A Revanche

O Amor vai vencer
O Amor vai chegar em novas esferas
Nunca tocadas -
Pra uns será a coisa mais linda
Outros o chamarão fim do mundo.

A insidiosa oligarquia
Roquefélers e seus padrinhos
Vão cair!

Todo caímos
Aofim.

E mesmo que em morte avassalada
Mesmo que em momento de morte de milissegundo de atropelamento boçal
Ainda assim sempre sente o impacto
Sempre sente o choque
Todos e especialmente os ignóbeis -
Os insensíveis
Ah torpe vingança
Os insensíveis percebem sua condição somente naquele átimo
Somente no espamo final
Somente no desfazer-se
Percebe-se
Percebe sua condição.

Triste cabo
Mas bela vingança
Ah bela vingança.

Sim
O grotesco em sua ganância
Há-de sim perjurar escroto até que fenesça
Tão imenso comprazido em sua confortável angústia
Ah sim em seu momento final
Ele há-de notar-se
Finalmente
Ele há-de entender o que em sua condição o tornava irmão
O tornava parte de tudo -
Ah incrível vingança do verde
A árvore ensinará ao torpe moribundo
Naquele único instante
Em que se dá o direito de perceber-se frágil e real
Tão real e perfeitamente preciso tão deslumbrante
Ali o odioso sofrerá tudo
Sim
Se creio num julgamento
É neste.

E naquele último instante
Mesmo que se vaporizado numa queda de avião
Ou atropelado completamente desatento por um caminhão
Não importa quão violenta e instantaneamente ele morra
O choque imprimirá uma marca
Um milésimo de segundo que seja
Em que acata à divina inevitabilidade
E compreende-se a si
Justificando-se também em certa medida mundana
Neste rutilar
Neste nada
Sim
Ele se dará conta
Ele se dará conta da eternidade
Se dará conta de suas escolhas
Saberá exatamente o que em seu corpo esteve definido pelo que em sua vida
Saberá exatamente o valor da origem e de cada instante daquilo que mal percebeu ter sido sua única e infame existência
E
Ah
Deliciosa vingança
Este instante
Ali ele se dará conta
De que suas decisões significaram milhões de perdas similares
Similares e também bem diferentes
Ele se dará conta então do amor
Não poderá escapar-lhe
Lembrará-se
Ah pobre alma
Estará aberto
E se lembrará
Pela primeira vez na vida vislumbrará a mais alta esperança do amor
Compreenderá o essencial porquê
Somente para amargar-se no arrependimento inelutável
Lembrará-se de todos aqueles imbecis que lutavam uns pelos outros
Sentirá em toda sua fúria tudo que lhe é direcionado
Pois que estará aberto
Verá o verdadeiro valor de seu tempo
Somente para se dar conta de que ele acabara.

É esta a suprema vingança
Seu julgamento virá.

Certamente virá
Como este último instante ao menos.

Se há qualquer algo no universo que ouve
Se há algo realmente imensamente poderoso e inteligente em nome do amor
Que ouve os pensamentos que desdobramos como orações sem voz de nossos corações
Pra esta voz
Peço criatividade
Para lançar-me ao abismo corajoso
Não temo meu término
Tremo em meus termos
Ah é esta guerra que quero lutar
Pela Paz
Libertem-se
Libertemo-nos
Abram suas mentes.

Abro-me à minha condição
Isto tão tão pouco que é meu tudo.

Meu tudo.

Este tudo que é meu
Não que tudo seja meu em tal sentido.

Quem sabe este não seja o axioma exumado?

Talvez
Talvez não tenham devotado-se à questão inferente
Os obcecados pelo poder
Fanáticos do lucro
Azedos bufarinheiros
Talvez não tenham se dado conta de que o tudo que lhes pertencia não era o tudo que a todos pertence
E sim somente o tudo do si que a cada um pertence.

Pertenço-me a mim
Pedras e cascos à parte
Sou a vitória de mim.

Quero minha liberdade
Diabos quero minha predestinada liberdade!

Quero o sonho fulguroso
Dos samurais mercenários de Fidel
Trucidando a máfia do sistema bancário internacional
E dando ao mundo linha
Ah linha
Pelo amor de todos os deuses
Linha ao homem
Linha ao amor do homem.

