Prião

Forquilha fatal
Das decisões que não são nossas
O gol de placa
É o retornarmos às nossas essências.

Conhecer os vizinhos
Arte perdida da sociabilidade
É inda normal às favelas de barracos.

Socorrer ao próximo
Dádiva cabível só entre os paupérrimos?

Alguns ensinavam generosidade
Às avessas
Em motocontínuos do marketing
Tiranos novos globais.

Mas a abiogênese se repetiria
Incessantemente
Da rocha e da areia nasceria sempre
Caule incontível
Da vida que faça melhor da vida.

Vésperas

Bricolagens do destino
Couraças mil camadas
Cada tom inescapável.

Bolhinhas saltitam
Beiçoladas castas
Sob véu gorgulha
Róseo caldo anis.

O mote do número
A rima bem branca
Castrada em cifras
Um ciclo de trégua.

Anteparo nostálgico
Lembranças refeitas
Casulos engrafados.

Distração

As piores perdas
São as que perdemos sem saber
Sem notar.

Ele vivia dileto
Vez ou outra por sorte ou azar
Via seu reflexo nalguma água
Parecia certo que ele mudava
Mudara das faces nos contornos
Mas ele não sabia ainda
Que o tempo existia.

Antes da palavra
Não havia o silêncio
Era a pedra eterna
Momento sem movimento.

As piores perdas
Eram quando dormia acordado
Não via a banda passar.

Clique

Ainda está tudo em tuas mãos
O tempo que passou voltou
De todo pesadelo se acorda
Pro grande sonho que é a vida.

Há sempre todas tuas escolhas
E há sempre também uma melhor escolha
Família vem primeiro como se diz
As melhores coisas da vida são de graça.

Lembra-te deixar que as alegrias de cada dia
Engatinhem pra debaixo de tua pele
Deixa começar os novos começos
Que tudo há sempre de melhorar.

E irrompe teu pranto em permissão
Abraça forte e afaga cada mão
Que o triste e o doído não
Bem fazem firme a lição.

Gansarada

O vê de vitória é nossa formação
Coletivamente economizamos ação
O parceiro às costas ao vácuo lucra tração.

Os do fundo grasnam firmes incentivos
Os da frente intrépidos revezam altivos.

Na busca de mares ao sul
De verões sem fim
A balbúrdia de asas troveja
A migração do instinto à cor eterna.

Todo bicho é um além de si
E o bicho homem que será?
Que golpes pra psiquê se conquistar?

Ilhotas desertas são o repouso
Em meio às tempestades inglórias
Se um queda ou se morre
Dois atentos acompanham
Imensa família sem sobrenomes.

O gol é a potência sempre crescer
Cada nova geração mais gênia florescer
Mistérios fênix vez e outra a renascer.

Plim

Certa feita disse-me a filosofia
Ama ao querer que te inspira a morrer
Cultiva a vontade não a deixa esmorecer.

Certa feita disse-me o profeta
Do futuro desgrenhado de fragmentos
Ama e te devota à visão mais límpida do sol
Põe abaixo a vingança e ergue o palácio da alegria.

A guerra não é mais entre ricos e pobres
O embate de classes é poeira de biblioteca
Hoje há um grande irmão que nos contempla
Sua maldição fraudulenta é oxigênio cifrado
Corporocracia mascarada duma vã tirania.

Suspenso em alienação criogênica
O relâmpago partiu-me em mil
Denovo e denovo até fazer-me em pó
E soprado em ode eólica fui varrido pro vazio
O desatino do esquecimento destituiu a prosa
Até que um Leônidas seletivo me convocou
Bradou não à misericórdia não à rendição.

Certa feita algo em mim quis morrer pela virtude
Como dádiva inequívoca à terra que me pariu
Vis retribuições pelo sangue que me corre.

Certa feita aprendi e desaprendi a superação
Afogado na moléstia corrupta do cotidiano
Perdi-me da sina violenta de guerrilheiro
Por força de paz romance brio e atino.

Até que o destino colheu um botão branco
Regado do plasma e da própolis da loucura
Floresceu confidente o desejo ardente
Decisão irretocável de batalha pungente
Quis novamente crer nalgo por que cair.

Vesti uma armadura flúor em sétima dimensão
Armei-me ao dentes de saber e conspiração
A guerra corria silente e poucos reconheciam-na
Mas o coração derradeiro atirou-se ao precipício
Acreditou outra vez que o melhor a se viver
É a causa impétua pela qual valha morrer.

Indefectos

Pra meio entendedor
Boa palavra basta.

O necessário é o ânimo
Positividade no hálito que expira
Cobro resenhas de sentimentos duradouros.

Refresco-me ao látego
Carrasco de fadas apetecidas
Sou o compromisso com o mundo
Enamorado profano e totalitarista ingênuo.

