Transcognição

Selva virgem em meu seio
Nova alta esperança
Num dia sagrado sem fim
Dia noite adentro noite afora
Versa a madrugada sua ode gélida
E um sol verde queima em meditação.

Sol secreto
Nos confins de minha mente
Nos enfins de meu rebolado -
Sol flúor
Perversamente polimórfico
Fujo da sombra de minha fé
Pra me tostar sob ti
Me deliciar nas carícias cafunés e rocejos
Beijo à borborelha
Ah divina centelha
Gramática viva do riso
A ciência da unidade.

Dialética disléxica
Em gírias soturnas
Trovoadas e mandingas -
Homem ao mar!

Aos braços de Iêmanjá
Às voltas cos sopros rosados
Sou terra jardim e podador
Sou ganância benevolente em busca de sangue denso
Sou sede de dor e infecção e redenção e cura
Sou meu lento dissipar
Nesta plutocracia desgrenhada
Sol esverdejante e magenta
Num cubículo
Caiado do branco da lâmpada artificial
Temeroso do envelhecimento precoce
Da feiúra da moralidade caduca
Ranzinza tão tenro e terno
Não quero minha aposentadoria pro diabo com o INSS!
Pro inferno com todas as taxas fraudulentas
Quero um inimigo perfeito
Quero mais que as fronteiras geopolíticas como Nêmesis pessoal.

Acabasse a luz do mundo
Num tilt global
Ou HAARP fizesse eclodir o núcleo de plasma do planeta
Ou tempestades solares
Ou a chacina dos usurpadores -
Ai idealismo sangrento
Ai me dou conta
É desta mesma fonte que bebeu o nazista
Desta saliva venenosa bebeu o primeiro sacerdote
Dragão entre dragões quero ir-me embora de minha Komodo.

Bóra Pasargadar!

Pralém de toda dor
O êxtase natural
Contração de toda fibra
Tensão no arco do coração
Me dependuro no trapézio
Cambalhotas sobre timo
Dou de cara com a alegria
Metalúcida sinergia
Entrego-me à corruptela
Matreirice do brejeiro
Sina fértil em ruminos.

O céu de minha boca canta
Cospe estrelas no papel
Sóis sistemas galáxias
Caldo doce reluzente
Os pontinhos vão dançando
Se espalham pela vida
Estrelas cadentes alcançando os distantes
O céu de minha boca gargalha
Rios de nêutrons bósons quarks
Em fileiras invisíveis
Ponto a ponto se costuram
Brinco de ligue os pontos monto constelações
Signos e mitos nas curvinhas das letrinhas.

Sou o grande grito do silêncio da pedra!

Sou o som sem som
Do ruflar de asas da borboleta
Borboletrando desmedido
Desmentindo descabido
As promessas mortas da política
As certezas frias do cético cínico
Me afasto de minha pátria -
De que me vale uma família que nunca passa de antípoda?

Ai funesta ingratidão
Deus me livre de um dia maldizer aos meus pais
Pelo erro livre de me terem gerado
Pelo grave sarro de me terem incumbido a missão mais confusa.

Me faço de experto
Pago de gênio
E uso a estória toda em prol do Narciso em mim.

Então a vaidade se desgasta
Desgasta tudo afinal
O orgulho se retrai
Na visão ardente do futuro incerto
Arrepio arredio
Sincopando órbitas em minh'alma
Me dizendo
Agora
Agora jovem
Agora em frente jovem
Agora sempre em frente sempre à vida jovem!

Jovem ainda
Me indago
Da suprema nutrição.

Aliança entre foragidos
Pacto de amor calado
Vamos de peito aberto
De queixo duro e erguido
Ah bem erguido
Que os que manipulam a massa
Pensam que conduzem a carroça da relevância
Mas são palha seca ao vento.

A verdadeira imortalidade existe
Está na coragem da felicidade.

A felicidade abstrata
Conceitual
Felicidade duma saúde pusilânime
Felicidade ciosa
E em cio arrebatado
Por cima de toda miséria
Felicidade triste da atualidade
Por cima de toda insanidade capetalista
Felicidade simbólica
No brilho do pranto do meeiro
Que pôs seus filhos na escola
Altivo em alinho
Carpinando a horta que alimenta o burguês
Metido a ianque sabichão
Não faz idéia da enxada em ação
Mãe do centeio de seu pão.

Sou gato preto sem aviso
Espelho quebrado em mil pedaços
Sou mil patas de coelho mil ferraduras enferrujadas
Hiperssonia do morcego
Sou o frio pontiagudo da cachoeira.

Vem
Vem te banhar fedorento
Vem te limpar sujismunda!

Tenso o eixo?
Só se for de chuveirada quente?

Minha verdade não é morna
Nem doce -
É neve que chamusca
Santo giló.

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