Hidrogravuras

Dê valor ao amor
Ao amor que temos
Ao amor que vem de dentro

Dê valor ao amor
Da súbita visita
Do desabafo desatado

Ao amor que temos
Que concentramos para dar
Que nos superamos para saborear

Ao amor que há em nós
Na graça dos atos corajosos
Na palavra que ainda não foi dita

Ao amor que vem de dentro
Que faz das correrias poesia
Que enlouquece sem querer voltar

Dê valor ao tempo
Dos longos anos em instantes
Do frio na barriga antes do beijo

Ao mundo que nos cerca
Pulso do coração de céus estrelados
Força da geração de sabedorias inconstantes

À vida que nos nutre
Que faz vigor da desavença
Que aquece o frio da descrença

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Meu amor
É de dar massagens
Cozinhar tortas de sobremesa

Meu amor
Tem o dom da fidelidade
Largos passos da mente silente

Meu amor
É escola de abraços
Servir sempre o copo d'água

Meu amor
Tem a lábia da amizade
Deixa gostinho de quero mais

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Onde há fome de lealdade
Meus leões aprendem a saudade

Onde o sonho se faz desperto
Meu coração de águia bem aberto

Onde a fúria se faz flor
Promessa de fruto do ardor

Onde a morte é mistério
E viver a beleza incompreensível

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Meu amor
É a coragem de me entregar

Saber que há uma mão a amparar
Seio divino que amamenta o filho pródigo

Meu amor
É a fraqueza de ser tão humano

Descobrir a força no escuro
Costurar os retalhos de cada erro

Meu amor
É uma vertigem vigiada

Vôo inédito do elefante
Polvos voadores dançando balé

Meu amor é uma língua abençoada
Cantando a vontade de estilhaçar desafios

É um jogo assanhado de sons
Falando tudo mesmo quando calado

Meu amor é água dura em tenra rocha
É uma boca cheia para implorar perdão

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Há uma liberdade em sorrir
E pesados grilhões fazem a liberdade

Há uma alegria em tentar
E um terrível desconsolo se esconde na vitória.

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