Por vezes odeio-me
Como o tirano odeia o medo da derrota
Como a musa odeia a petulância pestilenta.

Mas no mais tenho fé
A esperança de olhos verdes como o mar
Confiança de que a vida dum ou doutro modo nos redima
Certeza de que cedo ou tarde toda renúncia honrosa é paga em dobro.

Súbita

Há os que entendem e honram à terra e à eternidade
Eles vivem sobre valores diferentes e têm recompensas diferentes.

Dos Aderidos

Quando cheguei tudo estava virado
Excluíam a inclusão
Dentes rangiam.

Disseram-me tenho sedes
Disseram-me dê-nos voz e vez
Até que chegou minha hora
Aprendi a ensinar.

Na cidade das flores o assombro
Fábricas de nuggets fétidas
Retornavam sobremesas em refluxos
Adaptavam o sentido olfativo
Acostumando ao fel de podridão.

Íamos rumo ao sucesso
Não havia poréns
E os ziguezagues das estradas
Eram as veias a latejar.

Lutava-se com modos
Pela educação
A antipatia o grande dragão
Éramos seiva bruta de fé.

Os céus espancavam frescor
Em chuvas de verão caipira
Havia a certeza do torpor
De calos de enxadas aposentadas
E o sol girava ao girassol.

Tudo era esperança tímida
De lucros e amizades doutoras
Os ministérios comiam poeira
O progresso vinha do avesso
Processo lento e fleumático
Nossas charretes de fogo.

Dubope

O príncipe pitava
Palpitando a nova era
Alimpando os aquários colossais.

Mixturando alheias técnicas
Programando a agrofloresta mundial
Amalgamava mil natividades em tão tenra idade
O herdeiro de direito ensaiava gestos da glória graciosa.

A nova tirania
Brazukona
Mestiçaça
Casava madonnas e pelés
Congruos pluridestilados
Da ortogenia heterodoxa.

A descendência cafuza fazia confusão
Em vestes aleatórias revezando a representação
Ora bélica precisa alemã ora surfista sofista egípcia
O príncipe corria no que tilintava a vara de pesca divina.

Entre fartas ceias e rudes provisões
Erguia bandeira branca da una nação da paz
Murmarava o hino sem letras com a mão torta sobre a pélvis.

Aristocracia em rabos de arraia
O futuro rei plantava bananeiras
E o ministério da alegria pregava tábuas amorais
Fagueirando sobre jacarandás petrificados
As novas leis ditavam aleluias nanofísicos.

As sardinhas escapando das latinhas
O reinado impondo ordens entrópicas
A pátria global mamando mamando
E mil sementes numa só brotando
A inédita yggdrasil permaculta.

Sentinela

Ela que cuida do mundo
Ela que toma conta do andamento da própria natureza
Ela está cansada e a garganta seca ao deserto inóspito exaspera.

Ela que resguarda os turnos das formigas
Ela que acaricia os céus furibundos nos dias de chumbo
Ela que ralha com os castores sobre as fundações das represas
Ela está imóvel sob a catástrofe e suas orações colorem os vazios do mistério.

Ela a santa desvirginada em bacanau
Ela a flama mortiça que acalenta aos nevoeiros
Ela a suicida retraída que segue vivendo por covardias
Ela a inata guardiã de todos os véus da moléstia e da loucura
Ela perspira agora valores pueris no coração quixotesco do amante.

Sobre o monte de oliveiras
Tola
Vê o mundo dar suas voltas
Ninguém vem lhe falar
Sabem-na apenas tola
Mas ela vê o mundo dar suas voltas.

Matrizes

Uma fabulosa fome
Bernes à parte.

A pequena esmagava dedos febris
Em seus primevos momentos de vida
A criança brotava fértil e roxa como terra
Trazendo novos reinos e promessas.

Alimentavam a esperança
Nos olhos carrascos da grande mãe do rosa.

Afinal

Tem vezes que uma coisa acaba
Bem quando parecia que estava continuando.

Tem vezes que uma coisa continua
Bem quando parecia que já estava pra acabar.

Meu fim é em vida
É a finalidade
É afinal e afinado.

E enquanto isso de existir eu duro pra sempre
Propósito eterno consumado no caos da origem
Enquanto isso de estar vivo eu sou um sem fim
Liberdade imposta sagrada no amor em vertigem.

Primaveracidade

Eia público bom vivã
Venho exclamar aos sete ventos
Tantos nobres intentos
Fazer florir as primaveras
Das novas eras ainda porvir.

Semeando amanhãs
Escapando das febres terçãs
Somos a meiga primavera
Primeira verdade que renasce
Bela prima do verão.

