Deus é a gente sem os problemas...

se eu confessasse
minha insânia

se eu colocasse
em palavreado simplório
minha ânsia de loucura

loucura que se resolve
loucura atinada longe da multidão

se eu confessasse
meu cânhamo
meu torpor de bailarino

a vida me é sonho
de todos tipos sonhos a realizar

vendo com olhos de dragão
sorvendo juventude
bailo com as mãos

se eu confessasse
minha incompetência

cadê que roubaram minha consequência
vou fingindo assim que sei da alegria
fazendo sorrir o novo de cada dia

meu desleixo mesmo pra com o essencial
por vezes minha cilada contra mim mesmo

abocanha-me pela canela
a arapuca armadilha cósmica
agora arrasto seus guilhões

correntes que cedo aprendem a voar
a bola de ferro vira em balão de hélio

minha loucura meu compromisso
derradeiro conceito atenuante
minha missão é brasa e samba no pé

que querem de mim
a morte
a vida
a noite
o sol do grande meio dia

que tanto averiguam
todo tempo

por sob todas as peles
todos os véus e cortinas
que tanto esnifam fungam inferem

que tanto querem de mim
a noite
o sol
a vida
e a morte

que há de mim que se beba
que a noite e o sol
descansadamente bebam

que há de mim que se prove
que a própria vida
e a própria morte provem de doce

que tanto mexem remexem
escapulam de lá pracolá

essas luzes
na batalha

como vagalumes
o fio batendo
fazem lume

essas luzes
da guerra no breu

essas faíscas
relâmpagos

pocantes
silenciantes

elas iluminam
o caminho do guerreiro

e da poesia de faísca
da prosa dos relâmpagos
fará ele sua última foice

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ESTÓRICO