinas sideradas duma crônica íntima
Sou as estradas que percorri
Distâncias que galgos aos pés ou aos vôos.

E ah como voamos
Mal o notamos
Sóbrio braseiro
Araras floridas
Em lunações contando dias
Ai loucos que somos
Somando em números as vivências
Prevendo em tabelas os partos e vacinas
Ai também pródigo besta que sou
Nego isto e aquilo mas não nego a realidade
Ou enfim o preconceito do que se chame real
A ilusão do que generifique substância ação e composição
Afirmo este que quer que seja
Que não sei bem o que seja
Mas que inequivocadamente afirmo que é
Pois sou
Seje como seje
Infindas partes indivisíveis duma única coisa indefinível
Ou individuum mortalis solertis urbanus
Etimologia sacrílega à tôa
Ah como voamos
E mal o notamos
Bastardos prolixos que somos
De diafragmas falidos e coragens mornas
Ressequidos de foligens ratos perdidos que somos
Nós gradecidamente os esperançosos.

Duvidosos e desconfiados
Mas também firmes confiantes
Avesso das falácias de valores comuns
Cousa douda sem fundo
Desbundo da imensidade cósmica estriquinante
E tudo num feixe azul e rosa de atepê
Ou prâna
Fique o cardápio de lâmpadas aos sequiosos
Somos vagalumes bem legais
Na ilegalidade em certos ângulos
Mas enfim os caras bem legais de hoje em dia.

Psicodelia turva
Passadismos pop e ruminares de contraculturas
Nosso século novo esbalda de horror
E também estrupa sem matar -
E na sorte sem nome
Redenção desinteressada
De gírias roucas dialetos trouxas
De alegrias recondidas nas alegrias desconhecidas
Que partilhamos como segredos
Letras feias e bonitas que cunhamos coisa nossa
E que não são senão propriedade irregovável do frio parado do negrume vivo do estender-se universal.

O supremo desenrolar
Naturalidades vivazes
Fartamo-nos sagazes de amizade séria
Séria tensa e rígida
Estrondosamente pétria e alegre em sua tensão
A gargalhada desgovernada entre párias
Pondo a dor junto com o gozo puro da partilha entre leais
Fazenho vinho em água
Pra curar os descabidos
Fazendo aço da pedra
Pra circunscrever a espada na insistência da atenção
Fazer dum ponto de leito de terra
A Arma Secreta
Sabre de luz mundana
Ceifando sonhos a valsar
Foice abrupta da amnésia.

Desambiguações

Tudo são flores
Elas e eles são flores
Tudo que é vivo são flores.

Vida em qualidade de pedra e água
Vida em característica de carbono composto
A vida é tudo ao mesmo tempo
Por isso tudo é vivo -
Que me discerne da pedra e da água?
Em se falando de técnicas excrusive
Que matéria que me forma que é tão diversa da do ar?

A escolha o controle
A inteligência humana
Quanta pompa não se faz entorno de tais nomes
Sisudez sem graça
Geral quer afirmar que é livre que é justo que pensa
Ai galera desencana que a vida engana.

Ouço pela planta dos pés
Danço abanando as orelhas
Mãos adentro o fio o lume a nutrição quântica sônica.

Vejo com os olhos
Mas olho com o espírito
Foco infinitesimal
A grande sinapse da alegria
Nervos de aço coração tumescido
Um grande desprezo pra limpar o pensamento
Bom desdém que permite valsar em pleno.

Sorte danada que tenho
Redescobri a missão da cura
O bailado transmutador
Reinventei minha ilusão
Diabo sortudo que sou
Nenhuma metafísica me pariu
Minha pátria é o sal do mar
Minha salvação são os açúcares por aí.

Tudo são flores
E tenho ouvidos nos pés.

A alvorada canta
Alegria é orgia
Força é frequência orgástica
Dançar é transar com o cosmos todo duma vez.

Sou sexo
Puro instinto de violação dominação
Sujeito porém a algo estranho e volátil
Que aqui agora convém cunhar minha sensibilidade -
Também porquê pouco vale um grande poder
Sem os freios lógicos da meditação
Pouco vale a suprema saúde
Se não regida pelo pensador sutil.

