Metronomia

Fraseados e convenções do espírito
Polirrítmos em progressões geométricas
Vou brincando de florear e sincopar
Alterno bases no esforço por relembrar
As tonalidades interinas ao sabor da ginga.

Faço música como danço
Punhos e tornozelos prolixos
À direita precisão e perseverança
À esquerda paciência e elegância
No foco único do tiquetaque
Em marés de alegria sônica
Conto estórias de beiços selados.

As emoções vão se inventando
Do compasso aprendo tudo
Cada dia um novo dia um novo timbre
Valso lâminas de ximbaus e ataques
Conduzindo a carroça de meu destino.

Deslizando à superfície do oceano
Tangenciando a grande esfera do mundo
Em manulações naturais vez ou outra um mergulho
Os remos da nau percussiva girolam cadências secretas.

O contraste é a chave
Entre grave e agudo
Luz e escuro
Explosão e quietude
Nas oscilações temporais
Alça solo vôo a águia
Paira com as brisas altaneiras
Por modulações métricas perfeitas.

Quero sempre o trabalho na cozinha
Nosso caldo fumegante de revelações
Grandes descobertas que fazemos
Traduzindo em gestos a abstração
Fundindo em fartura a imaginação.

ESTÓRICO