Pra que mergulhe à treva calmo e lúcido
Paciente
Na pesca moderada harmônica
Pra que esvoace azuis e chumbos
Ardente
Como papagaio verde e amarelo com sua rabiola alegre
Linha ao homem
Linha ao amor
Pra que as estradas se entrelacem em torno do mundo
Pra que todas direções enrendem-se
Em tranças luminosas transparentes
Cristais rosas solertes
Linha pra que todas nossas teias se interpelem
Façam fibra
Firme tênue esgazeada
Fibra de seda de teia de mel
Densa pouco a pouco
Tecida pelos sonhos dos andarinhos
Esticando as linhas da sabedoria
Ah dou linha
Dou linha e já em pouco ela se me faz indisponível.

Ah o fim da linha
Ah os porquês e poréns
Desavenças dos desbens
Ah esqueço-me dos objetos
Quero ser tudo sol e nada mais!

Ah o fim da linha
Nobre pausa
E vejo meu carretel
Reclamando
À gravidade do vento incitando
Sussurrando um urro de júbilo
Urro jubiloso silencioso da linha que quer se despregar do carretel
Ah e meu carretel
Que sempre usei sem nó
Que sempre brinquei de ir deixando assim quase livre à tormenta
Range também quase escapa entre o suor forte dos dedos!

Ai fim da linha
Já sei que me invento
Faço-me também catavento
Mordo a linha pela ponta
Vou bater asas e o pipa que me leve
Me ensine a voar
Ah sim
Ah suntuosa supresa
Banho em nuvens de morango
No cair da tardezinha
No sorvete de azul
O pipa me arrasta pelos céus
Entre nuvens mais e mais escuras
Parece atraído pelo tufão
Segue reta direção
Quer o âmago da tempestade
E me deixo arrastar
Me afogo em frio sem peso
E a vida se me escalda
Fremo pés me enrodo e valso
Vejo a trovoada escondida
Faíscas monstras rubras esverdejantes
Nadando dentre nuvens dum tornado
Dum dos grandes
E sem querer querendo
Se me solta a linha
E já sei voar
E já sei crer
E sigo a rota da emoção
Sigo o pipa vórtice adentro
Sou grato por ser leve
Rebocado pelo peso do amor
Peso infinito e paradoxalmente sutil
O Amor são todas as gravidades.

Todos os pontos em alinho
Ah incrível harmonia
Ah maravilha tão banal!

Supero-me
Vou além de minha vingança
Deixo-me levar altivo
Ao zéfiro final
Esquecido de meu medo
Vou de encontro ao funil
Não sei mais que fazer
Dou-me por amor
Dou-me à razão áurea
Dou-me radial
Xamã pretenso de subúrbia -
Não é por vingança que realizo-me
Mas ah bela vingança faço-me esquecer de ti também
Que a grande obra não há-de nascer duma vingança lógica contra um oblivion asceta já manjado.

Sim
Ela será a vingança lógica perfeita contra o oblivion asceta já bem manjado
Mas não porquê tenha se empenhado em ser isso
E sim porquê tenha se empenhado em abrir-se ao amor.

Ao poderoso regulador
Médico e louco inato
À verdadeira escola
Ao sapientíssimo estudioso
À busca pela grande saúde zoroastra.

O Amor há-de vencer
O Amor sempre vence
Dum jeito ou de outro -
Uns verão deuses descendo dos céus
Outros dirão que foi tudo uma grande armação.

Psinapses

Tão belo e acessível me pareceu o mundo esta manhã
Tão perfeitamente pálpavel e cheio de sentido
Sentido radial sempre mas sentido afinal
Profundo e verdadeiro sentido humano.

Me desfiz do respeito da gleba
Outra falange me devorou
E desta não pretendo fugir -
Desta pelo avesso
Só vejo futuro
Beneverente futuro
Máculas e dores
Sim também claro talvez como não
Mas ainda
Claro e sumptuoso futuro
De amizades sinceras
Entre seres tão diversos
E tão afins
Amálgama pagã
Livre de rótulos
Livre de inseguranças e egoísmos desgovernados
Livre da ganância asceta e dos dessabores dos dogmas -
Ah vertiginosa queda
Dos anjos modernos
Ainda presas fáceis aos bramanismos e cristianismos
E veja bem
Que não dispenso à mística inegável
Compreendo sua inexplicabilidade
Compreendo sim organicamente o mistério de sua glória
Mas a mente é só uma ferramenta
Me faço aceitar
A mente é mera instrumento ao instrumento maior
Coração pulsante
Claro que neste caso digo mente querendo dizer razão
Mente no sentido vulgar de componente lógico da alma imortal
Que há também a mente no sentido de controle ultramagnético do relâmpago interno sagrado
Mente no sentido de abertura do labirinto e ativação completa do cerebelo.