Dizem por aí tesão paixão amor eterno
Falam de compromissos burrocráticos -
Tudo é sexo
E o homem anda broxa porquê quer gozar com CNPJ
Quer prole mas só com firma reconhecida em cartório
E nem me faço pensar no conceito atual de herança familiar céus me livrem!

Minha língua sibila inquieta
Dentro da boca molhada
O paladar anseia a sopa da musa
E tudo é prazer e riso e leveza em mim
Minha tristeza estúpida aos poucos expurgo de mim
Melancolias nostalgias se me desapeguem
Tudo é prazer secreto
Nas trocas de olhares
Apertos de mãos tranquilos
Sorrisos sinceros mimetizando a soltura
Tudo é prazer em evolução
Pequenos detalhes de momentos
Amizades honestas e ocasos
Esmagamos o grande dragão do tédio
Se se dá ao trabalho de entrenimento
Se se põe ao esforço de apreciar o que há.

A perfeição
Incógnita da razão terrena
Ah arteira perfeição
Caos insípido e incólume
Te conheço e sei de tua inconsciência
Ah perfeita revelação
A origem é desordem é guerra
E o destino é o quando a serpente morde o próprio rabo.

A alvorada canta
Sua lira são todas as gerações
Sua harmonia é serem inseparáveis todas as cores.

Mafagafinhês

Treva trovão
Treta entravada torta retorcida
Trova viva
Teza saliva
Lívida plácida calma alma.

Golfinhos guinguilham
Cegos encestam espantos
Sonhos enquantos encantos
Sóis cantos sons tantos
Derradeiro certeiro eros.

Sinuosa sola suando sina
Sapatilhas milhas a milhas
Enfilas sofias fonias cigarros
Escarros descasos pleonasmos
Tiquetaque juque no batuque.

Perfume encardume
Lagarta longeva
Entregue estrovengo
Estroncha concha
Felaciação folião.

Só samba santa
Samba enseba sambalança
Dança trança lança mansa
Sambalada sambalambada
Sussa assim suave.

Grenha grave
Preto empenteio
Lógus lunares
Cá aqui lá acolá
Sim saravá.

Rubra rinha ranço arroto
Lenta luta lenha alento
Broca bronha bruma embrisa
Dias deides dunas dedos
Zôo zoeira zonzidão.

Trim traz trem truão
Dinguedongue dengo gozo
Conformes formas focos
Exauros restauros faros
Virginofilias vaginofagias.

Camaleonice

Agito
Pra longe toda decepção
Sentido bem sentido
Vou cair na gandaia!

Travando na pegada
Alinhando mil dominós
Revolução à siciliana.

Inventando nova máfia
Amargando cefalexina
O perículo da cutícula
Padrinhos do destempado
Sebo embaçado de marofa.

As bases rolam
Se repetem
A levada surfa
E o ganzá do zepelim avoa
Timtim por timtim
Pancada
Na boa.

O que você tem
E que não tem pra ninguém
Não é segredo mas eu te conto
É o brilho no teu olhar
A vida no teu sorriso
E a liberdade no teu coração.

Bacolejo

Era-lhe estranho e engraçado
A agonia alegre de sonhar acordado
Surrealizava.

Era-lhe obtusamente impostergável a revolta
E depois isto soava-lhe estranho e engraçado
Negando o fato de tanto ódio em sua raiz
Era-lhe misterioso perceber a diversão nascida daquilo
Tudo nascera duma revolta duma negação enfim percebeu
Lembrou-se da hipnose que instaurara em si mesmo
Estalou dedos
Disse uma palavra chave -
Yggdrasil -
E os cadeados se abriam.

E do perigoso não
Do ódio pra com o tudo de onde viera
Dali se ergueu escadaria de mármore rosa
Às alturas e distâncias que convencionou chamar sua cultura
Ai pequenez humana
Daquela revolta daquela liberação violenta
Desabrochara a flôr
Em flôr o coração
A emoção
Solta
Coqueiral sacolejento em Boipebas.

