Malemolência

Olho de canto
Chego encanto
Mando canto.

Desvesgueio
Encaro um instante e fujo
Pro soluço de já ir te olhando denovo.

Tremulo
Tento
Atento intento
Trocentas gargalhadas
Transa louca
De paixões de bem e de mal.

Bandeira branca por natureza
Embebida em vinho e petróleo
Inocência do mundo que se foi
E a vista esbugalhada frente ao que vai indo
Que não pára de ir
Ah benza nossa senhora não pára jamais de ir.

Enigma esfacelado
Da comunhão esfuziante
Esquizofrenia comunitária
Tanto que somos e implicamos sem saber
Tanto que cada mísero um impressiona e assombra em seu fluxo tão banal.

Ah quanto me assombra uma pequena formiga
E mais se eu a tiver esmagado sem fé nem culpa nem remorso
Uma morte que às vezes vem de um simples passo meu
Morte singular na ciranda estranha
Tão dolorosamente irônica.

Ah sim não pode ser à tôa que o pranto deslanche
Não é sem lógica que o bebê faísca risos guturais em seus gestos primordiais
Não é sem inteligência que as espécies todas competem entre si.

E além das tangentes do irreal
Zilhões de milhas ao fundo
No pináculo do estar
A alma na palma do pé.

Minha fibra toda expande
O despertar radial.

Eu sou uma esfera em expansão
Transpiro minha dor minha insegurança
Sou uma pedra de plasma infinita
Na síncope de minha desatenção extraordinária
Soma quântica
Massa sem nome
Angústia prenhe de epifanias
Fogueira tosca das emoções
E o gelo eterno do labirinto.

Tão curtas as distâncias em nós
E tão imensas as distâncias além de nós.

Bailo com o vazio
Faço-o rodopiar
E o preenchido cocegueja
Sopro incerto de nonada.

Chuvas de pétalas de rosas
Procissão de paganismo são
Sinto minhas mãos
E elas querem falar por si.

Elas querem responder por si -
A Grande Emancipação Das Mãos?
Talvez
Ah conjuntura perversa
Talvez sim talvez
As mãos dizendo o que for
Que dirão?

Morfologia incompleta
Alimente-me de musas
Quero o néctar acre
Catinga festiva
Quero os sovacos
As urtigas os furúnculos
Provar da cêra do ouvido
Quero voar com os pés na estrada
Voar sempre em luz e amor
Que é isto minha paz
Meu sabor
Daí vêm todos meus textos
Sou minhas mãos em confissão
E elas dizem que sou vôo de mãos e nada mais -
Sou grato.

Somos gratas
Se assim convém ao icônico.

Elas livres
Me pedem conselho.

Eu lhes digo
Corram
Batuquem
Digam o que meus lábios e garganta não sabem não podem não devem
Aqueçam tudo que o amor em meu olhar não puder vislumbrar.

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