Não quero usar a ciência pra confundir aos cheios de fé
Se Deus existe
Que importa
Ele certamente há-de estar preocupado consigo mesmo tanto quanto nós estamos conosco mesmos
Por isso
Melhor não esperar muita coisa
Como eu ao menos aconselho que não se espere de mim.

Não sei nem mais se dou
Se sou
Se o que fui e o que é se entrecruzam.

Creio que viver seja dar
Mas dar a ninguém -
E daí por isso tão fácil a intervenção divina neste ponto.

Quem se conformaria
Em viver uma vida tão cheia de obscuro sofrimento
Em nome de ninguém?

Em nome do vazio cósmico
Ou do inanimado solar?

Quem se contentaria
Com o fato de que todos os momentos
Todos os sentimentos
Que inclusive costumam passar tão quase completamente despercebidos
Tudo enfim que há
É em nome de ninguém?

E então o grande desafio
Poderei viver minha vida
Tão cabalmente banal
Somente em nome de mim mesmo?

Poderei me conformar
Me satisfazer e gozar
Na iminência do silêncio desastroso
Do anonimato irrevogável?
Serei um dia feliz
Sabendo sempre que tudo que faço
Só pode ser em nome de meu coração
Em nome de meu coração de carne e músculo
Completamente insano em sua crueza?

E uma gama nova de valores salta à vista
Ah graças aos bons céus
Os ventos sopram e frutos maduros quedam das copas em meu jardim.

É este o hábito que quero
O que é em nome de meu coração e nada mais.

Não em nome de minha inteligência
Não em nome de minha vasta cultura
Nem mesmo em nome do conhecimento
Da evolução da honra da virtude nem mesmo em nome do próprio Amor!

Se há Amor
E sei que há
Agora me dou conta
De que ele é o que se faça em nome do próprio coração.

Não em nome do próximo
Não em nome duma pátria melhor nem dum mundo mais justo
Não em nome de qualquer entidade
Não não não mil vezes não!

É meu silêncio que me fará justiça
Silêncio que ouvirá meu próprio coração
Na treva de meu tórax
E tirará disto os desígnios de meu espírito -
Em nome deste silêncio que quero viver.

A Cura

Ferida aberta
Exponencialismos
Dedos entre dobradiças
Unhas perdidas em topões
E o risco às raízes
Trunfo da regeneração
Às vezes perde-se um membro
E eles não nos crescem devolta -
Distante o réptil em nós.

Penso na cura dos insetos
Será que há?
De que adianta
Perguntaria o utilitarista
O dom de fazer-se sã
Uma formiga aleijada?
Voltará ao ventre da comunidade
Mártir
Oferece-se em holocausto
Aos fungus reais?

Um pouco da escola espartana
Fosse resgatado e recriado
A boa e velha lei
Do mais forte
Do soldado
A verdadeira seleção natural
Reprimida pelo simulacro da declaração dos direitos humanos -
Tanto crime vil
Ah quanto sangue maldito
Sob as grandes boas coisas do homem
Quanto horror indecifrável
Na origem do que diz-se o civilizado.

Quadrantes esparsos
Psiquês móbiles
Valsam minimais.

Não há que explicar -
Só rindo!

Máximas catalíticas
Dadaísmo refratário
Desenhando arco-íris subjetivos
Despencando em cascatas de mamatas
Densos estudos
Entregues de bandeja -
Vai de quem lê sensibilizar-se
Notar as chagas soterradas
Exterilizar os locais
Costurar cauterizar
E se renovar.

Mixolídios

O xis da questão
Sonhar e amar
Sortes e revézes no jogo da vida.

Pranto desesperado eclodido
Ao me aperceber que a última grande guerra dos homens
Foi entre o mundo que queria tudo para todos
E o mundo que queria tudo para ninguém -
O capitalismo venceu.

O capitalismo venceu a grande guerra.

O mundo eram socialistas versus capitalistas
E o capitalismo venceu.

Olhando assim simplesmente
De repente explodi em pânico
Mal podia crer
Na lição absorvida tão tardiamente.

