Mundança

A folha ainda está branca
É o princípio desta vida
Fantasia inequívoca
Tudo muda no mundo
Mudo em dança o mundado.

Inventam dúvidas caducas
Neste templo de asas livres e claras como água
E sempre me aturdiu perguntar-me se a vida valia a pena
Era-me como uma traição infantil questionar-me.

Ai intensa paixão
Decantada na inocência da intimidade
Laços com que nos enlaçamos
Olhares desgrenhados na meialuz da lascívia
Hálito sutil do horizonte vespertino
Enfunando as velas largas dos sentimentais
Cotovias e picapaus cinzentos cantarolam
Pau no ganho da suprema verdade de Miles Davis!

Ai glória moderna
Afogando a faunaflora em cornetas elétricas
Mastigando tudo com mandíbulas de gruve violento
Meus pés humanos loucos rogando por fumaça violeta
Rouquidão trespassada da alegria dum amor infinito.

Olho pras palmas de minhas mãos absorto
Linhas ingênuas descrentes descrevem hábitos facínoras
Em simbiose com tudo e nada
Quero o peso da ânsia avassaladora
Desdobrado na angústia da cumplicidade
Escolhas que nos escolhem
A vida é o estrondo.

Bem já me esqueço do que dizia
E em devaneios reencontro a alvorada do pórtico agora.

Alva eterna reluzência pórtica do agora inefável
Reencontro-te sempre como um filho meu
Como um filho que gerei sem nunca saber
E que de repente bate à minha porta
Vem-me dizer que sua mãe morrera
E que este pai desconhecido é tudo que lhe resta
Só que este filho
Ai filho meu
Sou eu
Marmanjo datando quarto de século.

Mas tudo bem hei de dizer
Antes tarde que nunca!

Dou-me oi
Olá eu mesmo
Sou múltiplos
Ai cilada escabrosa
Sou todos
Sou tú leitor inesperado!

E tanta cultura humana aglomerada
Este zeitgeist ianque da mitologia dos direitos civis
Pondo em venda no mesmo camelô budas e cristinhos
Quanta religião ainda animando disposições sionistas
E no coreto pagão de minha pracinha
Uns doidões batucam djembes djiridus gaitas e cabaças.

E me lembro da musa amada
Musa que não sei quem é
E que são tantas em mim
Ah mulher
Ah santa safada tímida e destemida
Mulher úmida e cadente
Salsaricando sumo acredoce do perdão
Testando fertilidades em pompoarismos desencapados
Ah mulher faladora
Que quando cala faz todos tristes preocupados.

Tenho sede
Estou ao deserto
Saára nublado de minha ganância.

Tenho o ouvido direito ferido
Pelo sônico furor de minha folia
E talvez a intuição demasiado relegada
Busco novamente o instante presente
E sou mil borboletas brotando dos casulos
Sou cipó etéreo verde esgazeando vitalidade em odes rebuscadas
O azul claro cintilante das boas lembranças
O calor duma fogueira ímpia clamando sacrifício de virgens
Amor solar
Escondido sob a fina camada da superfície
Ascese honesta e foragida
Sou um cão saído do mar sacudindo todas as juntas pra me secar.

2 comentários:

Gabi disse...

sempre antes tarde do que nunca...
na folha branca a gente pode desenhar o que quiser, de várias cores, sempre! Porque dela o espãço nunca acaba!
Beijos desenhados e coloridos...

Anônimo disse...

Mr.Hide... Alimente sua pira sacrificial com bastante lenha,
e quando cansar,
saiba que o remédio para uma alma fragmentada
é a pílula do amor verdadeiro.
Tomara não ser tarde demais...

Da sua amiga.

ESTÓRICO