Engatando quintas marchas
Nos tráfegos aéreos da alegria
Só há trânsito de concórdias
Semáforos de azaléias e margaridas
Os amarelos dizem atenção
Cuidado à natureza em ação.

Somos ainda e pra sempre crianças
Crescendo de dentro pra fora de nós mesmos
Abrimos os braços à estação
Sintonizados nas frequências da emoção
É chegado tempo de partilha
Novos começos pra matilha
De nossas cachorradas tão leais
Transbordando prazeres em mananciais.

Quem nos cura se aprochegue
Inspire o hálito de aconchego
Nessa irmandade tão suada
Vamos de mãos dadas à estrada
Que nos leve leves às alturas do azul
Que nos pouse suaves aos vermelhos da paixão
Este verde nos sustente de cadências no bailão
Anunciamos primaveras prevendo alegria no coração.

E seguimos densas sendas
Trilhas espinhentas no dia a dia
Às vezes nos cortamos mas há boas enfermeiras
Há sempre belas ciências que nos resolvem certeiras.

E vamos de carona aos vendavais
Sementes de risos voando em altos astrais
Caímos em áfricas e chinas desconhecidas
Resgatando antigas artes esquecidas
Bailamos intensos na meditação
Quietude que é também gostosa falação.

Inventamos o futuro imaginando nossos filhos
Enteados primos e amigos
Que nos dêem a mão quando falta o pão
Que nos abracem forte fazendo aquela estralação
Vamos humildes e bonitos
Disfarçando as lágrimas que vira chuva
Vamos dando cor e muita certa noção.

E as irmandades desabrocham
Nas florestas de frutas escondidas
Representamos mitos perdidos
Nos aliando pelas rimas da razão.

Peço aos atentos compaixão
Um pouco de braveza e muita retidão
Peço aos ouvintes muita força de vontade
E também que por favor fiquem muito à vontade
Cá estamos vos servindo doces nomes que amamentam
Leite de fé cheio de luz
Vamos nascer de novo de nós mesmos
Que este ar transparente seja nosso ventre
Vamos nos parir de nós de nossa união
Parto esperto sem dor e sim comoção
Vamos sorrir às novas vidas que nos aguardam a lição.

O mundo quer mudança positiva
Quer vivas e alegres terapias
O mundo quer aprender a bendizer
Cuidar dos matos e singelamente benzer
O mundo quer nossos sonhos mais longínquos
Que eles são a solução
Quer um pouco de loucura também como não?

E vos pergunto atentamente
Peço fechem os olhos e respirem somente
Peço silêncio o quanto se puder
Pra lhes indagar uma novidade que nos faça crescer
E a grande pergunta é
Permites a ti mesmo morrer pra pela vida renascer?

Não fique nervoso
É morte imaginária
É como o rasante da canária
Que beberica do mamoeiro
É uma morte de todos os erros
Que deixe ressurgir os lindos ansejos
Que nos permita perdoar a nós mesmos
As atitudes incabidas que nos permitimos.

Concede ao próximo um olhar tranquilo
Se não por mim nem por ti
Faz pelas crianças que ainda não chegaram
Faz pelas amazônias ainda preservadas
Tua tranquilidade é teu maior bem
Tenha certeza que amor vale mais que qualquer vintém.

Caiu minha tristeza ao solo
É um pranto fértil dando novo ânimo
Neste jardim tão florido de gente firme
Vamos nos erguendo como troncos ao futuro
Esta primavera é a primeira verdade
É prima e vera
E depois vem o verão
Nosso forte irmão varão
Carpinando as hortas aromáticas
Fazendo suco de polpas selvagens
Vamos ser também um pouco índios
Cantando alto os deuses sem nome
Rogando ao cosmos pela harmonia
Que mesmo que não se entenda está lá
Harmonia estendida pra lá de bagdá
Nossas diferenças são só os medos de agradar.

Não tenha vergonha nem culpa alguma
É o que vim lhes transmitir
Neste portal de tempo eterno
Da nova estação que nos vem abraçar
Tudo que há é saúde e perfeição
Basta regar estudar e cuidar
Pra que ninguém fique sem a refeição.

E pra despedir e completar
Vou me tornar uma nuvem de tempestade
Roxa lilás e violeta a me esgazear
Vou chover pétalas de rosas que os deuses estão a despejar
Em ternura afago e carinho querem nos afogar
Vamos dar as mãos no silêncio confortável
Aceitando tudo que foi como foi e abrindo os olhos pro que vem a seguir
Que uma coisa vos garanto com toda felicidade que me cabe no peito
Pra quem ama está tudo certo e o que vem depois é comunhão com todo efeito.

Um breque de lucidez
O lar é o aonde o coração está.

A família é uma só
Ademais são as ciências aplicadas
E aguardar abdução dos antigos deuses astronautas.