Quisera transmitir ao próximo
O suave calor desta modéstia
Imponente calmaria guerreira
Quisera fazer vislumbrar ao incrível em nossa fruição
Este amor que acalento
E que me sustenta
Amizades fundas e veras
Que desejo a todos
Que desejo a todos que enfim alcancem estatuto pra isso.

E quase vejo este amor em contraste com a vitória
A grande vitória do capitalismo.

Me exaspera
E dum modo exagerado me sinto insosso
Talvez por estar sufocado na mídia
Meretriz do bizarro da carnificina
Me exaspera esta vitória
Me fere
Ah como fere meu coração
Ah como rói o verme
Como me é incompreensível isto
Esta nossa ignomínia
Transparente
Minha nossa tão transparente translúcida
Nossa estupidez pra com o organismo
A estória de nossa terra.

Que esquecimento
Que mortal perdição -
Mas me imponho então dúvida
Enfim repenso
Digo quem sabe
É talvez quem sabe
Não tenha sido algo tão fundamental
Talvez a aparência deprimente ípsis líteris
Talvez a lúgubre aparência tão tão real tenha uma explicação inocente
Mesmo que perversamente violenta ainda assim inocente em sua medida humana -
Talvez o socialismo soviético fosse afinal cooptação a uma ainda mais obscura cegueira
A um ainda mais profundo martírio espiritual.

Mas quem tem tempo pra tais talvez hoje em dia.

O dinheiro respira
Abstrato já
Que o ouro hoje é lastro mais à alquimia que ao mercado
Que o mundo hoje se vende e compra a título de hipnoses
É esta a corrência moderna
Bota-me em transe exige a moribunda
Bota-me em transe e delírio reconfortante de transe abandonado
Bota-me em desconfiança e ânsia de partipulação intransigente
Imperialista irrazôneo -
Interrompo-me
Por alegrias de desacasos
Desacordos ásperos.

Que importa minha lacrimação estéril
Que importa a parafernália do rancoroso.

Quero sol
E sol hei-de ter.

Quero sol
E já o tenho
Mesmo que sob luar carcomido de foligem de escapamentos
Vem-me o sol
Pelos cabelos adentro
Vem-me o paterno
Duro em sua nitidez
Resolução infinitesimal
Do ventre da memória
Do núcleo do agente
Da essência do ator -
E sorrio
Como não houvesse nada mais que fazer.

Sorrio
Pois que não há nada mais que fazer.

Infusão

Sim
Quero o mundo
Quero que todo o mundo veja
Que o mundo todo veio me ver porquê dancei a valsa do dourado.

Palco aberto
Mundo estranho de meninos de rua
Mundo belo de cardumes de piás
Caboclos ainda no século treze
E uns e outros pralém do doismiletreze.

A fonte sagrada balbucia
Reprimenda salutar
Duma vadiagem imberbe
Troçando soluços
O barro inflamado do crepúsculo
Rosas e lilás em nuvens deslizando tranquilas
Ah como vale pra mim esta bobajada
Quanto me ajuda a evoluir
Isto um tanto frenético um tanto lacônico de minha parte
De dizer a mais verdadeira mentira do mundo
A mais honesta mentira
De transitar éons terrenos
De ir e vir e ruir e tornar
De brincar de dançar em torno dos centros
Pra depois a sorrir
A chorar sem lágrimas
Contar que era tudo pra voltar a se olhar -
Quanto me ajuda
Quanto me faz bem
Quanto me faz evoluir
Isto um tanto pálido um tanto moroso
De eu desconversar o radialismo matricial
De saltitar entre as esferas das harmonias e do caos
Metaprosado prezando bem com gloza
Ah minha santa criatividade
Vivacidade inelutável de minha transitória morada
Ah corpo meu
Antro sagrado de meu momento
O Instante Presente
Ah voa
Benévolo
E furioso em sua benevolência
Plana acima dos cumes
Solo usualmente
Pois que ave de rapina.

