Ode Reconciliadora

Ó filósofos da justaposição
Ó mártires da infecção moral
Tantos e tão promissores
Vinde
Vinde firmes duelistas
Vinde ao encontro deste sincronário silógico!

Ó amantes da perversa arte do real
Ó manhãs e tardes de outono do pensamento moderno
Quanto ledo engano
E quanta maravilhosa sedução
Quanto pleno mistério
Ah vinde amigos
Vinde musa amada
Mergulha neste oco
Neste vácuo abstrato
Prosa branca aglutinante de dores e amores
Deixa-te cair descer ralo abaixo
Vinde ao encontro desta letárgica convocação
Deste honroso pedido de ajuda.

Ajuda-me a iluminar o ambiente
Dá-me tua espúria ansiedade
Deixa-me destilá-la
Em barris de carvalho e mogno
Deixa-me destilá-la dez cem mil vezes -
Vinde irmão
Pisemos juntos às vinhas de nossa esperança
Extraindo sumo doce de concórdia
Receita clássica siciliana
Pisemos e repisemos à matéria prima de nossa loucura
Extraindo o suco ácido e sadio da maturidade.

Ai maturidade bem pregada
Soubesse eu o que é esta maturidade
Talvez os desafios se me escapassem
Talvez o tempo imétrico me saudasse
Ai saudosa singeleza do asceta
Vez ou outra nos mordendo aos calcanhares
Dizendo creia
Creia estúpido e fogoso
Creia em tua maliciosa imaginação
Entrega-te afoga-te
E não questiona!

Ai desta maturidade tão falada
Conhecimento dito por tido
Na boca do povo parece tão simples
Tão fácil e simplória missão -
Mas ai de mim
Passam-se os anos
Agrisalhoam-se-me os cabelos
E em apelos peço um recomeço
A mim mesmo.

Vinde amigo
Reúne-te sob este teto
Por uma noite que seja.

Deixa-me tocar-te
Deixa-me irritar-te
Odeia-me imploro-te
Detesta-me pra me entenderes!

Não sei que faço de mim
Eu sou uma egrégora indiscernível.

Sou tuas horas de prostração
Cansaço impudico da escravidão
Sou teu orgulho que quer compaixão
E que nega a si mesmo o bálsamo da embriaguez.

Quero enlouquecer
Mas também quero longevidade -
Quero a insanidade déspota
Do que se aproxima sempre mais das estrelas.

Ai desta ode cósmica
Sem promessas nem refutação
Lar de referências deferentes
Majestosas insinuações -
Sou começo meio e fim
Orquídea fantasma no jardim.

Vinde astuto
Vinde guerreiro
Vinde ninfa vinde minotauro
Quero todas as bestas e todos os anjos -
Vês já que me acontece?
Solícito
Rude
Maracatu de baque parado
Repico estrimiliques
Expulso o frio e limpo os diques
Quero um nada como agouro
Um vazio como estalagem.

Vazio virtual
No subtexto da entrelinha.

Sou um branco sem fim
Tatu e morcego serafim
Sou a esquina da constância
Lirismo e grosseria em alternância.

Ó filhos do amanhã inalcançável
Ó futuras gerações filósofos piscianos
Vinde
Vinde a esta incerteza
Vinde à imensidão da beleza
Da rispidez da natureza -
Quero ser casa de repouso
E campo de concentração funesto
Pra que aprendas a dormir e redescubras à curiosidade
Pra que estafes-te quase morto tão doído pra que trames tua fuga e minha nobre derrocada.

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