Esfolações

Eu gosto de gente
que caga cheiroso.

Quero minhas bocetas
com sabores doces, neutros,
quero cus rosas e tenros
tesão que escorra como mel.

Homem que é homem
sabe gozar sem esporrar,
vira e mexe quer espancar
o motoqueiro filho da puta
que passa pela calçada das velhinhas.

Eu gosto de gente
que caga um cocô agradável,
porque sabem se alimentar.

Quero gente que bebe água
mesmo quando não tem sede,
porque um espírito desidratado
já perdeu a habilidade da sede.

Eu quero amigos
que sabem passar fome,
ouvir as entranhas roncarem
antes de se preocuparem em comer.

Quero meu caralho bem duro
vergonhosamente no ponto de ônibus,
quero chutar todos os imbecis
que encaram outros homens pelas ruas
porque são uns mal resolvidos.

Eu quero um amor cheio de maldade,
indiferente pra quase tudo que dói.

Quero o amor violento e desatinado,
que vai tão veloz quanto chega,
que se nutre de ódio
e tem memória curta
pra tudo que é nostálgico e melancólico.

Eu quero poder enfiar uma porra de um palavrão aqui,
sem perder minha autoridade.

Um bom poeta sabe mandar se foder
e tomar bem fundo no rabo.

Um bom poeta sabe desprezar
mesmo àquilo que certa vez venerou.

Minha felicidade é uma ofensa
mas ainda enfio o dedo sujo na ferida.

Pro inferno com toda essa baitolagem
de direitos iguais, equanimidades.

Sou leão e águia,
desprovido de piedade
desprovido de empatia,
porque já bastam minhas tripas pra cuidar.

Sou as hienas agarrando o gnu decrépito da cultura
pelos tornozelos, roendo as canelas resistentes do gado
até que venha abaixo e me sirva de refeição
vertiginosa e sanguinolenta.

Eu gosto de gente que mija claro
e que fala grosso, puta merda.

Quero amigos com quem eu possa digladiar,
que ponham em perigo meu reinado imaginário,
que me atinjam tanto quanto acariciam,
que planejem roubar minha coroa de lírios na madrugada.

Quero a insônia por ficar sem maconha,
e depois a insônia por voltar a fumá-la.

Quero homens que saibam
o que é a morte em vida,
que tenham encarado seu minotauro
e feito berrantes de seus chifres.

Quero minha madeleine desconhecida,
minhas origens caóticas e absurdas,
minha loucura juvenil e todo esplendor de seus acasos.

Tenho asas de platina fumegante,
sou anjo lascivo e mortal,
um santo entorpecido
justificando a existência e todo seu horror.

Engula-me a seco,
ou com uma golada de copaíba,
mas não me guarde no bolso,
não sou moedinhas e trocados nem lenços escarrados.

Crave-me no peito
como um talismã de diamante,
incrustado profundamente em teu mole coração,
pra que tenha em ti traços do poder.

Foda-se a estética,
a moral e os costumes.

Foda-se a arte e a ciência
deste bando de urubús fétidos
e suas apólices semióticas,
esses professores de bosta,
kantianos punheteiros, putanheiros,
que acham que entendem qualquer coisa
em suas azedas delicadezas cabaçonas
e morféticas de falsa inocência.

Gosto de quem
caga cheiroso.

O resto,
é só o resto...

2 comentários:

Lahra disse...

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

("Motivo" - Cecília Meireles)


Eu aprecio a alma apreciável, de desejos por desejos. A beleza dos que sentem está em seja lá o que sintam. Está... é!

Gabriela disse...

bravo!
uau!
UAU!
bravo!
:)

ESTÓRICO