A profecia
É que a vida estará imanente
Rainha indestronável de todos sentidos
Ígnea plásmica e dócil
Trovejando perfa morosa.

Sopro humano mundano
Terral esplêndido
Baleias cantando.

Pubicórneos

Num belo dia enfim me dei conta
De que a verdadeira independência
Não era a material mas sim a psicológica
Foi um arcoíris justificando os céus nublados.

Metronomia

Fraseados e convenções do espírito
Polirrítmos em progressões geométricas
Vou brincando de florear e sincopar
Alterno bases no esforço por relembrar
As tonalidades interinas ao sabor da ginga.

Faço música como danço
Punhos e tornozelos prolixos
À direita precisão e perseverança
À esquerda paciência e elegância
No foco único do tiquetaque
Em marés de alegria sônica
Conto estórias de beiços selados.

As emoções vão se inventando
Do compasso aprendo tudo
Cada dia um novo dia um novo timbre
Valso lâminas de ximbaus e ataques
Conduzindo a carroça de meu destino.

Deslizando à superfície do oceano
Tangenciando a grande esfera do mundo
Em manulações naturais vez ou outra um mergulho
Os remos da nau percussiva girolam cadências secretas.

O contraste é a chave
Entre grave e agudo
Luz e escuro
Explosão e quietude
Nas oscilações temporais
Alça solo vôo a águia
Paira com as brisas altaneiras
Por modulações métricas perfeitas.

Quero sempre o trabalho na cozinha
Nosso caldo fumegante de revelações
Grandes descobertas que fazemos
Traduzindo em gestos a abstração
Fundindo em fartura a imaginação.

Trisco

Caçando insetos vampiros
Insone trabalhando a extinção do sanguessuga
De luzes acesas contra paredes brancas pra bem ver.

O cômodo ainda incômodo
Pelos zumbidos grossos abusados
Vai se alimpando aos cheios tapas
Escorre sangue de si nas palmas vitoriosas.

Por pouco escapa um e outro
Mas a tenaz perseverança triunfa
No breu calado enfim livre das agulhas
No sono tranquilo desbragado dos parasitas
Cemitério de mosquitos em fronhas e lençóis.

Amaino as coceiras da batalha
Noite a noite uma nova guerrilha
Alargando as fronteiras da dedicação
Investindo sacrifícios de tempo e energia
Botando lenha óleo e resina em gastura
Que toda luz precisa seu combustível.

Vencemos a tempestade as marés
Sem xingos sem raiva no afã
As quedas endireitando
Coluna posta rija
Em capote leal.

E vestimo-nos mui bem
Delicada moda de cacau
Esbaforindo os vaidosos
Em humildade refinada.

Jecas sabidos de terra roxa
Reciclando revoltas instantâneas
Confiança familiar abrindo horizontes.

Gemofagia

Persigo lúcido
Sonhos diamante.

A força é que é a beleza
Só a instigância nos une.

Mastigo safiras incompreensível
Santo abençoando gratuitamente
Prematura conquista do plasma rubi de si
Fertilizante de preciosidades bem mastigadas.

Esculpir o instrumento que é o espírito
Lapidar a rocha tenra que é o delta ao mar
Batendo água mole em pedra dura até furar.

Destilo milênios
Nos arrepios duma noite de primavera
À beira do éden
Fazendo silêncio pra bem captar o mote
Coração é meu dote.

Que é que me faz querer chorar?
Que é isto do passado esconjurado que me faz pensar?
Por que tanta mentira cobardia imprudência?

Cedo ou tarde
Toda família se reúne
Do outro lado do vento
Descansando as dores da missão.

Cedo ou tarde
Todo revés se revela
Todo carinho se interpela
Na trova suada da labuta
Ante impaciência à estulta.

Quiseram não crescer
Quiseram não mudar
Partiram o ciclo o transformar
Recalques insólitos da rebeldia
Preferiram não se importar
Maldisseram ao que queria curar.

Mas o dom vence
E não há sofrer antigo que a nova alegria não estrangule.

Palito dentes sastifeito
Tropeçando só pelo efeito
Remo surfo velejo com respeito
Vem vai rima estranha sem defeito.

O grito lancina
Rasga o ódio
E desperto outra vez lúdico
Vivo hoje pelo sonho de amanhã
É só isto que desejo
Seguir a senda do onírico
Que com tanto amor se faz empírico.

Quebraponto

Ultimatus
Veritade circense
A alegria é nosso compromisso.

Nossa obrigação
Dos condores
Por sobre himalaias
Pra com o mundo
Pra com a vida
Supremo desafio
O pulso incita ao ato
A natureza exige a paz.

A responsabilidade
É a felicidade.

