Sobrolho

Logarritmos da heliotropicália
Fúcsias e grenás aos hematófagos!

Amo os erros
Porquê amo a vida.

Xifopagia inelutável dos morosos
Minha solidão em multiplicidade
Desconheço-me e desconheço-vos
Assim me descubro sempre novo.

Envelheço e me assusto com detalhes desgovernados
Olheiras escuras e poros maltratados
Ronco rouco como motor sem óleo -
A dança me salva
Sempre ah sempre
A dança me salva.

Magnésio fervendo
Meus nervos atacam
Colidem com a cadência pomposa
Singularidade da arte livre
Da arte viva do cotidiano
Quero antropofagia sensual
Quero a calma frenética do bailarino em improviso
Vôos hiperlúcidos do acossado pela magia -
Magia esclarecida
Fria como o luar
Magia científica
Do cético que não se entrega ao dissabor da incerteza.

Vá bem
Estroncho
Me desdigo.

Mas quem diz que a ilusão não é bela?
Quem açoita sem remorso à própria fantasia?

Buscara por éons em vertigem
À derradeira verdade -
Como pudesse empunhá-la como espada perfeita
Fazer-me invencível à força de viver sob a pressão da suprema verdade.

E então me dei conta
De que a verdade é só mais uma invenção
Talvez uma descoberta acidental
Descoberta esta muito mais infeliz que aprazível
Já que a tal verdade só machuca -
E o grande Tudo É Possível
Funesta armadilha da superstição
Me acalenta no devir de minha alienação.

Quisera viver a verdade
Possuí-la
Como quem possui um amuleto sagrado.

Mas dia após dia
Me desfazia da certeza
Me frustrava com a inevitável ilusão -
Ah bendita ilusão
Como somos cegos
Tão involuntariamente cegos em nossa juventude
E tão imerecidamente vingativos pra conosco mesmos por causa desta cegueira
Como se pudéssemos escolher
Como se houvesse decisão
Como se o arbítrio fosse inerente
E a consciência algo em si díspar do organismo.

Vejo então meus instintos em amarga luta
Amarga porquê incompreensível
A mim e ao olho que testemunha também
Incompreensível e tão aconchegante
Ai da minha juventude mambembe
Quero me aprochegar de mim sem trégua
E também de soslaio.

Quero saber de mim como o sol sabe de si
Quero me construir como a vespa rainha constrói a colméia.

Dragões anciãos percorrem minha espinha
Ventre acima esterno adentro
Cães de treze cabeças me pedem afago
No pórtico último da eternidade.

O desdém que descubro nas ruas
Me alimenta duma esperança horrível
Esperança solitária
Horrível porquê incomunicável.

Quem sabe
Ah quem sabe
Quem tem tempo pra tais talvez
Perigosas experiências do imoralista
Vou de encontro à aridez da sobriedade
E de repente tchibum
Despenco no oásis da amizade
Louco astuto e transparente
Invento brincadeiras mortais
Se me corta a pele
Escorre a rubra amálgama
Zinco e estanho de mim expostos
Trocando faíscas com o horizonte
Sinto-me frágil
Provo do líquido
Alimento-me de mim
Drácula autossuficiente.

O frio me desperta
Atravanca minha ação
E me desperta à minha fraqueza.

Quero o sol em mim
Os dias ensolarados de minha alegria
Seja ela a fantasia utópica
A fé desajeitada do ímpio
Quero o sol de minha saúde
Mergulhá-lo ao oceano
Fazendo ferver o mar da vida
Meu sol se petrifica
Faz sumir em vapor a água toda do mundo
E num átimo desconfiado
A filosofia abandona a erudição
A psicologia abraça toda sabedoria.

Ah saborosa sapiência
Tantas cores de amores
Ah miríades de musas -
Ela sorri-me
Gesticula atenções
Diz gostar de minha dança
E tudo que me importa
É que a ficção satisfaça.

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