Então dera-se conta
Vinha-lhe sempre tão naturalmente
As coisas forçosamente faziam sentido
Iam pra todos os lados ao mesmo tempo isto notava-se
Mas este destino sem alvo viagem incrível
Ah ele voava alto como a infância que nunca se esqueceu de si
Como o artista que põe o máximo de si em sua obra
E pode ver a carne alquebrar-se
Pois que o melhor de si ficara
Fique como fique
Se é que fica
Mas no momento que foi
Ah sim
Aquilo
Se possivelmente revivido ou sonhado denovo
Aquela lembrança flutua
Na goiabada fumegante
Escondida nos repiques do sol
Talvez até pudesse-se ir além
E aprovar tal descompasso
Sanando tudo dizendo que sim
Denovo sim
No momento em que aquilo há -
Aquilo que é isto
Isto aqui
Bem isto sim meu cólo
Meus braços coração
Meu azul
Que não é meu em verdade
Nada é meu
Não quero ser dono de nada
E então sou dono da maior liberdade.

Ainda contava centavos
Seguia o sonho já sem fantasiar tanto
A gravidade duma rotina atraente
Hábito em desmando numa rotina inédita
O grande calor de súbito surgia
Multiplicamos as apostas
Enfim a infame e correta devoção
Ritos de amor entre espíritos musicais.

A vida ainda empurrava-lhe a cabeça
Pra baixo
Pro chão
O chão sim o chão estúpida
Coisa esta que tem também outro nome senão mãe terra!

Do chão não passa né?
Também não se sonha bem senão mundanamente.

Poderia chamar-lhes motivos
Razões circunstâncias
Pode ser só perfeição inevitável
O que quer que seja
Esta ilusão de movimento dentro do eterno pétrio
Cenas que pensamos virem antes e depois
Nomes que pensamos nos fazer lembrar de coisas variegadas
Ai que é pensar que é julgar -
Bizarrices interrompantes
Babilônia fede
Simplificando.

Postura
Respiração
Concentração.

Ah se fosse assim mesmo tão simples!
Ah ingênuo queres apequenar a face da vida!

Sim me entendo
Não há como desenhar em letras minha mesma face
E a esperança que fica
É que nas entressílabas nas linhas tortas
Fique clara a intenção
Deste sorriso.

Favoritas

O dia é sempre novo
As cores sempre frescas
A fonte jorra além do infinito.

Giro o mundo em pombagira
Baião ancião mesopotâmico
Em cada instante um semblante
Aos joelhos força lancinante
Ao coração sina alucinante.

Fujo da rima pra alcançar silêncio
Me esqueço os mimos pra vislumbrar o momento
Amigos loucos parasitas e simbiontes
Quem muito tem e muito dá fica só com o dedo pra chupar.

No que vão gostando de mim é quando tenho de ir embora
Sem mistério descarado tão óbvio que faz afugentar
Sou solidão pacificada na implosão do ritmo
Sou brisa quente fazendo suíngue às platinadas asas
Murmúrio singelo da boa grama sou a árvore chorando sem testemunhas.

A fogueira queima
Arde e nos une.

Nos entornos da chama
Bandeiras de amor tremeluzem impasses à tecnosfera
Espíritos destros e fugazes deitam ao chão o grande medo
Os piratas do violeta navegam.

Tomo a linha de meu raciocínio e faço-lhe um macramê bizonho
Nós cegos infindos desenhando a mandala do humor
Trançado de nossa paixão gaiana.

A luta pela vida
Há sim os que lutam tal luta
E não me quero esquecer disto
Ahow Ahow Xivas Da Silva! -
E quero ver neguinho me dizer que esta luta não vale o suor e o sangue.

Ode Femonemal

Cãimbra em sátira
Rochedos pontiagudos rasgam a nau
Na tormenta do fim dos credos
Enquanto a alvorada resplandece detrás de nossos cabelos
Um sopro obtuso em lá maior
Afinação frágil de nossa organicidade
Vivacidade refulgente e uma fúria iconoclasta
Fazendo amar o passado e obrar o futuro
Máquina humana fazedoura de sonhos ternos
Indústria de alegria mambembe sócios anônimos
Louvadeus aquele bichinho tão bonito e estranho que lá na China come-se frito apimentado
Rastafarái é como se diz hoje em dia.

Tudo nosso e nada nosso
E vâmo que vâmo é ou não é?

Na paz da luz violeta
Cruz sem pregos
Via cruxiz do bailado
O xis da questão sempre o nó da ginga
Fremem os pés
Címbalos altissonantes
Ânsias e sãnhas de jejum
Fractal de bactérias autodigerintes
Magas patalógicas
E me esqueçam as patologias
Vou seguir ventos de elfos
Lançar um Raul na vitrola pra espevitar.