Dívida pra com o vácuo
Penhor de antimatérias
A satisfação é o preço da união
Só bem é que se vê qualquer bem.

Não há porém cobrador
O sentimento vem de graça
Dádiva inominável de cada hálito.

Seje dos que esfregam as próprias costas
Do que se lança à milanesa às frigideiras
Seje dos que ansejam
Sem postergos
Sem andrajos
Seje calmo.

Calma imensa rotunda lagoa
Espiralando vapores às nuvens
Estreitando-se trovões em tempestades
Águas sacras dando voltas em torno do globo.

A terra é toda num rio
De pontes prismáticas
Um sustenta o outro
E o amor é o ouro.

Sedento do futuro longínquo
Abastado do passado esquecido
Somos espórulos cósmicos
Germinando vênuses e centauros
Lagartixas polidáctilas informatizadas
Astrodelismos livrertários.

Xenofonia

Lobo negro espantado
Em beco suburbano de paralelepípedos
Me espiou.

Farejava miticamente
Às bordas da avenida jabaquara
Encoleirado e cheio de cólera
Por algum restume de gentama.

Brilho ancião e estrangeiro
Nos olhos perdidos do canino
Temendo a extinção de todos bichos
Sonhando lâminas aniquiladoras
Cavalgando com unicórnios.

Aspiral

Primeira e última dimensão
Infinita.

A morte amada
Fazendo a vida valer.

De todas as linguagens
A do amor
De todas as forças
A da cor.

A vida é curta
Tão
Por isso
Curta!

Adjuvante

Vesti meu plastrão
De tartarugo sonhador.

Couraça rija e frágil
A armadura também sangra.

Quirosofia

Brancalma
Broncomem
Broncas duras
Cascudos e cróques!

A novela
Querida
Acaba será?
E não continua?
Por cada ranhura de presença esborraçada
Na pirataria cosmogônica?

O é
Que sempre é.

Heurísticas

Normal principiar-se confiante
Normal a posteriori desconfiar
Normal tornar-se descrente desconfiado.

Aos poucos
De pouco em pouco
Redescobre-se a maravilha duma ilusão perdida
O azedo faz-se de novo mel
A confiança retorna.

Já cri em deuses às pencas
Inventei minha própria igreja
Que tinha teto pra todos os santos de todas as eras
Querendo somar tudo de mais sagrada num só peito.

Mas o descompromisso divino se faz óbvio
E restam em mãos possibilidades restritas
Resta especialmente o desafio da revolução.

Indefinível pódio da beleza
Os melhores são os melhores quando somam-se
O amor é poderoso quando sabe a perversidade
E as latentes leis naturais maestros da irretocável orquestra que é a existência.

Siricutico

A vida vem espremida
Em bloquinhos de sokoban cósmico
Esquinas que desviamos pra não esborrachar.

A vida vem espremida como suco de limão na manhã
Rasgante exprimindo a ciência da tez da chibata
Sudoríporos em contagens regressivas digressivas
Calados na poesia demais real jasmins hortências.

Dobro cenhos punhos e ventre
Rasgo a mortalha sebenta
Adeus à hesitação do ato
Alegria por sobre todas as lágrimas.

Um corte
Um curto
Um entrecorte
Um susto!

É arguido que se ouça
Que se esperneie em alto proclamo
As novas razões pés pontes rolantes
Pelo seio macio da esfera gloriosa da certeza.

Pelo pouco que se tem em que se pode confabular
Pelos breves gestos que ora nos ornamos retocar
Os soluços sanguinolentos duma ânsia por mais sempre mais.

Pontas de dedos
Alheios
Tocando-se
Ao vento veloz
De amor espartano
Ascese ascencionada
O monstro seguia rolando
E as promessas das estradas
Faziam sede de água cristalina.

Salvamo-nos enquanto podemos
Enquanto durem as baterias
Ou as ceias de protocolos
Liberdade simbiótica dominatrix
Uma moléstia virática adocicante.

A paixão maturada é vinho de concórdia
É a suprema coincidência
Abraçada e amalgamada
Fronteira imaginária entre o acaso e o destino
Ao preço de tua superação de si
Em nome do elo natural
Frágil recompensa
Em nome do futuro do mundo
Os modos adequados.

Restarte

O chamado da solidão denuncia
Ácaros invisíveis atracando a sedução.

A borboleta rufla asas
Irrisória dispensável
Kodaks raros em extinção.

De quê viverá o mundo do futuro?
Quando as terras e as águas se tiverem esgotado?
De quê há de se sustentar o usurpador?
Quando a escola de milhões de anos Amazônia ruir?

Vejo homens híbridos
Uns meio máquina
Outros meio molusco
E crianças com olhos vermelhos como fogo
E dentes e garras de predador onças pintadas sapiens.

