Papoca

Desgraça pouca é bobagem
É o que se apreende à camaradagem
Felicidade é momentânea
Não nascemos pra sermos felizes
Pois se assim fosse
Não saberíamos o que é a dor
Não haveria o contraste cruel
Que ensina o vero profundo valor da alegria
Que demonstra o quão grato se deve ser à brevidade da satisfação.

Claro que não há realmente dever algum
É mais uma invenção
Mas de todas as invenções de obrigações
A da gratidão é a única que me permito despreocupadamente.

Encaro já ao homem e sua inteligência como encaro à floresta à paisagem
Admiro-lhe a força a sinuosa perfeição
Mas não acho-lhe mérito algum
Já me soa descabido recompensar com elogios à chuva
Não há mais senso de dívida pra com a faunaflora
A grande providência divina não é mais que a indiferença universal malinterpretada.

Quer-se a relevância como artista
Anseia-se notoriedade como cientista genial
Quer-se crer que nossa civilização sobreviverá mil milênios
Como se da pós-modernidade enfrente fôsse certa a continuidade da humanidade como a conhecemos
Como se pudéssemos e até devêssemos considerar o essencial do ser humano atual como o essencial imutável do homo sapiens desde a imemorabilidade.

Só sei que nada sei.

O prazer aniquila a dor
Vitória do hormônio do gozo
A vida é pura dor
Em cada esquina pulsante
Mas ela se supera
Ela cria sua mesma anestesia natural
A força em expansão
Expulsa inclusive a ciência
Devora a tudo
Devora cada sensação
Leva tudo ao chão
E a dor intrínseca é esquecida
Se perde do foco
No alvoroço adorável da conquista
Singela beleza sadia
Nos deixa insensíveis
Ah incrível formosidade
A alegria nos embrutece
Nos torna insensíveis à dor
Até que só se consegue enxergar a luz do poder.

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ESTÓRICO