Quanto me ocorre em minhas andanças
Sorrisos sorrateiros
Tantos doudos passeios
Sou lebre libre em boa Cuba
Cercado de despotismo trânsfuga
Açoite são
Vertigem abrupta
Ratoeira escondida em fundí francês
Belas letras para compensar sentimentos obscuros
Sou o gosto amargo do vômito disfarçado pela grosseria do flúor
Sou minha merda sagrada em espirais perfeitas mente adentro kundalini afora
Sou um calango com sangue de ouro e ossos de ônix negra
Sou o sertão a áfrica esfamaida o ódio mordaz pela besta que em nós habita
Sou um pranto que escorre fora de controle nos entretempos dos espirros sob o sol
Sou a nobre escola do sorrir
Onde leciona-se dos craços falhos
Que se perderam na ilusão dos sufixos e predicados
Que se abandonaram
Se esqueceram da magia violentados eternamente pela desnaturalização dos malentendidos sujeitos e objetos.

A vida é um único objeto
O universo todo quer dizer
E o bocado de vida que tenha dentro dele incluso
Isto tudo é um só objeto.

E tudo se encaixa
Fazer o quê
Se encaixa perfeitamente
E bem pra lá do nosso controle
Bem mesmo bem pra lá do que queremos chamar de liberdade e arbítrio.

A vida é dura
E por isso se tem de ser duro
Pra se ser vivo.

Digo sims e nãos por aí
E me parece que minhas mãos na verdade pensem por mim.

Digo antes e depois eu tu eles
Digo quero deixo luto morro
E sei lá que seja isso
Senão questões que se deva deixar de lado
Pra se ocupar mais de música e amizade
Momentos momentos
A vida é feita de momentos
E é coisa de momento
Pois logo passa.

Se sou um grande homem
Se minha obra vai morrer com o tilt da internet em doismiledoze ou se vai sobreviver útil através dos séculos do imprevisível
Se meus maiores sonhos vão se realizar ou se vou um dia ter certeza disto daquilo ou de qualquer coisa enfim
Destes pensamentos ri a vida
Ri de mim a vida
Dentro de mim ela ri de minha seriedade
Vida louca orgástica querendo sair
Cérberos irados dando de cabeças contra as grades roendo as correntes até perderem os dentes
E pássaros imensos sob as asas negras da imensidão cósmica
Ode marota
Algo insidioso lá no fundo sorri
Quer se fazer entender
Perverso vilipendioso
Vulcão vivo de entranhas pulsantes
Impaciente e também bem hidratado
O estômago guerreiro quer zunir de lâminas
O coração duelista seco pelo laço da profunda inimizade
Que não há parceria compromisso lealdade sem a fera sem a besta mór sem o grande dragão o inimigo comum à gleba.

O grande dragão
Faz da humanidade areia
Areia estúpida consumindo periféricos de informática.

O grande dragão pós-moderno
Liga aspiradores de pó o tempo todo motores imensos troncelhos milhões de coizicas infernais
Que não permitem nunca o silêncio
Que não permitem nunca a contemplação nirvânica da continuidade do grande inevitável
E faz o povo pensar que o tempo está no número
E que ser feliz é ser dono proprietário e patrão de todo mundo.

O que foram as gerações passadas
Que fizeram de nós cegos estultos
Nisso também prefiro não refletir
Quero ser a porra forte em mim
Quero ser o gozo fértil espesso lustroso
Perdoem-me todos os deuses quero mesmo é só música e orgia
Com toda higiene espiritual subentendida -
Mas honestamente
Enquanto jovem
Enquanto jovem ciente de minha profunda condição de improdutividade
Ciente de minha incapacidade de realmente me devotar à erudição monastérica
O que eu quero mesmo é pensar nas crianças do amanhã
Que as crianças terminam por ser tudo que nos restou
A luz no fim do túnel
E a malícia me alegra
Tão perfeita e poderosa a vida
Que maravilha irretocável duma sagacidade intocável -
A via sacra é o prazer
Ou quer dizer
É pelo orgasmo que se concebe a evolução.

ESTÓRICO