Casa De Espelhos

Tenho que encontrar uma saída
Me resolver
Respeitar.

Não há socorro a clamar
Não tenho cura senão crescer.

Estou doente e louco
E isto foi certa feita minha cura
Mas veneno e bálsamo partilham teto
Fina a linha separando alívio e martírio.

Quero mais de mim
Preciso viver uma vida extraordinária
Além de cobiças e fantasias de orgulho e vaidade
Quero demais
Quero mundanamente
Quero da mais traiçoeira maneira
Porquê quero do jeito que posso querer.

E se me impeço
Não sei se por medo ou por preguiça -
Sentado num bilhete premiado
Esperando Godô?

Ah meu precioso tempo
Ah maviosa lira
Ah lógica pavorosamente simples
Minha saúde exigindo foco e ação
Eu psicanalista ideal de mim
Preciso me corrigir.

E não há ajuda que pedir.

Sou eu meu médico
Eu meu melhor amigo.

Não que não tenha melhores amigos até os tenho mais que se aconselha
Eu meu pior inimigo de mim também
Maquiando fel.

Preciso da clareza de minha saliva
Quero bochechas reluzentes
Surfar correr voar plantar.

Sinto-a perto.

Sinto-a.

Sou abençoado
Pois desisti de entender minha paixão
Desisti de encontrar o porquê de amar e querer
E me violei
Graças ah graças
Me violei
Evitei conclusões e diretrizes
Amo-a incompreendendo
Sinto-a perfeita
Ardente como minha manhã dourada
E refrescante como o banho de água de côco.

Dá uma paz estranha
Saber e não saber.

Babilônia bubônica
Me represando em empregos
Faço tudo de pontes e valsas -
Quero unificar todo lilás
Gingar com o infante
Ah singela cegueira
Ah sabedoria excessiva de meu sol
Quanto tempo desperdicei
Preciso de mais.

Preciso ser mais forte
Preciso do ódio
Encarar em mim o que há-de ser aniquilado
E não prestar honras
Nem emitir sentenças ou cuidar de tratos fúnebres.

Lanço ao sol.

Lanço ao sol o fraco
Ao sol o desobediente em mim
E também o péssimo líder em mim
Conformidade lastimosa!

Preciso evoluir
Verdadeiramente
A plenos pulmões
Preciso correr
Do vento gélido à face
Da exaustão sem tréguas.

Pobre do que faz guerra contra si mesmo
Estará em guerra mesmo em tempo de paz.

Pobre do que se conforma e consola
Expurgue-se de mim esta escola
Faço guerra contra mim e hei-de vencer!

Hei-de triunfar sobre mim!

Preciso de minha saúde.

Por amor de meus filhos
Quero-os livres
Correndo em plenos pulmões -
E mesmo que eu morra sem deixar herança alguma
Que morra ao menos com a possibilidade viva duma herança próspera.

Quero meus filhos tranquilos
Minhas filhas firmes.

Por isso preciso ser pedra
Pena de pedra
Se convém a parábola.

Pena de pedra
Em tinta de sangue
Ao branco de linho.

Conta a estória duma vontade
Uma fúria
Iconoclasta
Buscando mais que a união mística com o tudo ou o nada.

Quero apnéias no Hawaii
Remos em botes no Niágara
Pular do alto Everest de asadelta
Roubar o maior diamante do mundo
Quero quarenteduas esposas
Mil e um filhotes
Ah que família bizarra me concedo em minhas neuroses.

Preciso me curar
Quero ser elo sólido
Dar exemplo pra família
Marcar presença
Quero ser ágil esquecer o que é dormir.

Transpiro
Transfigurado.

Não transvestido
Por favor eim
Apesar de sim transviado
Transado talvez vai do gosto
Em transe protonauta
Meus poliedros psiônicos
Encaldando no transmute
Nossas masmorras e sinagogas
Palmas dos pés e pêlos da nuca -
Vou beijá-la à orelha
Ah quero devorá-la
Preciso do amor perfeito
E ele só depende de mim.

Vou e volto
Me concedo folga
O pito exclama e proclama
E que posso fazer da liberdade inelutável?

Sou o que sou
Tudo é o que é -
Claro com toda infinita interação transpassante.

Preciso de água
A cura do frio.

Água e gruve
Um pedido de socorro enterrado
Vou me curar
Crescer
Devo me superar
Preciso da força pra destruir e criar -
A borboleta de novo me salvou
Resgatou-me do limbo com seus negros e vermelhos.

Graciosa borboleta
Agradeço-te
Em meu silêncio desperto -
E já vou me desterrar
Vira e mexe vou pecar.

Ah degradação tão humana
Chega desta melancolia parnasiana!

Conformidade lastimosa!

Chega de meios termos
Chega de bulas de farmácia
Chega desta decadência -
É tempo de mudança.

Posso sentí-la.

Preciso dela.

Mas não posso me apegar
Não posso torná-la refúgio nem doutrina.

Permito-me o dom
A dádiva do controle.

Quero ser mais
Preciso viver uma vida extraordinária
Além da barafunda dos tititis e dos modismos
Quero minha obra consumada
Em apuro técnico surrealista.

E então o choque
Quero a crítica de meus filhos
Que me acusem de seus atavismos
Pra que a alvorada hiperbórea nos alcance.

Um comentário:

Cristina Casagrande disse...

Tão cheio de imperativos, referências e...respostas. Já buscou as perguntas?

Belíssimas poesias!

Obrigada pela visita=)

ESTÓRICO