Nutrição

Solados gastos
Cascos de pés estradeiros
Patas de carantonhas itinerantes
Os passos bem brasileiros
Nas bêérres de Pindorama
Da gente que sabe quanto coração custa andar um quilômetro.

Como mãos adjacentes
Quase como pinças saltitantes ou um compasso de desenho atarrachado firme em noventa graus
Os pés barbatanas humanas
Desenrolando horizontes num vôo sem tempo nem espaço O Amor os passos alargando alargando.

O fundo do céu
Abismo nítido de cristal incandescente
A voragem do vazio cósmico nos sugando à grande esquina do eterno
Nos liquidificando na telepatia una
O saber solar Gayano experto.

Esquecera-se o homem
Esquecera-se e em seu vício valetudinal e repudiosamente inocente teorizara a grande infâmia do covarde
A salvaguarda de toda responsabilidade no enclausuro duma determinação
E então a moral como lei
Imposta a ferro e fogo
Governada pela fantasia da cobiça -
Bem porém pois bem
Graças a ninguém
Também o outro lado do vintém.

Se o bem e o mal são dois lados duma mesma moeda
O verdadeiro valor da vida é esta moeda girando em velocidade descomunal
Deslizando ininterruptamente sobre o azulejo e o mármore de nossos esqueletos apoteóticos.

Santo vilipêndio das entranhas
Sempre ensinando a ruminação
Caldo ardente de intimidades
Salutar anonimato do solitário.

Cuidado
Escadaria sem corrimão
Entrada não permitida para menores de trinta e três éons de idade.

Apertem os sintos
Que a sensação é fantástica
Presente dado sem embrulhos
Chuva de caldo de cana.

Quanta abobrinha e farinha
É meioamargo e picante
Pirão revirado de Pirarucú
Saladas de morangas e morangos
E tronos e castelos de confeitos de chocolates.

Cebolas alhos aipim e gergelim
Triture talos de bugalhos bem assim
Borbulham os óleos e as olívias
Refrescam as ervas e nutrem as fibras
Meu lar é a cozinha que carrego em mim.

Guardo minhas facas nas gavetas
Idéias voláteis ponho ao gelo
Brinco com o fogaréu ancião
Vez ou outra a dor da desatenção.

Ah hmmm!
Mas quando enfim está posta a mesa!
Ah ô beleza!

Todos correm
Santos irmãos
Partem pão e opinião
Uns vigiam outros segredam
Verte-se ventura
Ah refeição
Goladas de alegrias
Ricas de coressabores
Como os tamborzinhos e a cuíca
Mastigando estralos em repiques de harmonias.

Daí todos fartos
Punhos à mesa
Fôlegos estranhos
Um e outro pito.

E tudo que se invente
Cambalhotas de abraços de assoalhos
Fogueiras e sofisticações
Risadeiras passeios piscinas doideiras
Tudo que se invente em conjunta vertente
Represado afluente
Brincadeiras marmanjas
Nossos mantras dominicais
O experimentar-se através do outro
Ah quanto entendem as entranhas
Quão sábias
Quão profunda e verdadeiramente sábias
As distantes e incompreendidas espirais dos intestinos
Elas fazem o trabalho mágico
De tornar o objeto em magia
De tirar a luz da pedra.

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