Cilada

Entendi o segredo de eu mesmo:
A preguiça, fatal inimiga -
A que não deve renascer, Fênix inconveniente.

Pinheiro

Quando o rei nasceu
Lhe escreveram uma carta
Pedindo por Justiça.

Cervo
Servo
Cresceu
Apareceu.
Severo incandesceu
E apavorou todo conter de risos em sublimação.

A coroa é um totem
Jarretts, Coreas, Weckls - tantos ecos!...

Se espirrar, Saúde, heim, Vossa Alteza!

Pavimentou de diamantes as ruas do mundo
Assinou a Lei Áurea de libertação da liberdade
Conquistou tantos reinos
Unificou tantas pátrias
Deu de comer aos cães
Apacientou às mães
E
Tudo secreto
Sem dar ordens nem receber medalhas
Sem confete nem rubro carpete...

É o rei do mundo
Que no dia em que nasceu recebeu uma carta que pedia por Justiça.

Dizem
Que ele separa mares - o cajado um piano
Que torna água em vinho - a alma enchendo a taça
Que move montanhas - porquê não as enxerga!

O que vi
Mesmo
Foi que ele sabe olhar pra si Amando
E por isso há de reinar pelos séculos dos séculos.

Ponte
Cruel
Cruelíssima
Tanto quanto um superlativo
Superlativíssima.

Que é lar sem família?
Desafio sem desafio?
Ruiva sem recato?

Um cubo se materializa em Urano
Meu cubo
Minha lei
Um jejum em segredo
Minha desconfiança traída.

Belicoso
Rigoroso
Astuto e comodista
Este arrepio que já não faz mais chorar.
Sei que sou amado
Incompreendido
Poeta do balé cósmico -
Quem pode Entender?...

Mil lunações
Um hálito solar
E a água boricada ansiosa por arder nalgum corte.

Amenofobia

Dorme demais
Defunto
Pigarreia seco
Dança sem asas
Digere sem eretibilidade
Tão poucos minutos ao Sol...

Cantem os antepassados do porvir
Rejubilem-se os que não sabem da Eternidade.

A metrópole respira
Enxofre
Gasolina e pólvora
Grafite
A escravidão e a imprensa.

Há quem saiba dos problemas de Deus.
Há quem saiba dos problemas da comunicação com Deus.
Há?...
Ah, mas há! "Há!!!", se pode até vociferar:
Este sonho em verbo inconjugável
Este pavor de relance relutante de averiguação.
A escovinha pra tirar o excesso grudado no sanitário.
A adolescente que tanto amei morta de meningite aos dezoito.
Os porres de cachaça vagabunda que não mais arrebatam.
As flores no campo
Apanhadas
Pra uma cega -
E o pessoal que vive perto de rio limpo.

Mural vazio
Abismo preenchido
E as cantigas de Capoeira!

Missão
Esta
Este isto
Esse isso
Insosso
De que não posso escapar -
E que seria de mim amissionário?:
Um teimoso aspirante a mago
Uma criança que não se deixa amadurecer
Ou mais um Cristo em pessoa...

Tantos caminhos
A torto e a direito -
Sem falar da Esquerda!,
O caleidoscópio intracelular de nosso self
Infindáveis tramas de luz cor tranças respirantes
E este coração batendo
Batendo-batendo.

Antes tarado que político
Deprimido que ganhador da Mega-Sena!
Antes sonhador.

Esperançosamente

Fujo
Pras próximas vinte e quatro horas.
Faz um zilhão de anos que escrevi isto.
Será que o coelhinho da Duracell aguenta até o Apocalypse?

Em menos de cem minutos há de rugir o despertador
E a Babilônia fervilha em torno da alvorada.
Já estamos atrasados, percebe?
E tenho medo
Dos riscos de repetência burocratizável.

Ai, meu harém me faz uma falta...
E do curso de marinheiro, nem me fale!...
Eu e tanta percussão pós o horário permitido de manifestação.
Eu e tanto tesão
Divagando
Confidente
Da lua minguante
Do cão tibetano
Do leito espaçoso...

Ao menos ensinei-me a relaxar o queixo
A curtir a fomezinha do desesperado
A brincar...
A brincar!

A roupa do armário perdeu o charme
Os livros da estante o surrealismo.
Quero ser tão forte que meu quinto membro faça juz ao nome!
E cozinhar pra centenas - o cardápio eu quem faço
E dar banho nos pés dos leais
Só rir risos fraternais.

É certo:
Esta inadimplência kármica vai dar galho, heim!

