Salvação

Aprendeste já a crer?

Pois cá está
Entrego-lhe
De bandeja
O maior dom.

Creia na evolução do homem!

Descabidos

Se às vezes me parece que uma vida não me basta
Que tão pequena não parece poder conter tudo que sonhara
Se às vezes me parece que uma vida é muito pouco
Que preciso de dez ou treze ou vinte ou trinta pra me alegrar
É neste quando que me forço à contração à compressão da forma.

Há tempo ainda
Há saúde ainda
Há regras e cacifes ainda
Guerras olímpiadas e capoeiras!
Ah sertão risonho que nunca viu um filme no cinema!
Ah amigo meu caboclo sofrido que nunca viu o mar
Minha vida é tanta surpresa
E às vezes ainda me parece pouco
Mas é isto a graça o gozo de minha humanidade
Os frutos de meu conhecimento são estes momentos
Entre firmes lamentos e veros firmamentos
Cresci mais que permitia minha gaiola as grades todas
Empurrei os limites da evolução da alienação
Violei todo passado por um novo presente
Ai sempre novo sempre déspota tirano residente.

Por fim
Me achei gostando de minhas filosofias
Pois elas aprenderam a valsar as cadências do agora.

Coerções

Boa filosofia
A mim
Ao combate que represento
Está em pétrias panturrilhas
Do andarilho sincero
Tenaz perseverante
Luzio maleável e reativo como o ouro.

Retrato incompleto da juventude múltipla
A guerra é em si por si
Guerra contra si pelo mesmo próprio si
Em suspiros indecorosos
Abraçando a verdade inútil
Sagrado banal
Ah perfeita inconsequência da vida!
Ah malévolo ritmo mortal cadência
Evolução empurrada goela abaixo
Estraçalhada no coração atento.

Bom pensador
A mim
Ao mito que desempenho
É o que pensa com a estrada
Que atravessa a vastidão incauta
Que desbrava o horizonte e faz nova ponte
Que vez ou outra soterra pântanos
Aterra espíritos baldios
Nobre ceifador de sonhos
Tirando o doce da boca da criança.

Quem usa a cabeça não engorda
Mas os de coração mole têm piedade
Aprazidos no compadecimento
Querem saber medicinas
Mas só pra fazerem melhor adoecer!

Minha fórmula não é química
O remédio não tem bula
É ser maior que si mesmo
É respeitar a diretriz da saúde
Compreender a possibilidade da paz.

Quem admira ainda ao homem?
Quem ainda se motiva ao esculpir tal pedra?

Reportem risos e dança
Descrevam beijos e gozo
Açoitem com a antípoda do tédio
Decifrem a incógnita do futuro
Julguem os criminosos
Emocionem as deusas da morte.

ESTÓRICO