Sou aquele que afirma
Sou O Grande Afirmador.
Sou penugem que respira
sou emoção em destilação
sou aquele que afirma
a alegria por sobre a dor
e eu canto do...
do fedor...
Sem perdões
salvem os bons palavrões!
Sou o sujo
o roto maltrapilho!
Sou sim
o louco!
Que esbarra em você
sem querer ou perceber
o toque leve
de odor canhestro
de mãos sujas
do carvão e da lenha
unhas decrépitas
de lenhador
mestre do fogareiro
inato instinto incendiário!
Sou o sujo
de cabelos duros
barba desfeita
madrugada cumulada nos sovacos...
- Mas desde quando
desde quando
unhas aparadas
desde quando
cabelos engomados
sonhos castrados
e esta ira patética
esta raiva que ataca
estas pequenas vitórias
desde quando
esta ridículas vinganças
minúsculas satisfações
desde quando
desde quando elas formam um homem?
- Desde quando formam o melhor dos homens?
...não que a higiene não tenha sua suma importância...
mas desde quando essa frescura
e esta hipocrisia todas
esta insegurança sádica
esta marombazinha de academia
insatisfeita com suas monogamias
doente das cabeças e dos pés
desde quando
esta limpeza da superfície
significou a pureza do interior?
Sou aquele que afirma
Sou O Grande Afirmador.
Sujo por fora
mas puro por dentro
- Sou sujo mesmo!
Mas minha lama
minha defumação
meus carrapatos e bernes
meus cortes tropeços ralações
ah tudo isto vai-se num banho
tudo isto lavo bem num bom banho...
Agora,
tua hipocrisia
teu medo contido
tua dança zumbizóide
tua vontadezinha de ser melhor que eu
melhor que o poeta na fila da lanchonete
só porque você está limpinho
é uma tristeza, é patético, meu amigo...
Entenda
que a sujeira
é tão sagrada
quanto a pureza
-sujo e limpo
dependem um do outro
haveria limpo sem sujo?-
Ai minha sujeira
minha poeira
minha poeira insana
reluzente de mil prismas
maravilhosos globais
momentos inespaciais
mais que mais que especiais
é vida de um amor em cada cais...
Um comentário:
Alika, descobri seu blog e me alegrei. Li até aqui li, devo continuar um pouco mais. Curti especialmente este arroto poético!
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