Infusão

Sim
Quero o mundo
Quero que todo o mundo veja
Que o mundo todo veio me ver porquê dancei a valsa do dourado.

Palco aberto
Mundo estranho de meninos de rua
Mundo belo de cardumes de piás
Caboclos ainda no século treze
E uns e outros pralém do doismiletreze.

A fonte sagrada balbucia
Reprimenda salutar
Duma vadiagem imberbe
Troçando soluços
O barro inflamado do crepúsculo
Rosas e lilás em nuvens deslizando tranquilas
Ah como vale pra mim esta bobajada
Quanto me ajuda a evoluir
Isto um tanto frenético um tanto lacônico de minha parte
De dizer a mais verdadeira mentira do mundo
A mais honesta mentira
De transitar éons terrenos
De ir e vir e ruir e tornar
De brincar de dançar em torno dos centros
Pra depois a sorrir
A chorar sem lágrimas
Contar que era tudo pra voltar a se olhar -
Quanto me ajuda
Quanto me faz bem
Quanto me faz evoluir
Isto um tanto pálido um tanto moroso
De eu desconversar o radialismo matricial
De saltitar entre as esferas das harmonias e do caos
Metaprosado prezando bem com gloza
Ah minha santa criatividade
Vivacidade inelutável de minha transitória morada
Ah corpo meu
Antro sagrado de meu momento
O Instante Presente
Ah voa
Benévolo
E furioso em sua benevolência
Plana acima dos cumes
Solo usualmente
Pois que ave de rapina.

Quem sabe o deletreio do martírio deleitoso da consciência
O supremo recomeço duma receita insólita
Seleta nova de hábitos e costumes
Somos os novos inventores
Tarefa fascinante -
E quero meus valores porquê quero filhos
Quero a multiplicação de meus valores
Na forma de espíritos livres
Libertos deste azul índigo
De misticismos exacerbados e toadas exorcistas
Ai leitor
Se te transmitisse secretamente
Dalgum modo pela valsa das vidas
Isto que me punge ao peito
Um afogamento em plena luz do dia
A plena luz do dia em angustiante meianoite
A esquina que dobro
Ao me redobrar e desdobrar
Em compassos sinuosos
Lascivo e leal
Pacífico como a tristeza que ama a si mesma
Que ama a afirmação de si
E que cresce e digladia consigo mesma
A tristeza que não se permite senão expiração da fadiga
Tristeza férrea tirana
Em açoite masoquista
Escola do rir-se de si mesmo.

Ai dos pontos finais
Ai dos espaços que cremos ver nas ranhuras falsas entre os objetos
Mas o pé quente me ajuda nesta hora
A vara de pesca pronta e a isca fresca também.

Vou de bóia ou de bote
Se precisar eu remo
Só se precisar claro
Deixe estar à corredeira
Arriba ao ribeirão
Cruzo uma prima do Maranhão
Carolina flôr do sertão
Ah musas amadas
População de meus sonhos
Impressões digitais espectrais de olhares inefáveis
Torrente amena
Quase imperceptível a desgraçada
Quase imperceptível repito denovo e denovo
Ah quão tórrido me faço em paixão imaginária
Decretando zeros e uns no coração da galáxia
Sei das cores
Dos sons
Que fluem escondidos
Despercebidos no mosaico tecnosférico
Os vermelhos debaixo dos laranjas e marrons
Os beges e cremes debaixo dos marrons
Virgem Maria rocamboles espirais
Tão perfeitas as viagens da vida
Em sua abundância absurda
Pura inutilidade concretista
Em forma de vida marinha e aérea e afim
Moluscos fluorescentes
Na treva mãe do mundo
Leito do poço do amor
Vulcões perdidos
Dando vida inexplicada ao cobre e ao estanho
Fato estranho
Ela brota
Sem regra nem medida
Completamente desumana no bom sentido da coisa
Pura extravagância libidinosa
Todas as espécies são este cântico
Orquestra das famílias e dos partos
Os pássaros se encontrando e amando pelos assovios
Linguagem soberba do tom
Tom recluso do sentido da terra.

Recuso indulgências
Visto máscara de fauno
Coringa insidioso
Trajando longo casaco sobretudo cachecól meias botas
E nada mais.

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