Castelos De Areia

Escorre o tempo por nossos dedos
Escapa entre nossos gestos
Volve e revolve em nossas veias
Tempo sem tempo do eterno agora.

As conexões todas já são
Não há fim algum
Nós rodamos à roda
E isto é o que há.

Uma patifaria
É saber dizer sim à ilusão
Amar consciente da mentira que é o amor.

Assim como percebo que não faz diferença alguma
Sinto tudo vivo à minha volta
E me faço lembrar
De algum pensamento qualquer
Lembrar de sorrir
Vago e alheio
Sorrir acima de mim e do mundo
Sorrir apesar de mim e do mundo afinal
Pois que não há perdão não há retorno.

Se há utilidade nisto tudo?
Se há propósito universal na vida?
Sou bobo mas sou feliz bobo é quem me diz!

Não basta estarmos vivos?
Não basta estarmos remotamente cientes do fato impressionante de que há a vida e de que estamos no meio da coisa toda agora mesmo?
Mas não
Quer-se fazer apaixonar sequencialmente pelo que seja
Quer-se entregar cegamente a qualquer ponte sem corrimão
Por sobre abismo inesperado quer-se ainda dar cambalhota e não se deixa de esperar pelos aplausos
E nada como morrer num erro numa queda nenhum aplauso mais fervoroso que o da queda fatal.

Sigo reto
Por sobre a corda bamba
Não desgrudo pés do chão
Quero ser um coletivo
Quero falar pelos que sonham
Venho à tona de mim
O tempo escorre escapa me foge entre o piscar de olhos
E não sei mais que seja direita e esquerda
Sou urubú-rei planando
Três milhas acima imóvel pairando por sobre todas as tragédias humanas
Ai por demais humanas
Comédias rancorosas o ciúme a inveja
Ai pudendos de nossas almas
Quero falar pelos destemidos
Pelos que superam o nojo e saboreiam o bafo amanhecido
Pelos que estão com todos olhos abertos
Quero convidá-los ao relaxamento
Diabos quero pressioná-los ao silêncio
Mostrar-lhes o lar e a cura que residem na serenidade esclarecida.

Deixo em parcelas o melhor de mim
De grão em grão a galinha enchendo o papo.

Em flores minha primavera
E a indiferença do outono
Sou a febre varonil do trópico
Verão eterno às brisas do leste
Sou o urso em hibernação gordo farto
Encarando com escárnio a alvura do inverno.

Certa feita fôra um conluio de musas
Uma confluência de inspirações
Mas hoje sou descomprometimento extremo
Sou a suntuosa irresponsabilidade do instinto
Surpreso denovo e denovo
Inconformado e contente
Em luto ainda pelo falecimento desta e daquela utopia
Triste sim triste porém lúcido
Revoltado como não porém aberto
Não é um preço alto demais a se pagar
É como posso encorajar ao aprendiz
Não é um preço alto demais a se pagar pela liberdade do sentimento
Perder o prestígio nos círculos sociais deixar de mitigar afagos incestuosos
Abandonar as ânsias de glória e fortuna megalomaníacas se desafogar do oceano sulfuroso da gramática.

Reconhecimentos e perseguições
Salmos calmos
A vida é a arte do caos
É o irreversível decantado
Na via sagrada da reprodução
É o descaso do pródigo
Colorindo a monumental sinfonia inorgânica
Dando espírito às estrelas
Fazendo dançar tudo que ainda pode dançar
Fazendo correr pés e pernas despertos.

Somos filosófos do suíngue
Anatematizando enclaveamentos prolixos
Somos a avalanche desencadeada pelos ecos dos suspiros da entrega
A vertigem ascendente
Escrava da travessia
A nau prisioneira do infinito
Somos os exploradores do erro
Fundindo categorias e desmarcando fronteiras
Como tem de ser
Somos talvez quem sabe um degrau firme
Na passarela frágil da docilidade
Do respeito involuntário
Somos duendes desencanados
Vestindo trajes de arlequins
Suiçamente precisos
Em casta caça de piriguétis
Em nocivo encalço do inédito
Peste infestando festas
Somos a gargalhada incontida
O cuspe descarado às caras do pecado
Faceiros facinhos
Abelhas laboriosas
Nadando no pólen da folia
Fazendo mel de sabedoria
Nutrindo as entranhas da colméia
Estocando o ouro da alegria
Pra mór do incenso não faltar
Pra mór do ciclo não calar.

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