Cafuné

O jovem calado
De ouvidos tapados
Ouvia apenas os baques graves dos passos que andava
Às vezes parado
Num momento tranqüilo
Ouvia o tambor do coração e a ventania na cabeça oca
Em seu trajeto entre o rio e a música
Ouvia o sangue correr e a mente rutilar
Afogava a sede em cloro imperdoável
E tornava à ardência da cadência
Ouvia o silêncio da música
O perfeito silêncio criativo aflorando em mãos musicais.

O hálito sussurrava envolto em si
Uma psicologia orgânica a si mesmo
Problematizava-se pelo prazer de ver-se como solução
Dobrava as esquinas das indagações
Pelo estardalhaço do sucesso lógico
Fazendo folclore ultrajante além de deuses e demônios
Além de crenças em oposições de valores
O hálito era um cobrador indecoroso aborrecendo-se
Um habitante impacientando-se do desleixo da morada
Um descaso juvenil satisfazendo-se em ascese profana.

As cores empurrando o mundo pra dentro dos poros
O ar cheio d’água inundando o olhar presente
Plasma eufórico a desfibrilar a tensa farsa
A loucura rangia rancores
E o amor sempre terminava por resumir os nomes de todas boas coisas na vida.

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ESTÓRICO