Luto

A Terra
Morreu.

E agora?

Não há praonde correr
Só fujo dos erros iguais.

Sem lição nem missão
A breve vida que passou
Ainda bem nem se lembrou
Ausente cedo demais pra saber
Deixou o mundo com seu tudo de lamber.

Descanse em paz pequenina
E perdoe a desgraça dos homens.

Da Didática

Previu a luminosa espiral que o atraía

Quase engraçadamente se amedrontou
Do vórtice dum futuro vindouro liberto
Mas pra que por que temer gafanhoto?

Que dirá tua derrota?
De tua vida falha?
Da tua barba maltrapilha?
Quem entende ainda a simplicidade?

Poderás sempre mudar erro em abraço
Mas teme porquê sabe que breve acaba
O carroussel machuca entre roseiras
De pele sangue suor nutro cada cena
Sacoleiras e pacotões do amor rosa
Tanto tão destoante combinando-se.

Quero conhecer o mundo em que vivo
Vou à pé me conhecer o eu sem eu
O eu que sou todos alma do mundo
Vem saudade nostalgia boa alegria
Na despedida afoita uma lágrima
Quero sonhar realidade filhos meus
Saltar ao bonde andando da bondade.

Alaridos

A vida é pra agora
É o risco do corte da conexão.

É tudo agora baby
E tá tudo certo mais que certo.

Meditatrix
Cheia de tiques
Brinco nos trinques
Cincos setes e trezes por sobre os quatros essenciais.

O risco do corte da conexão
Só por garantia
Lealdade eterna o derradeiro elo com o futuro
Volúvel voluptuosidade rodando as rodas das gerações
Projetos Vênus incorporados
Moldes maias em pedrassabão ressabiada
O homem sonha e baila com grandes guindastes
Quer longevidade surreal com órgãos sintéticos
Quer a pena de morte na ponta da pena do juiz
Quer sambar sempre novo sempre bahiano
Pelo risco do corte da conexão sem fios.

Um adeus que porém faz companhia
Saravás bençãos aos reis dos montes
Funilando consciência multidimensional.

Salvação

Aprendeste já a crer?

Pois cá está
Entrego-lhe
De bandeja
O maior dom.

Creia na evolução do homem!

Descabidos

Se às vezes me parece que uma vida não me basta
Que tão pequena não parece poder conter tudo que sonhara
Se às vezes me parece que uma vida é muito pouco
Que preciso de dez ou treze ou vinte ou trinta pra me alegrar
É neste quando que me forço à contração à compressão da forma.

Há tempo ainda
Há saúde ainda
Há regras e cacifes ainda
Guerras olímpiadas e capoeiras!
Ah sertão risonho que nunca viu um filme no cinema!
Ah amigo meu caboclo sofrido que nunca viu o mar
Minha vida é tanta surpresa
E às vezes ainda me parece pouco
Mas é isto a graça o gozo de minha humanidade
Os frutos de meu conhecimento são estes momentos
Entre firmes lamentos e veros firmamentos
Cresci mais que permitia minha gaiola as grades todas
Empurrei os limites da evolução da alienação
Violei todo passado por um novo presente
Ai sempre novo sempre déspota tirano residente.

Por fim
Me achei gostando de minhas filosofias
Pois elas aprenderam a valsar as cadências do agora.

Coerções

Boa filosofia
A mim
Ao combate que represento
Está em pétrias panturrilhas
Do andarilho sincero
Tenaz perseverante
Luzio maleável e reativo como o ouro.

Retrato incompleto da juventude múltipla
A guerra é em si por si
Guerra contra si pelo mesmo próprio si
Em suspiros indecorosos
Abraçando a verdade inútil
Sagrado banal
Ah perfeita inconsequência da vida!
Ah malévolo ritmo mortal cadência
Evolução empurrada goela abaixo
Estraçalhada no coração atento.

Bom pensador
A mim
Ao mito que desempenho
É o que pensa com a estrada
Que atravessa a vastidão incauta
Que desbrava o horizonte e faz nova ponte
Que vez ou outra soterra pântanos
Aterra espíritos baldios
Nobre ceifador de sonhos
Tirando o doce da boca da criança.

Quem usa a cabeça não engorda
Mas os de coração mole têm piedade
Aprazidos no compadecimento
Querem saber medicinas
Mas só pra fazerem melhor adoecer!

Minha fórmula não é química
O remédio não tem bula
É ser maior que si mesmo
É respeitar a diretriz da saúde
Compreender a possibilidade da paz.

Quem admira ainda ao homem?
Quem ainda se motiva ao esculpir tal pedra?

Reportem risos e dança
Descrevam beijos e gozo
Açoitem com a antípoda do tédio
Decifrem a incógnita do futuro
Julguem os criminosos
Emocionem as deusas da morte.

