Das Cócegas

A alegria mais fortuita
Mais gratuita
O ponto fraco das mais pétrias
Um pudor mesmo pros mais rijos
Espasmos incólumes
Contrações paradoxalmente relaxantes
Vertigens e afogamentos em lágrimas dum riso que se não pode conter.

Claro que exige-se sempre um interlocutor por assim dizer
Pra que venham à tona as ditas cujas
E então as cócegas ficam como símbolo deslumbrante da civilidade
Como prova cabal e última de que valem a pena os contextos
Esta estória toda de humanos interagirem e integrarem-se entre si -
As gargalhadas mais fáceis
A alegria mais eruptível mesmo ao seco e azedo
A justiça feita mesmo ao mais infeliz.

Que seria de nós e do mundo sem elas?
Que seria de todo tesão transparente
Aliás haveria algum tesão sem elas hoje em dia?

Claro que estou falando de tesão no sentido mais involuntário e também mais ponderado da coisa.
Tesão que são as auras em embate sinistro
Genes e fenes exigindo prole daquele elo
Tesão que refresca os espíritos
Furacão intocável
Invisível
De magma malicioso em sétima dimensão
Lascívia funesta reafirmando sempre e de novo e de novo a perfeição da dominação
Da violação.

E segue o experimentalismo tropicaliente
Iriscidências tresloucantes em ditirambos apopléticos
Esta rouquidão sequiosa de abês e agogôs
Marchas e flautins mórmons
Esta maratona epopéica do banal
Crônicas triviais dum cotidiano tecnosférico decadente
Os degraus na escalada ao além
Tantos degraus de cabeças por sobre as quais escalamos às órbitas mais brilhantes e amenas da liberdade.

Um comentário:

Anna K. Lacerda disse...

(Visitas consumadas)

Ah, essas cócegas que nos faz morrer com os pêlos eriçados. É sempre uma doce sensação de impotência.

Beijos.

ESTÓRICO