Post scriptum:
Eu tenho cheiro.

Belletrismo


Bonjour, mon amour...
Passas bem?
E as horas, têm?
Mande à lavanderia minhas meias de dedo
À tinturaria minhas batas kimonos blasers
Mas por favor, não blasé comigo!

As esporam tilintam
Nos filmes de faroeste.
As musas bailam
Na imaginação mesmo dos recém-nascidos.
Tosse aqui e acolá - nossos beiços oh finura...
Me deixo levar, deixo-me, me levo - vou levando.

Quem é aquele velho barbudo no espelho?
Sou eu!
Ah, Deus meu,
Permita sono profundo ao mundo
Que as aflições da madrugada roncam
E não tão distantes orientais amaldiçoam o entardecer de um dia cinza.
Ostracismo astigmático:
Focando a vista nas letras a mensagem embaça.

Cadê Isabelle Rupert?!

Inventaram as torneiras, as maçanetas, os ídolos -
E que foi da benta fonte, das invisibilidades, do Inexplicável?...

Ária podre do corvo
Canta dos enganos
Dança sobre tantos sheiks confusos
Canta dos desenganos
Dança sobre mil democracias iletradas
Canta dos... - da Morte.

Paralelepipedais parafernálias
E não se consegue diagnosticar a causa da insônia!
O primevo leão se impacienta -
E com que sonhará Miles Davis?...

Há isca sem anzol:
Ósculo.
Há paixão sem romance:
Modo de vida burguês.
Há decapitação sem sangue:
A vossa, que não escapaste desta foice.

Meus pulmões
Digitais
Irreais -
Ah, brejeiro!, viver é mesmo inclusive também tudo que não se deve entender!

Forget about it, capicce?...

Verdadeirice

Trejeito treslouco
Pasmo liquidificante:
Não há criação sem criativatividade.

Sou
O bruto
Impossível
O leigo
Impassível
Um rabisco duma caneta sem tinta.

Fumar agora seria o Ó!... -
Mas o pacto social é o pior escárnio pros notívagos.

Estalar num clitóris lúdico
Ou comer um quilo de chocolate belga...
Te mostro o musgo do meu gemido
Ganido prenhe.
À prova minha falta de sentido.
Ensandencionismos -
Que a realidade tem estômago até para pedra!

Cafuné

Sei que quero saber.
Não sei o que quero saber,
Não sei se quero saber o que não sei o que é e que quero saber...
E sei que quero saber.
Também sei que sei - e nada mais!
Sei que sei que sei, me inventando sapiências...

Cento e quarenta e quatro mil
Se um número pode ser um verso -
Permito-me:
O carinho
Alabastro contra alabastro
Palito de picolé na pôça doce ressequida.
Jogo jogo de peso pesado
O contorno redondo deste fraseado
Sem quem me cubra nem beije boa noite após o chocolate quente.

Minhas mães que me perdoem:
Quero viver para sempre.

Prenhez

Porquê:
Separa eu de você.
Ímpio, irresoluto, preguiçoso novo.
Alta madrugada a lua minguando
Eu e o shin-tzu sem pátria em cama de viúva deslembrando.
Bambu fatiado assassina,
Guardiões da luz espreitam.
Nada pode deixar de soprar -
E o vento... uiva...
A cabana queimou, as cinzas se espalharam,
A família herdou
A relva.
Sorte pela qual:
Define além de eu e você;
Que o Destino é espiralante murcha folhinha em queda.
Que Deus é a síncope dos tristes ódios
E o stacatto melancólico da alegria não pode ter nome!

As paredes - frias:
Todo canto em recanto reprimem,
Todo pranto lisas inertes aprisionam.
O verde chamusca - e dez dedos estalando juntos!

Em brincadeira de saci, corte fora as pernas demais:
Sem raiz rija brotam o orvalho do rosto da planta
E a vida calor da aquarela.
Sem receita nem palpite cura-se-se:
A fé.
Oliveiras crescem só ao azeite?
Ou o propósito governante é assim desconcertante?
Razão através daonde:
O papel virginal - nem eu nem você.

Simplória destreza
Cães ladrando contando dos solavancos do dia,
Dos barrancos por onde rolam sem volta os homens...
E o Branco numa noite estridente
A sugestão do frio adjacente
Sussurrando a um e outro amante em sonhos que se esquente.

Mil lisonjas sem rumo, e, ah!,
Que sei eu de mim?
E por que hei de saber?
Natural... porquê haja você!

ESTÓRICO