Quem sabe o deletreio do martírio deleitoso da consciência
O supremo recomeço duma receita insólita
Seleta nova de hábitos e costumes
Somos os novos inventores
Tarefa fascinante -
E quero meus valores porquê quero filhos
Quero a multiplicação de meus valores
Na forma de espíritos livres
Libertos deste azul índigo
De misticismos exacerbados e toadas exorcistas
Ai leitor
Se te transmitisse secretamente
Dalgum modo pela valsa das vidas
Isto que me punge ao peito
Um afogamento em plena luz do dia
A plena luz do dia em angustiante meianoite
A esquina que dobro
Ao me redobrar e desdobrar
Em compassos sinuosos
Lascivo e leal
Pacífico como a tristeza que ama a si mesma
Que ama a afirmação de si
E que cresce e digladia consigo mesma
A tristeza que não se permite senão expiração da fadiga
Tristeza férrea tirana
Em açoite masoquista
Escola do rir-se de si mesmo.

Ai dos pontos finais
Ai dos espaços que cremos ver nas ranhuras falsas entre os objetos
Mas o pé quente me ajuda nesta hora
A vara de pesca pronta e a isca fresca também.

Vou de bóia ou de bote
Se precisar eu remo
Só se precisar claro
Deixe estar à corredeira
Arriba ao ribeirão
Cruzo uma prima do Maranhão
Carolina flôr do sertão
Ah musas amadas
População de meus sonhos
Impressões digitais espectrais de olhares inefáveis
Torrente amena
Quase imperceptível a desgraçada
Quase imperceptível repito denovo e denovo
Ah quão tórrido me faço em paixão imaginária
Decretando zeros e uns no coração da galáxia
Sei das cores
Dos sons
Que fluem escondidos
Despercebidos no mosaico tecnosférico
Os vermelhos debaixo dos laranjas e marrons
Os beges e cremes debaixo dos marrons
Virgem Maria rocamboles espirais
Tão perfeitas as viagens da vida
Em sua abundância absurda
Pura inutilidade concretista
Em forma de vida marinha e aérea e afim
Moluscos fluorescentes
Na treva mãe do mundo
Leito do poço do amor
Vulcões perdidos
Dando vida inexplicada ao cobre e ao estanho
Fato estranho
Ela brota
Sem regra nem medida
Completamente desumana no bom sentido da coisa
Pura extravagância libidinosa
Todas as espécies são este cântico
Orquestra das famílias e dos partos
Os pássaros se encontrando e amando pelos assovios
Linguagem soberba do tom
Tom recluso do sentido da terra.

Recuso indulgências
Visto máscara de fauno
Coringa insidioso
Trajando longo casaco sobretudo cachecól meias botas
E nada mais.

Homeoxtático

Sonho inalcançável da vida perfeita
É o que sugerem os maduros.

Mas e se o mundo hoje é outro?
E se o mundo que eles vêem estiver distorcido
Debaixo de suas mesmas vidas
Distorcido pela própria experiência
E por isso condenado pela própria sabedoria?

Ah se esta juventude se desse conta
Ah se se desse conta da imensa guerra distante e debaixo do mesmo nariz
Juventude de mil facetas pluripolar
Renascentismos heliopatas
Gomas sortidas dos imprevistos
Nossas visões perturbadas.

Ah juventude de sangue de aço e enxofre
Roendo as enciclopédias da covardia
Quisera prostrar-lhe ao semblante tua mesma responsabilidade
Teu mesmo abismo funesto.

Nossos antepassados surreais
O fim da lógica do hábito
O crepúsculo dos deuses
Despeitando o clero persistente
Abaixo às sintaxes preludiosas
Abaixo às predições e predileções sinistras!

Sopro de mim
Que roga
Trazes o vento alheio ao meu seio
E faço-o meu
E me desfaço de tudo então -
Ah como quisera prostrar-lhe à face tua mesma responsabilidade
Ardil leitor.

Ah tú ó paciente!
Sapientíssimo!

Nos cabe
E cabe a nós -
Ser o que formos.

Pois o que somos
O que somamos
Isto é além de nós
É um antes de nós
São nossos sentimentos
Herdados de nossos avós -
Contrariedades ungidas ao berço
O vil encaixotamento urbano.

Engulo seco
Ora bebo
Ora fervo.

Nuvem daninha
Recíprocas
Sortilégio esfamaido
Dádiva vampiresca.

Ah sou vampiro do violeta
Imortal sob o sol
Tácito delinquente.

Dá-me tua ira
Dá-me teu sangue bastardo!

Faz-se-me presa
Dentada à jugular
Sugo-te o sumo
Esvai-se tua fé -
Ah indolente dá-me tua ira!

