Balada Para Carolina

Digladiando na madrugada
Paixão sem nome rasgando meu peito
Me escapam as lágrimas dum amor perfeito.

Musa distante
Que não tenho esta noite sob meus lençóis
Quem sabe onde descansas
Quem sabe enfim se dormes ou se entregas-te à volúpia
Num breu tão banal de terça-feira
Não sei que há comigo
Não sei que se passa quase me sinto um romântico
Jovem ingênuo sonhando um elo definitivo
Pérfido obrando prosa com viva matéria
Usando-te ah bela ah monumental aparição
Me perco sob teu queixo
Quisera encostar-te neste instante
Ai musa distante.

Em realismo fantástico
Tento esquecer-me do sofrer
Não há tempo que perder.

Não há que determinar
Não há expedições a debandar
Somente desejo estar contigo
E não sei mais que dizer.

Braços de marretas
Dedos de velas acesas
Metamétrico
É erro achar que sei
Ilusão agreste crer-me lúcido
Ócio opiáceo
Sinto algo vago sob minha cútis
Chamo-lhe fluxo porquê evito fixar
Nudez da nudez
Vertem sangue e saliva de meus cabelos.

A roda do dia a girar
Cacti morosos no deserto da glória
Ninfas nuas entediadas
Ai como é pequeno ainda o maior deles
Suspiram aliviadas à alvorada lésbica
E um homem carente se esfacela
Pede sem pedir
Pelo suor das dores do parto
Pela parede branca da boa música
Pelo insólito rubror da benévola maldade.

Selva de meus pêlos
Minha Amazônia em chamas
Brinca manhosa valsa cas cinzas
O futuro do homem virá
Mas não há garantia que o mundo o suporte
Ícaro desmamado
Quantos místicos poentes
A estória do bicho humano tão desentendida
Voz una de antigos sábios
Cantando a vida como doença
Sugerindo enlevar em desavença
Ai dessa rota desalegria
Cansaços amargos por tanto nada se fazer
E pequenas árvores floridas
Rosas roxos amarelos e anís valsando a cadência do alento
O verde incrível explode em mim
E o simpático cachorro resmunga estranho algum sonho insondável.

Desembrulho-me
Afunilamentos
Na memória não cabe tanto
Mas não importa
A vontade é maciça
Desdenho-me subtraio-me de mim
A idéia que faço de mim é um jogo sem regras
Meus ossos são polaróides de faraós imortais
E tanto que corre e subsiste em mim de mim
Já não sei se sou parasita de minha mitocôndria
Aquiles derrocado.

Tantas pessoas em minha pessoa
Poesia pura do clichê
Esboço semblante de michê
E me faço mexer
É funda a noite
É árduo o dia
E a ninfa nua quem sabe
Banhando-se livrando-se do enxofre apostólico
Nua e molhada quem sabe
Fazendo cócegas em si mesma sem notar-me à imaginação.

Os inertes que me perdoem
A prosaica crônica duma vigília
Suspendo-me como boneco fantoche enfeitado
Sacudo das juntas a poeira
Arrisco arisca ginga
Faço melodias à marimba
E o barro duro
Nobre seco portento
De luz ignara e suave
Atravesso-te ânsia minha
E na outra banda de minha presunção
Repouso alegre em confusão
Rolo à relva vou me despencando
Súbito o abismo
Me agarra sem aviso
Estou em quedra livre
Sem medo
A agonia da presença destilada em absinto
Minha sombra vai crescendo
No que o baque se me aproxima
Mas ah cândida liberta rima
Meu coração de estilingue
Lança ao alto a pedra que sou
Mira ao sol
Cega-me a subida
E num átimo de confiança inominada
Na pausa oblíqua do apogeu
Se me escapam minha razão minha lembrança
Não sou mais nada sou pó só moção tração
Deidade em balão de hélio
O empuxo me empurra mais leve que o próprio ar
Meu destino em desalinho é o praonde o vento me soprar.

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ESTÓRICO