Ode Femonemal

Cãimbra em sátira
Rochedos pontiagudos rasgam a nau
Na tormenta do fim dos credos
Enquanto a alvorada resplandece detrás de nossos cabelos
Um sopro obtuso em lá maior
Afinação frágil de nossa organicidade
Vivacidade refulgente e uma fúria iconoclasta
Fazendo amar o passado e obrar o futuro
Máquina humana fazedoura de sonhos ternos
Indústria de alegria mambembe sócios anônimos
Louvadeus aquele bichinho tão bonito e estranho que lá na China come-se frito apimentado
Rastafarái é como se diz hoje em dia.

Tudo nosso e nada nosso
E vâmo que vâmo é ou não é?

Na paz da luz violeta
Cruz sem pregos
Via cruxiz do bailado
O xis da questão sempre o nó da ginga
Fremem os pés
Címbalos altissonantes
Ânsias e sãnhas de jejum
Fractal de bactérias autodigerintes
Magas patalógicas
E me esqueçam as patologias
Vou seguir ventos de elfos
Lançar um Raul na vitrola pra espevitar.

Quanto me ocorre em minhas andanças
Sorrisos sorrateiros
Tantos doudos passeios
Sou lebre libre em boa Cuba
Cercado de despotismo trânsfuga
Açoite são
Vertigem abrupta
Ratoeira escondida em fundí francês
Belas letras para compensar sentimentos obscuros
Sou o gosto amargo do vômito disfarçado pela grosseria do flúor
Sou minha merda sagrada em espirais perfeitas mente adentro kundalini afora
Sou um calango com sangue de ouro e ossos de ônix negra
Sou o sertão a áfrica esfamaida o ódio mordaz pela besta que em nós habita
Sou um pranto que escorre fora de controle nos entretempos dos espirros sob o sol
Sou a nobre escola do sorrir
Onde leciona-se dos craços falhos
Que se perderam na ilusão dos sufixos e predicados
Que se abandonaram
Se esqueceram da magia violentados eternamente pela desnaturalização dos malentendidos sujeitos e objetos.

A vida é um único objeto
O universo todo quer dizer
E o bocado de vida que tenha dentro dele incluso
Isto tudo é um só objeto.

E tudo se encaixa
Fazer o quê
Se encaixa perfeitamente
E bem pra lá do nosso controle
Bem mesmo bem pra lá do que queremos chamar de liberdade e arbítrio.

A vida é dura
E por isso se tem de ser duro
Pra se ser vivo.

Digo sims e nãos por aí
E me parece que minhas mãos na verdade pensem por mim.

Digo antes e depois eu tu eles
Digo quero deixo luto morro
E sei lá que seja isso
Senão questões que se deva deixar de lado
Pra se ocupar mais de música e amizade
Momentos momentos
A vida é feita de momentos
E é coisa de momento
Pois logo passa.

Se sou um grande homem
Se minha obra vai morrer com o tilt da internet em doismiledoze ou se vai sobreviver útil através dos séculos do imprevisível
Se meus maiores sonhos vão se realizar ou se vou um dia ter certeza disto daquilo ou de qualquer coisa enfim
Destes pensamentos ri a vida
Ri de mim a vida
Dentro de mim ela ri de minha seriedade
Vida louca orgástica querendo sair
Cérberos irados dando de cabeças contra as grades roendo as correntes até perderem os dentes
E pássaros imensos sob as asas negras da imensidão cósmica
Ode marota
Algo insidioso lá no fundo sorri
Quer se fazer entender
Perverso vilipendioso
Vulcão vivo de entranhas pulsantes
Impaciente e também bem hidratado
O estômago guerreiro quer zunir de lâminas
O coração duelista seco pelo laço da profunda inimizade
Que não há parceria compromisso lealdade sem a fera sem a besta mór sem o grande dragão o inimigo comum à gleba.

O grande dragão
Faz da humanidade areia
Areia estúpida consumindo periféricos de informática.

O grande dragão pós-moderno
Liga aspiradores de pó o tempo todo motores imensos troncelhos milhões de coizicas infernais
Que não permitem nunca o silêncio
Que não permitem nunca a contemplação nirvânica da continuidade do grande inevitável
E faz o povo pensar que o tempo está no número
E que ser feliz é ser dono proprietário e patrão de todo mundo.

O que foram as gerações passadas
Que fizeram de nós cegos estultos
Nisso também prefiro não refletir
Quero ser a porra forte em mim
Quero ser o gozo fértil espesso lustroso
Perdoem-me todos os deuses quero mesmo é só música e orgia
Com toda higiene espiritual subentendida -
Mas honestamente
Enquanto jovem
Enquanto jovem ciente de minha profunda condição de improdutividade
Ciente de minha incapacidade de realmente me devotar à erudição monastérica
O que eu quero mesmo é pensar nas crianças do amanhã
Que as crianças terminam por ser tudo que nos restou
A luz no fim do túnel
E a malícia me alegra
Tão perfeita e poderosa a vida
Que maravilha irretocável duma sagacidade intocável -
A via sacra é o prazer
Ou quer dizer
É pelo orgasmo que se concebe a evolução.

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ESTÓRICO