Dá-me teu ódio intoxicado
Dá-me teu conforto tua vigília dá-me o soberano em ti!

Destruo-o
Vês?

Faz-se poeira
Tua idolatria
Simbologia simiesca.

Arrependes-te?
Dói-lhe descer à instância do funil?

Força eia!

Ergue-te
Sacuda as juntas
O que restou.

Ah enfim página branda
Ah página branca -
Saúdo-me a mim.

A terra devora minhas entranhas
Mergulho solto plasma adentro.

Em frente
À Vida!

Sempre à vida
Sempre em frente à vida comparsas!

Em anéis e rodeios
Andagens aleatórias
Em empaques e pressas
Estanques ilusórios -
Sempre à vida sempre em frente camaradas!

Na direção difusa que for
Depois do limiar profuso -
Sentes já o retorno o sucesso?

Túm-túm
Dissera noutra feita -
Túm-túm túm-túm fustiga O Coração
Sem folga
Até que -
Até que.

Malemolência

Olho de canto
Chego encanto
Mando canto.

Desvesgueio
Encaro um instante e fujo
Pro soluço de já ir te olhando denovo.

Tremulo
Tento
Atento intento
Trocentas gargalhadas
Transa louca
De paixões de bem e de mal.

Bandeira branca por natureza
Embebida em vinho e petróleo
Inocência do mundo que se foi
E a vista esbugalhada frente ao que vai indo
Que não pára de ir
Ah benza nossa senhora não pára jamais de ir.

Enigma esfacelado
Da comunhão esfuziante
Esquizofrenia comunitária
Tanto que somos e implicamos sem saber
Tanto que cada mísero um impressiona e assombra em seu fluxo tão banal.

Ah quanto me assombra uma pequena formiga
E mais se eu a tiver esmagado sem fé nem culpa nem remorso
Uma morte que às vezes vem de um simples passo meu
Morte singular na ciranda estranha
Tão dolorosamente irônica.

Ah sim não pode ser à tôa que o pranto deslanche
Não é sem lógica que o bebê faísca risos guturais em seus gestos primordiais
Não é sem inteligência que as espécies todas competem entre si.

E além das tangentes do irreal
Zilhões de milhas ao fundo
No pináculo do estar
A alma na palma do pé.

Minha fibra toda expande
O despertar radial.

Eu sou uma esfera em expansão
Transpiro minha dor minha insegurança
Sou uma pedra de plasma infinita
Na síncope de minha desatenção extraordinária
Soma quântica
Massa sem nome
Angústia prenhe de epifanias
Fogueira tosca das emoções
E o gelo eterno do labirinto.

Tão curtas as distâncias em nós
E tão imensas as distâncias além de nós.

Bailo com o vazio
Faço-o rodopiar
E o preenchido cocegueja
Sopro incerto de nonada.

Chuvas de pétalas de rosas
Procissão de paganismo são
Sinto minhas mãos
E elas querem falar por si.

Elas querem responder por si -
A Grande Emancipação Das Mãos?
Talvez
Ah conjuntura perversa
Talvez sim talvez
As mãos dizendo o que for
Que dirão?

Morfologia incompleta
Alimente-me de musas
Quero o néctar acre
Catinga festiva
Quero os sovacos
As urtigas os furúnculos
Provar da cêra do ouvido
Quero voar com os pés na estrada
Voar sempre em luz e amor
Que é isto minha paz
Meu sabor
Daí vêm todos meus textos
Sou minhas mãos em confissão
E elas dizem que sou vôo de mãos e nada mais -
Sou grato.

Somos gratas
Se assim convém ao icônico.

Elas livres
Me pedem conselho.

Eu lhes digo
Corram
Batuquem
Digam o que meus lábios e garganta não sabem não podem não devem
Aqueçam tudo que o amor em meu olhar não puder vislumbrar.

Casa De Espelhos

Tenho que encontrar uma saída
Me resolver
Respeitar.

Não há socorro a clamar
Não tenho cura senão crescer.

Estou doente e louco
E isto foi certa feita minha cura
Mas veneno e bálsamo partilham teto
Fina a linha separando alívio e martírio.

Quero mais de mim
Preciso viver uma vida extraordinária
Além de cobiças e fantasias de orgulho e vaidade
Quero demais
Quero mundanamente
Quero da mais traiçoeira maneira
Porquê quero do jeito que posso querer.

