Inconveniente

Por que eu tinha que amar o que mais dói?
Por que eu tinha que perder curiosidade por tanta coisa só porquê me apaixonei por algo tão distante?
Por que minha vida tinha que ficar triste porquê eu te conheci?
Tinha outro jeito?
Será que eu posso estar alegre com tudo isso?
Por que eu tinha que ser um idiota perdendo tempo com imaginações românticas?
Por que eu tinha que me desgastar pensando nela só porque estou desocupado?
Será que não é melhor eu ir trabalhar pra esquecer?
Inventar qualquer diabo de ocupação sem sal só pra me esquecer?
Esquecer pra ter paciência e deixar a dor curar?

Dor de que afinal?
Eu não sou nada pra ela
Nada
Sou só uma esperança estúpida fora do lugar
Uma criança chorona que não sabe querer
Quem sabe se eu sou alguma coisa pra ela?
Talvez só um ser confuso vidrado naquela pinta que ela tem no rosto?
Ou um inconformado sem salvação amargando o impossível dum desencontro?

Nada
Nada
Sou pó ao vento
Uma personagem uma caricatura
Que talvez enquadre neste ou naquele sonho dela?
Mas ainda assim só uma imagem idealizada
Não alguém que ela quer
Talvez só um bando de traços que por sorte ou azar fizeram-na pensar
Pensar que podia ser
Daí eu fui me deixar pensar nela
Fui me deixar ter esperanças
E pra variar
Melhor era ter feito silêncio
Ter evitado a ilusão
Assim não tinha me tornado tão insensível ao prazer que me rodeia
Não tinha deixado pra escanteio a paixão ao pé de mim
Pelo sonho duma incerteza triste.

Cale a boca
Cale a boca idiota
É o que peço pra mim mesmo
Cale essa boca ignorante
E faz o que deve
Deixa o tempo passar
Não adianta chorar
Ela está longe
Ela é só uma imaginação afoita
Que você se permitiu moldar
E agora ela te odeia e sofre também por isso
Porque ela quer ser ela e você você
Mas assim não funciona
Porque amar não quer dizer que as coisas dão certo
Só quer dizer que é amor
E caraca a coisa é complicada viu
Eu queria esse prazer
Ai idiota
Não consigo abandoná-la
E me exaspera não saber
Se ela precisa de mim
Em algum nível
Se ela ao menos acha que precisa deste nada infantil
Sentimental inútil apaixonado
Talvez seja egoísmo imenso achar que ela me faria feliz
Que tem ela com minha felicidade?
Coitada
Que tem ela a ver com meu sofrer?

E se sofro por ela
Por tê-la ou não tê-la
Ainda assim que tem ela com isso?
Deixe-a respirar insolente
E vá desaventar
Faça barulho em seus tambores
Fume até fazer lágrimas pelas orelhas
E esquece
Esquece um pouco pra que possas viver
Esquece que teu grande sonho está bem aí
Esquece que teu grande desejo está a sorrir pra ti
Esquece que ela existe pra que possas de novo te sentires banal meu filho
Esquece pra que possas retornar ao banal da emoção
E não mais queira se afogar em angústia juvenil
E não mais sufoque o destino dela com tua fraqueza humana.

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ESTÓRICO