Teima

Na esperança inventei o amor
E pela sanidade me fiz cético.

Da ilusão da fé nasceu o valor
Abismos e horizontes da virtude
Longeva e também fugaz estória
Que tudo passa passará
Mas nós passarão.

Assobio cantarolo deságuo mágoa
Apito partidas imploro abraços
Viva filosofia ornamental paisagista
Dos teatros florestas dos terreiros eletrônicos
Tremeluz em verões o capim dourado do agreste perdido
Comícios revoltas cegueiras e bençãos no cotidiano transmoderno.

Ode cáustica de perfeição
Quase abominável pérfida realidade
Transgressões mil do novo império romano
E calipígios mestiços no pórtico eterno do maracatu.

Quem admite afeição pelo fétido?
Quem assina petição por bom faro?

Nem sempre siga a deixa do anfitrião
E lembre-se que é de pessoas que o mundo é feito.

Ofício

Dedos e juntas alongados
Oblongada de bacia e dinâmica
Soltura leve na entrega à comunhão
Da cadência sublime do ritmo universal
Repuxada nordestina com pitada de arábia elétrica
O monstro seguia rolando o novo movimento germinava.

Que batuta herdamos?
Ah hipertrofia de antebraços!
Ah sagrada delicada loucura musical!
Entendemo-nos aos solavancos fraternais
Roendo as raízes dos sopros suntuosos
Que missão empenhamos?
Na certeza do som?

Viva o grande sim!

De cigarros tragados
Cigarras humanas se rasgando
Estourando cascas à frágil novidade
Desovamos tartarugal em costas ricas
Surfando as marés temporais do gruve
E nossa alegria brilha como o dia
Pino solar da tropicaliência
Libres parceiros hermetistas.

Que futuro nos cabe?

Se há quem ouça
E mesmo não havendo
Peço clareza
Peço ao vácuo equatorial
Transparência nas íris
Maternas hidratações
E a sóbria nutrição
Peço a todos e a ninguém
Pela concórdia quanto ao núcleo
Pela afinação do espírito
À destreza à ferramenta.

Sinais

Interpretações interpenetrantes
Certos e errados que só cabem dentro de nós
Em nossa estória nasceu a virtude
E também sua antípoda a convicção moralista.

Utopias anarquistas e regressivistas
A juventude desmamada sonha o caos
Do fim das corretagens do fim do controle
Mas destruir só vale se for pra construir em cima.

O medo o gélido trunfo das entranhas
O desconhecido de bacolejos violentos
Os riscos que assumimos pelo vinho
Guerra travada pra se poder fumar.

Entrementes providências e proteções
A previsão da entorpecência acalma
Amaina a fúria infantil em cânhamo
E boa música flui natural dos poros.

O destino sem respiro do insatisfeito
Eterna busca por não se sabe bem o que
E mesmo a tensa evolução do sério do comprometido
Tudo espirala em torno do mesmo vermelho emocionante
Das paixões instantâneas e doentias dos Picassos contemporâneos
Dos orgasmos incomparáveis consagrados somente na agonia do adultério.

Quisera meu mecenas divino
Velho tarado que me sustentasse a poesia
Mas daí o poeta sentaria
Acomodado pela balbúrdia da expectativa
Só diria de temas frívolos
Pra não mais ofender à gleba insensível
Manter o ordenado certo
Mas ai desgraça o que peço é só mais dor.

Desdenho as soluções definitivas
Quero problematizar as certezas
Pra que ao fim do escrutínio são
Saiba-se confluir ardor e amor.

Embolada

Caução aos termos pouco ternos
Às troças toscas que conduzem aos maus términos.

Pia cheia de louça suja
É detalhe que põe família abaixo.

Dar não é nunca pra receber
Mas receber sempre vem pra quem dá.

Eu me dou algo original
Um desejo ardente e genuíno
Tufões me salvem da serenidade passiva
Minha meditação é pugilismo e densas trilhas
Cultivo um tal desapego mas amo mais que tudo à vida
Breve e simples mas bela e completa esta vida única que ninguém sabe por onde ainda vai passar.

Ficou o legado do irmão arretado
Deixou a marca da experiência que levanta e faz
Que pega e ajeita que corre resolve e bota fogo na batucada
Ficou um timbre novo maravilhoso um grave alerta à força em ação.

Epifanias deslumbres
A novidade da cidade pintava sorrisos e cenhos franzidos no forasteiro
O hóspede foi embora maior que chegou e o anfitrião alegre grato fez poesia da concórdia.

Voaram às bélgicas e cearás
Mas ainda cá estão
Amigos irmãos
Bem fundo
No coração.