E se me impeço
Não sei se por medo ou por preguiça -
Sentado num bilhete premiado
Esperando Godô?

Ah meu precioso tempo
Ah maviosa lira
Ah lógica pavorosamente simples
Minha saúde exigindo foco e ação
Eu psicanalista ideal de mim
Preciso me corrigir.

E não há ajuda que pedir.

Sou eu meu médico
Eu meu melhor amigo.

Não que não tenha melhores amigos até os tenho mais que se aconselha
Eu meu pior inimigo de mim também
Maquiando fel.

Preciso da clareza de minha saliva
Quero bochechas reluzentes
Surfar correr voar plantar.

Sinto-a perto.

Sinto-a.

Sou abençoado
Pois desisti de entender minha paixão
Desisti de encontrar o porquê de amar e querer
E me violei
Graças ah graças
Me violei
Evitei conclusões e diretrizes
Amo-a incompreendendo
Sinto-a perfeita
Ardente como minha manhã dourada
E refrescante como o banho de água de côco.

Dá uma paz estranha
Saber e não saber.

Babilônia bubônica
Me represando em empregos
Faço tudo de pontes e valsas -
Quero unificar todo lilás
Gingar com o infante
Ah singela cegueira
Ah sabedoria excessiva de meu sol
Quanto tempo desperdicei
Preciso de mais.

Preciso ser mais forte
Preciso do ódio
Encarar em mim o que há-de ser aniquilado
E não prestar honras
Nem emitir sentenças ou cuidar de tratos fúnebres.

Lanço ao sol.

Lanço ao sol o fraco
Ao sol o desobediente em mim
E também o péssimo líder em mim
Conformidade lastimosa!

Preciso evoluir
Verdadeiramente
A plenos pulmões
Preciso correr
Do vento gélido à face
Da exaustão sem tréguas.

Pobre do que faz guerra contra si mesmo
Estará em guerra mesmo em tempo de paz.

Pobre do que se conforma e consola
Expurgue-se de mim esta escola
Faço guerra contra mim e hei-de vencer!

Hei-de triunfar sobre mim!

Preciso de minha saúde.

Por amor de meus filhos
Quero-os livres
Correndo em plenos pulmões -
E mesmo que eu morra sem deixar herança alguma
Que morra ao menos com a possibilidade viva duma herança próspera.

Quero meus filhos tranquilos
Minhas filhas firmes.

Por isso preciso ser pedra
Pena de pedra
Se convém a parábola.

Pena de pedra
Em tinta de sangue
Ao branco de linho.

Conta a estória duma vontade
Uma fúria
Iconoclasta
Buscando mais que a união mística com o tudo ou o nada.

Quero apnéias no Hawaii
Remos em botes no Niágara
Pular do alto Everest de asadelta
Roubar o maior diamante do mundo
Quero quarenteduas esposas
Mil e um filhotes
Ah que família bizarra me concedo em minhas neuroses.

Preciso me curar
Quero ser elo sólido
Dar exemplo pra família
Marcar presença
Quero ser ágil esquecer o que é dormir.

Transpiro
Transfigurado.

Não transvestido
Por favor eim
Apesar de sim transviado
Transado talvez vai do gosto
Em transe protonauta
Meus poliedros psiônicos
Encaldando no transmute
Nossas masmorras e sinagogas
Palmas dos pés e pêlos da nuca -
Vou beijá-la à orelha
Ah quero devorá-la
Preciso do amor perfeito
E ele só depende de mim.

Vou e volto
Me concedo folga
O pito exclama e proclama
E que posso fazer da liberdade inelutável?

Sou o que sou
Tudo é o que é -
Claro com toda infinita interação transpassante.

Preciso de água
A cura do frio.

Água e gruve
Um pedido de socorro enterrado
Vou me curar
Crescer
Devo me superar
Preciso da força pra destruir e criar -
A borboleta de novo me salvou
Resgatou-me do limbo com seus negros e vermelhos.

Graciosa borboleta
Agradeço-te
Em meu silêncio desperto -
E já vou me desterrar
Vira e mexe vou pecar.

Ah degradação tão humana
Chega desta melancolia parnasiana!

Conformidade lastimosa!

Chega de meios termos
Chega de bulas de farmácia
Chega desta decadência -
É tempo de mudança.

Posso sentí-la.

Preciso dela.

Mas não posso me apegar
Não posso torná-la refúgio nem doutrina.

