Teima

Na esperança inventei o amor
E pela sanidade me fiz cético.

Da ilusão da fé nasceu o valor
Abismos e horizontes da virtude
Longeva e também fugaz estória
Que tudo passa passará
Mas nós passarão.

Assobio cantarolo deságuo mágoa
Apito partidas imploro abraços
Viva filosofia ornamental paisagista
Dos teatros florestas dos terreiros eletrônicos
Tremeluz em verões o capim dourado do agreste perdido
Comícios revoltas cegueiras e bençãos no cotidiano transmoderno.

Ode cáustica de perfeição
Quase abominável pérfida realidade
Transgressões mil do novo império romano
E calipígios mestiços no pórtico eterno do maracatu.

Quem admite afeição pelo fétido?
Quem assina petição por bom faro?

Nem sempre siga a deixa do anfitrião
E lembre-se que é de pessoas que o mundo é feito.

Ofício

Dedos e juntas alongados
Oblongada de bacia e dinâmica
Soltura leve na entrega à comunhão
Da cadência sublime do ritmo universal
Repuxada nordestina com pitada de arábia elétrica
O monstro seguia rolando o novo movimento germinava.

Que batuta herdamos?
Ah hipertrofia de antebraços!
Ah sagrada delicada loucura musical!
Entendemo-nos aos solavancos fraternais
Roendo as raízes dos sopros suntuosos
Que missão empenhamos?
Na certeza do som?

Viva o grande sim!

De cigarros tragados
Cigarras humanas se rasgando
Estourando cascas à frágil novidade
Desovamos tartarugal em costas ricas
Surfando as marés temporais do gruve
E nossa alegria brilha como o dia
Pino solar da tropicaliência
Libres parceiros hermetistas.

Que futuro nos cabe?

Se há quem ouça
E mesmo não havendo
Peço clareza
Peço ao vácuo equatorial
Transparência nas íris
Maternas hidratações
E a sóbria nutrição
Peço a todos e a ninguém
Pela concórdia quanto ao núcleo
Pela afinação do espírito
À destreza à ferramenta.

Sinais

Interpretações interpenetrantes
Certos e errados que só cabem dentro de nós
Em nossa estória nasceu a virtude
E também sua antípoda a convicção moralista.

Utopias anarquistas e regressivistas
A juventude desmamada sonha o caos
Do fim das corretagens do fim do controle
Mas destruir só vale se for pra construir em cima.

O medo o gélido trunfo das entranhas
O desconhecido de bacolejos violentos
Os riscos que assumimos pelo vinho
Guerra travada pra se poder fumar.

Entrementes providências e proteções
A previsão da entorpecência acalma
Amaina a fúria infantil em cânhamo
E boa música flui natural dos poros.

O destino sem respiro do insatisfeito
Eterna busca por não se sabe bem o que
E mesmo a tensa evolução do sério do comprometido
Tudo espirala em torno do mesmo vermelho emocionante
Das paixões instantâneas e doentias dos Picassos contemporâneos
Dos orgasmos incomparáveis consagrados somente na agonia do adultério.

Quisera meu mecenas divino
Velho tarado que me sustentasse a poesia
Mas daí o poeta sentaria
Acomodado pela balbúrdia da expectativa
Só diria de temas frívolos
Pra não mais ofender à gleba insensível
Manter o ordenado certo
Mas ai desgraça o que peço é só mais dor.

Desdenho as soluções definitivas
Quero problematizar as certezas
Pra que ao fim do escrutínio são
Saiba-se confluir ardor e amor.

Embolada

Caução aos termos pouco ternos
Às troças toscas que conduzem aos maus términos.

Pia cheia de louça suja
É detalhe que põe família abaixo.

Dar não é nunca pra receber
Mas receber sempre vem pra quem dá.

Eu me dou algo original
Um desejo ardente e genuíno
Tufões me salvem da serenidade passiva
Minha meditação é pugilismo e densas trilhas
Cultivo um tal desapego mas amo mais que tudo à vida
Breve e simples mas bela e completa esta vida única que ninguém sabe por onde ainda vai passar.

Ficou o legado do irmão arretado
Deixou a marca da experiência que levanta e faz
Que pega e ajeita que corre resolve e bota fogo na batucada
Ficou um timbre novo maravilhoso um grave alerta à força em ação.

Epifanias deslumbres
A novidade da cidade pintava sorrisos e cenhos franzidos no forasteiro
O hóspede foi embora maior que chegou e o anfitrião alegre grato fez poesia da concórdia.

Voaram às bélgicas e cearás
Mas ainda cá estão
Amigos irmãos
Bem fundo
No coração.

Sinopse

O amor é o encontro de duas fantasias
Ou é o encontro de duas liberdades?
No fundo sinto que dá na mesma.

Introduções

O gozo é a origem de toda vida
E também a finalidade reincidente
Do gozo viemos
Ao gozo voltaremos
Voltamos sempre que podemos.

Luta diária contra o mofo e o musgo
No acimentado e nas paredes do corredor lateral
Enfurnado nos quartos e no estúdio de som
O líquen desvairado me punge ao peito
Luta diária contra a tuberculose desbragada
Acendo fogueira no quintal pra curar
Sobem os fumos lázulis e liláses
A grama nova ainda tomando raízes.

O sangue prefere passar discreto
Escondido
O sangue prefere passar silencioso
Mistério
Só jorrar nas bocanhas ímpias
Já goela abaixo do predador
Sem desfalques na mística.

O suor banha o corpo heróico
Sóbrio profano destemido
Ele beija-lha à concha
Chupa fora a fina pérola
Da paixão regalada
Do são assanhamento.

Risos de outrora
E más lembranças de que já me esqueço
O dia me nasceu no meio da madrugada
E só soube agradecer
Só soube dizer perscrutado pelo arrepio
Obrigado pai sem nome
Obrigado pela desavença do desafio
Pela prova de fé
Doída solidão leal que floresceu e borboletrou
Sagaz noção do real que projetou e fundamentou.

Devoro-lhe os miolos caro leitor
E minhas tripas saltam soltas pelas pontas de meus dedos
Cocegando o cócxis tímido e retraído da erudição poeirenta
Um sol implode
Vulcão abrupto do vilipêndio poético
Os invejosos escarnecem
E a musa umedece.

Novidades

Cada dia um
E todos dias um mesmo.

Dia sem fim
Dentre órbitas sutis
Dia branco e rubro e incolor
O sol doce como a água.

O novo nasce em cada instante
Todo instante começando
O começo infinito que é a vida.

Holística orgástica
Da realidade fantástica
Capoeiras do mineral
Maracatus relampejantes
Bastidores do teatro
Ferramentas na oficina.

ESTÓRICO