Inesperâncias

Vai
Desgarra-te!

Desaflige-se presto
Siga o sonho
Jamais desista
Persista na ilusão
No erro da alegria.

A vida é curta
O mundo é tão grande
Mas não lamentes
Diga sim
Desfrute o poucado que resta
É assim pra tudo e todos
Melhor é não estar apaixonado
É viver a certeza neutra
Duma morte pagã.

Sem pompas
Anti-herói patético
Siga o sonho
Esqueça os limites
Permita-se sua dose de veneno e mistério
Abrace ainda o horror que te acalenta
Seja forte
Abra-se ainda
O medo que pulsa implica vida
A dor que lateja implica vida.

Avante
Sorria jovem!

Sorria
É tudo que tens
Gesto espiritual libertário
Sorria acima de si mesmo
Que cada um muito pouco é
Mas tudo em si é tanto que faz cada um valer.

Os amores vêm e vão como florações e primaveras
E em teu seio o palpitar do coração comociona
O ir e vir do alento do hálito breve
Toma conta de teu ritmo bom vivã vigia-te
Espaça bem teus passos
Cuida tornar-te pedra e mata a sede aos beijos.

Não há consolo ao atormentado
Não há salvação ao convicto
E o erro será sempre apenas interpretação pessimista
E a falta será sempre apenas esclerose e cobardia
Que a perfeição é imanente
E o fluxo é eterno.

Adorna-te colorido
Vaidoso em tua discórdia
Glorifica-te por tua insônia
Por teu ódio tua ganância
Ah pérfido sonhador
Ah santo tardio podador cruel
Entrega-te ao suplício
Mas em silêncio
Desfaz-te em angústia
Mas em solidão
Pra que sejas águia em renascimento
Pra que sejas maçã na boca da serpente.

A vida está escondida
Secreta pra nós
Encoberta pelas estórias do mundo
A vida ardente
É muda
Está reclusa na mudez -
Faz-te mudo então bailarino
Honra teu vício e cala-te
Cala-te e não te arrependa de nada!

Cala-te e não odeies para trás
Odeie para frente odeie a si mesmo agora destrua-te a ti mesmo agora
Mas não odeies para trás.

Vê surgir no horizonte longínquo
Aquilo a que chamais tua esperança
Aquilo indefinível e inimaginável
Que quereis cunhar tua altíssima fé -
Vislumbra na distância indifirente
No toque frio da platina negra do vazio
O devir imprevisível que te faça suspirar
O futuro incerto do humano que queremos semear.

Se fizeste tua parte
Se te couberam grandes feitos
Se foste seta indicadora
Ou suíno na lama -
Aceita-te assim como foste e como és
É o mínimo que fazes.

Encara tua putrefa face
Admite teus pestilentos estanques
E se tens tempo ainda
Sorri e faz justiça ao passado
Sorri e abre a janela do espírito
Pra que ainda uma vez banhe-te a luz sutil
Pra que ainda uma vez sinta dentro de ti o inconfundível instante corrente.

O tempo corre solto
Corcel furioso indomável
Pra tu e pra tudo
E por isso digo-te outra vez
Sorri
E corre
Pra que não esfries desatento
Pra que o vento de tua alma bafeje sempre quente.

Vai
E não te esquece jamais
Que de tudo que fizer não há recompensa senão mais vida na vida
Depois de toda obra pronta todo estudo feito
Não hás de tirar de teu esforço nada senão tua mesma biografia.

2 comentários:

Daniela González disse...

sorrisão!

netuniana disse...

O recado foi:
"Não esquecer nunca dos seus sonhos"
Lembro toda noite.
um chêro nêgo, boi noite.

ESTÓRICO