Sinopse

O amor é o encontro de duas fantasias
Ou é o encontro de duas liberdades?
No fundo sinto que dá na mesma.

Introduções

O gozo é a origem de toda vida
E também a finalidade reincidente
Do gozo viemos
Ao gozo voltaremos
Voltamos sempre que podemos.

Luta diária contra o mofo e o musgo
No acimentado e nas paredes do corredor lateral
Enfurnado nos quartos e no estúdio de som
O líquen desvairado me punge ao peito
Luta diária contra a tuberculose desbragada
Acendo fogueira no quintal pra curar
Sobem os fumos lázulis e liláses
A grama nova ainda tomando raízes.

O sangue prefere passar discreto
Escondido
O sangue prefere passar silencioso
Mistério
Só jorrar nas bocanhas ímpias
Já goela abaixo do predador
Sem desfalques na mística.

O suor banha o corpo heróico
Sóbrio profano destemido
Ele beija-lha à concha
Chupa fora a fina pérola
Da paixão regalada
Do são assanhamento.

Risos de outrora
E más lembranças de que já me esqueço
O dia me nasceu no meio da madrugada
E só soube agradecer
Só soube dizer perscrutado pelo arrepio
Obrigado pai sem nome
Obrigado pela desavença do desafio
Pela prova de fé
Doída solidão leal que floresceu e borboletrou
Sagaz noção do real que projetou e fundamentou.

Devoro-lhe os miolos caro leitor
E minhas tripas saltam soltas pelas pontas de meus dedos
Cocegando o cócxis tímido e retraído da erudição poeirenta
Um sol implode
Vulcão abrupto do vilipêndio poético
Os invejosos escarnecem
E a musa umedece.

Novidades

Cada dia um
E todos dias um mesmo.

Dia sem fim
Dentre órbitas sutis
Dia branco e rubro e incolor
O sol doce como a água.

O novo nasce em cada instante
Todo instante começando
O começo infinito que é a vida.

Holística orgástica
Da realidade fantástica
Capoeiras do mineral
Maracatus relampejantes
Bastidores do teatro
Ferramentas na oficina.

Da Rosidade

Tênue frágil esgazeada linha
Do contorno das encostas da doce moça
Fantasias de esperanças à flor da pele
Os dedos grossos atabaquistas liam-na
À glozada mortiça donzela
Como lêssem alquimias em braille.

Tinha faces de coração
Bocas bochechas olhos de coração
Singelas nádegas suculentas
Ela era toda um grande coração
E ah benção inominável!
Ah afago esplendoroso da criação
É por mim que ela pulsa!
É com o meu que o coração dela bate!

Tricotadeira entre mil pimpolhos
O sorriso que não cabe na cara
Faz o rosto parecer imenso pra se caber
Os olhos fecham contraem alegria pura
As maçãs do rosto são uma pelúcia
E ela me beija aos lábios quando estou sério.

Sonhei com ela sempre
Nos sonhos que nunca tive
Nos sonhos que nunca soube ter
Foi sempre com ela que sonhei.

Molho De Chaves

Espírito elemental da cor viva
Lâmina flúor secreta sibilando
Flâmulas fugidias do bailarino
O passeio mudo ardia.

Uma troça um desrespeito
Era o que o fazia às vezes odiar
E as sublimes fraudes ensinavam o desprezo refinado.

Mas o respeito pela poesia intocável
O amor por toda obra perfeitamente inconsequente
Digladiou
Pela glória duma liberdade frágil
Teia de aranha em arvoredo quieto.

Mariposas esvoaçam
De suas sortes e das das borboletas alimento-me.

A psicologia é a saliva ácida
Digerinte
Bactéria animalesca carnívora
E uma alienação musicada retém todo ânimo
Nos verdes e roxos da concha furtacor.

A explosão do sentimento lento
Pulso sem peso
Ginga sem medida
O sol em pino escaldava
A madrugada insone da mãe coruja.

O Último Poema

Assim quereria meu último poema
Curto e grosso
Como a vara que cutuca a onça.

Que fizesse supremo todo desenrolar de hálitos juvenis
Que tornasse em cristal toda opacidade descolorida
Trazendo em ciclos sem fim toda atenção ao coração
No ideal prático duma filosofia do sim a tudo que há.

Tamborilo

Sustentáculo de diamante
O sol pulsa violeta do solo cintilante
Antigravidade secreta do espiritualizado
A benção da sombra em meiodia nublado
Refrescava de cevada e haxixe os caroneiros.

Mochilões às costas
Surfando as ondas do sabor
Da cor do pecado
Patinando cítrico à orla.

Distância que reflete respeito
Saudade que ensina o amor correto
O agora explode em gestuária o linguajar lisérgico do xiva dançante.

ESTÓRICO