Da armadilha que monto para mim mesmo

Homens grandes eu vi -
Eu vi grandes homens.

Homem grande quis ser -
Eu quis ser um grande homem.

Enquanto era criança eterna
falava do que eram os grandes homens
sonhava ser o maior entre os maiores,

ai sonho de tirania ignorante
dediquei-te os anos de ouro de minha juventude

- serei ainda apenas uma homenagem
inconsolável sobre teu sepulcro?

Ai meu sonho eterno e infantil
de ser o melhor entre os melhores

de ser o imenso entre os gigantes
sonho de tomar pelo colarinho o genérico homem
de sacudir pelas nucas a humanidade e comandá-la...

Seria talvez uma ignorância imperdoável
ou quem sabe o mais aspirado atino?

Quem sabe
se aquele pós-adolescente
projetinho de xamã terapolitano

se aquele molecóide pseudo-cientista
pseudo-poeta pseudo-tudo
andarilho fumetinha metido a macunaímico

se aquele bunda mole
zé mané
descabelado desgrenhado

se aquele cabeça chata
com cara de cearence
cabaço presunçoso desbocado

se aquele esporro de artista
engasgo de sensibilidade inventada
se aquele foco de emoção profunda -

quem sabe
se aquilo sim era ideal a se atingir?

Quem sabe
se escapou-me
entre os dedos
pela poesia
o derradeiro poder
o derradeiro fardo,

quem sabe
se aquele mongezinho de férias
não era mesmo o melhor projeto de rei do mundo...

Quem sabe se a batuta não era merecida
se o rastapé a ferro e fogo já não era herdado...

...

Já hoje
vivo melhor

já sem ânsia de tirania
evito ser comandante do mundo
mestre elemental de todo universo -

percebo que é mais propositado
ouvir do que gritar
quando já não se tem mais o que falar.

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ESTÓRICO