Saturninas

Desabrocha o denso sabor
Ao largo vale da concórdia
Vem em hera e cipreste
A primavera imprevisível vai trepando meus calcanhares.

Meu medo e meu ódio engasgam
Sou o gozo do improviso
Destroçando predicados
Em abraços sérios e fanhos
Longevos louvores às retiscências perdidas
Crochê sem nós
Queimo os pés andando sobre brasa
Tiro teimas num bom banho com sabão
Juá aos dentes sigo na contramão.

Família próxima e distante
Família de sangue diamante
Tomo-te bruta pedra laica
Tosqueio lasco voam as rebarbas
Dodecaedro em solipse transfusa
Palimpsesto litúrico e pagão
Orno-te violeta ao peito.

Saudoso marrom sob meus pés
Sujeira limpa da estrada
Vai se despregando
Vacilo um pouco e já sou de novo rouco -
Ai desta teimosia
Vou mudar
Já me disse de mim pra mim
Vou mudar e é presto!

Meu ascetismo sem fé
Minha escolástica da dor
Ardo e gelo pra me encouraçar
Sol e regato pra me endurecer
Mátria patrona Gaya mãe
Vou de carona
Bandido do tempo
Cambalhotas invertidas celebrante
Vou soletrar o instigo do mirante.

Sem ideal sem utopia
Sou a lingueta mirabolante
Sou a esperança distante
Sem futuro nem apoio
Vôo turvo ferroso alheio
Sou fermento no centeio.

Busco alcanço
Perco e sigo
Chuto estulto
Sangro e bendigo
Sou enlace sutil rapace
Sou o bote do guepardo
Vela acesa na chuva.

E a cera branda
Escorre lasciva
Faz fomes e sedes
Ama e trucida
Quero sanha
Controlá-la
Ai ingênuo
Me desleixo
Quero mesmo é ser um eixo
Varão do fauno
Quero a lua iluminada
Ouvir pores do sol
Dia a dia
Em cada noite
Quero estar sempre ao teu lado.

E ah caro amigo cara musa
Me interrompo
À imposição
O meiodia meu carrasco
Me cobrando pé descalço.

2 comentários:

Gabi disse...

pé descalço é sempre bom, é pura energia, é o contato!

Gabi disse...

quando escreverás sobre as taurinas?

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