Permito-me o dom
A dádiva do controle.

Quero ser mais
Preciso viver uma vida extraordinária
Além da barafunda dos tititis e dos modismos
Quero minha obra consumada
Em apuro técnico surrealista.

E então o choque
Quero a crítica de meus filhos
Que me acusem de seus atavismos
Pra que a alvorada hiperbórea nos alcance.

Significado

Começo com um tom
Um mote.

Não é tão somente uma intenção
Vide que minha ação é em sua maior parte inércia inevitável.

É talvez um tema
Um dedo apontando uma direção difusa
Que indica não uma localidade a se perseguir
E sim um momento em que mergulhar.

Aqui
Aponta o dedo.

Aqui
Este momento
Agora.

Quase faz uma contagem virtual
Sibila pracima e prabaixo três vezes
Como batuta de maestro indicando rota
E quando estanca o derradeiro um
Aí está solta
Voa a canção.

Ou ao menos supõe-se que voe.

Voa enfim a prodigalizada
Voam tantos gênios.

E este dedo
Gesto bastante desprezível
Numa pletora de quimeras cosmopolita
Versa da soltura
Do espírito aterrado que voa o vôo do mundo.

Órbita singela
O pequeno dedo giróla.

Acompanha o compasso.

O Compasso.

A Harmonia.

Não como uma desistência qualquer
Nem mesmo como uma abstração redentora.

A Harmonia Das Esferas.

Sim.

O encontro perfeito de todas as esferas
Suas infinitas tangentes infinitamente tangenciando-se entre si.

Sim
Canta o supremo mantra.

O silencioso e indelicado sim.

Ele é som e nada mais.

É esta a grande ciência
O ruflar de asas humanas
O soberbo sonho da vigília
É este o grande enigma
Ah como pôde ser tão ignóbil como pude eu mesmo ignorar por tanto tempo -
Ah sim é dança
Sempre a dança
Minha corretagem serena.

E me dou conta de que toda minha dança perfeita não foi senão desenhar esferas com meus dedos
Mais ou menos cegamente
Desenhar esferas com meus focos
Com meus dedos dentes e punhos
Desenhar esferas de lembranças e surpresas
Esferas de sonhos e alegrias esferas abraçando uma esfera infinita
A Esfera Infinita
De que nenhum jamais pode escapar.

Afinal insira risos cá estamos.

Ao menos por enquanto.

Padronizadamente talvez eu devesse sentir neste momento uma ânsia de criar uma opinião pessoal acerca de minha mesma pessoa.

Mas que importa!

O sol me renova
Apesar do negrume noturno reger o horizonte.

O sol se esconde
Ou nós que damos-lhe as costas
Quem sabe
Dizem por aí as horas dos relógios
E contam os dias para o último dia do sofrimento
E eu ímpio consagrando ateísmo em trilha de buguiuguis cósmicos.

Os bichos todos sabem tanto mais
Partilham árvores todas as espécies mui mais sociavelmente que a gentama burguesa em seus condomínios privativos -
Sem doença
Os bichos se amam
E o temor que há é só esperteza do menor vislumbrando a fome do maior.

Conhecem-se mútua e profundamente
Cúmplices duma contemplação quase
Não fosse o instinto feroz a inalienável lei.

Seja como for
Testemunhas
Boquiabertos frente a obras relatas.

Partilhando dum suor
Obreiros rasgando a pedra em busca da imagem reclusa
Lascas voando estalando longe
O pégaso que no mármore repousa
Pouco a pouco se liberta
E sem pressa nem apego o criador abandona a tarefa
Quando sente que a opacidade inerente respirou
Dando brilho ao pálido
Brilho sem prova
Escondido
Vermelho pulsando na testa inundando a vista
Dando calor à cor
Vermelho secreto em minhas íris
Paixão pela flôr
Que me arrasta ao jardim
Suas delícias tilintantes
Odes marrôtas
Sujas de barro
Beijos de bafo dormido em manhãs inesquecíveis.

Esquecidas e inesquecíveis
Sobrevivendo como borboletas em meu estômago
Como o amor pelo próprio ato do desejo
Como a entrega à música
E o imprevisível de seu avesso
O tema desbobrado reboteado
Espelhando a dedicação
Numa técnica inconsciente de sublimação -
Chamem como quiser
Eu
É a isto que eu chamo Amor.

ESTÓRICO