Invicções

Abracei o impossível -
Fiz amor com ele.

(de mim parte uma seta de anil chumbado
que atravessa o coração do mundo)

Abracei a vida,

todo seu descaso, todo seu horror
abracei dos males o pior, toda dor
abracei de braços abertos, em flor
abracei a vida e sua violência cabal

E ela
Ah imensa e eterna musa!
Ela com seus braços luzidios
de fúria esparsa e misteriosa
Ela com seus dedos
tateando as bordas reversas do infinito

Ela me abraçou de volta
Ela me sorriu de volta e assentiu
Fez de toda vida o meu despertar...

e então
terei morrido e tornado?

terei num piscar de olhos
visitado a fonte das fontes
reencontrado a origem das origens?

Pode um lapso
a lástima dum átimo de esquecimento
oferecer desta vez uma terceira inocência?...

(de mim parte uma seta de anil chumbado
que atravessa o coração do mundo)

2 comentários:

Gabriela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriela disse...

como um sopro só,
tua, a sua vida inteira
lhe age e reage.

Como um sopro só,
tens a paz e a violência,
o apego e a pertinência,
o corpo solto e a existência,
e a insolente ordem desbravada das coisas,
que te faz sofrer, no exato momento em que insistes em pensar...
e que te faz sentir, de acordo com o vento e forma das coisas...

E como um sopro só
A vida, no teu abraço,
se apresenta,
eis que está aí, inteiramente sua,
caprichosa com a forma que tomar,
é você, quem a vida abraça,
e dá-lhe ordem insana de existir

ESTÓRICO