Lumenescência

Verdade alumiadora
Vôo de ave canora -
Que são teus segredos?
Que és teu que chamas teus segredos?
É o que proponho.

Quero ler um mesmo livro vinte vezes
Pra poder carregá-lo em mim
Ó bela arte decoreba
Imagens em que me fixo mais e menos profundamente
Transes em que me permito adentrar
Busco a inocência inerente
A inescapável inocência de que tudo que há.

E mais que cifrar em minh'alma prediletas
Mais que ter merecidamente forjado um relicário de sonhos marfim
Fui além e quis o silêncio
Quis o pior egoísmo
Mago ensandecido comandando uma caridade estrangeira
Quis ser mãe
Pai e mãe de si
Quis ser o juiz e o carrasco
E o silêncio refulgia toda impedância inextrincável
Enfim cansei de resistir
Aceitei o descontrole
A inevitável irresponsabilidade.

Quis amar
Sim quis amar a tudo que não podia evitar
E em fé desvairada cingira-se extramundos élficos agartas inesquecíveis.

Ninguém podia explicar
Era isto que o confortava
Via no melhor a cristalina capacidade de explicar que o essencial não se devia explicar
Exatamente por não se poder explicá-lo -
E fazia-se ouvir
Ah ohm sagrado
Marés de vida que correm em meu sangue
Tantos mundos este em que vivo
Tantas vidas belas com que convivo
E a isto tudo que dou nomes e verbos e gostos
Este mundinho de letras que chega a me fazer pranto
Esquinas sideradas duma crônica íntima
Sou as estradas que percorri
Distâncias que galgos aos pés ou aos vôos.

E ah como voamos
Mal o notamos
Sóbrio braseiro
Araras floridas
Em lunações contando dias
Ai loucos que somos
Somando em números as vivências
Prevendo em tabelas os partos e vacinas
Ai também pródigo besta que sou
Nego isto e aquilo mas não nego a realidade
Ou enfim o preconceito do que se chame real
A ilusão do que generifique substância ação e composição
Afirmo este que quer que seja
Que não sei bem o que seja
Mas que inequivocadamente afirmo que é
Pois sou
Seje como seje
Infindas partes indivisíveis duma única coisa indefinível
Ou individuum mortalis solertis urbanus
Etimologia sacrílega à tôa
Ah como voamos
E mal o notamos
Bastardos prolixos que somos
De diafragmas falidos e coragens mornas
Ressequidos de foligens ratos perdidos que somos
Nós gradecidamente os esperançosos.

Duvidosos e desconfiados
Mas também firmes confiantes
Avesso das falácias de valores comuns
Cousa douda sem fundo
Desbundo da imensidade cósmica estriquinante
E tudo num feixe azul e rosa de atepê
Ou prâna
Fique o cardápio de lâmpadas aos sequiosos
Somos vagalumes bem legais
Na ilegalidade em certos ângulos
Mas enfim os caras bem legais de hoje em dia.

Psicodelia turva
Passadismos pop e ruminares de contraculturas
Nosso século novo esbalda de horror
E também estrupa sem matar -
E na sorte sem nome
Redenção desinteressada
De gírias roucas dialetos trouxas
De alegrias recondidas nas alegrias desconhecidas
Que partilhamos como segredos
Letras feias e bonitas que cunhamos coisa nossa
E que não são senão propriedade irregovável do frio parado do negrume vivo do estender-se universal.

O supremo desenrolar
Naturalidades vivazes
Fartamo-nos sagazes de amizade séria
Séria tensa e rígida
Estrondosamente pétria e alegre em sua tensão
A gargalhada desgovernada entre párias
Pondo a dor junto com o gozo puro da partilha entre leais
Fazenho vinho em água
Pra curar os descabidos
Fazendo aço da pedra
Pra circunscrever a espada na insistência da atenção
Fazer dum ponto de leito de terra
A Arma Secreta
Sabre de luz mundana
Ceifando sonhos a valsar
Foice abrupta da amnésia.

Um comentário:

Larissa Simioni disse...

Sempre escrevendo com muitas luzes incandescentes!!!!
Realmente es um bailarino cosmico!
Te adicionei nos meus links, me adicione!!!

Beijos

Muita luz

ESTÓRICO