O Único Mantra

num lampejo
a cintilância
tudo a isso se resume

o universo todo um mantra

um único mantra

cada fração infinitesimal de partícula contendo um cosmos todo em si
infinitas estórias em todo relance
uma vida toda entre os dedos
entre os ouvidos
entre o coração e a testa
entre os quadrantes da abstração
tudo em meio
tudo como meio
o divino meio
um único mantra

cada pequenina vida manifesta
todas elas das amebas aos computadores pensantes mais impressionantes
cada pedra em cada sonho
cada todo o resto da natureza em cada sonho e em cada instante desperto n'O Grande Sonho
todas as lembranças de tudo que é familiar e bizarro
todos os grupos coloquiais reunindo padrões de valorações e sentimentos
as escuderias das egrégoras inevitáveis
os fantasmas os mitos toda fama e toda luxúria
cada abraço transmutante e beijo escaldante em amizades e desesperos
as formigas as abelhas mariposas borboletas - suas vidas a nós tão ultrajantes em seus vôos que atraem e arrastam como sóis
a própria Engrenagem
o quê-que-quer-que-seja que aglutina em amores perfeitos toda irrefreabilidade
a marca virtual da gravidade ordenando descompromissadamente toda mínima secção de emanação
A Criatividade
toda noção de Existência, d'A Existência, imersa numa imensa bolha de platina translúcida em que se respira por guelras invisíveis
tudo um único mantra

um único mantra

repetindo-se infinitamente
uma canção sem fim em improviso esparso
modelando a Esquina
nos arremessando inequívocos em solavancos magnécticos às infindas tangentes d'A Presença
cada pequenino ser existente pulsando em sincronia na entrega de sua expiração solar
e inclusive nós suposta humanidade civilizada em temporreal O Instantejá em denso enrolar
infinitamente tecendo a si mesmo em profundidade sinuosa o Céu ó! tão nobre azul! sua escola de magia
uma única rede de emoção destilando o inócuo do criativo
estes corações todos das biosferas e tudo o mais pulsante pensante que já houve em conexão contínua sincrônica
todas as células em irrestrição
padecendo da mesma angústia
uma dor imortal
a Certeza
acerca d'Ela
A Famigerada
A Ilustríssima
A Dama
Maria
A Sacrossanta
A Matremór
O Sim
O Grande Sim
O Óbvio
O Grande Óbvio
- e quem mais? -
A Vida
voz una
voatriz
faunaflora
sinestesia do tempo
imensidão anil grandiloqüente
todo vazio inventado em alucinações niilistas
toda neurose multidestilada e cada passo de dança de tudo que se move nas majestosas marés das galáxias
o búfalo ruminando
a grama nas trevas da terra sua raíz úmida vibrante deliciosa
o aroma distinto da relva e sua explosão entre as mandíbulas do mamífero
o ruivo leão abanando orelhas
sério
alimentado
O Pai do Mundo
sua ardência macia em juba irretocável
todas as máscaras que vestimos
cada transdução de vontade espiralando alma adentro de tudo que participa de comunhão e lealdade
enfim todo movimento que constrói mundo e memória
um único mantra

chegando ao impensável de si e transubstanciando-se ao irreversível de si

toda matéria e imagem de matéria
toda linguagem em referência a matéria e imagem de matéria e toda metalinguagem concorrente
todos as degustações e fidelidades orgânicas
todas as canções amadas e valsadas mesmo que em prisões e Morte
todo gesto denotando confiança e confiabilidade, inexprimíveis, a própria cegueira do nó do laço de luz d'O Mais Perfeito Amor
tudo um único mantra

um único mantra

o medo no silêncio
a involuntária contração de diafragma do atento
A Mulher
toda redenção inescapável
o rio de seivas troncos e copas acima e abaixo
a fragilidade do sustentáculo de nossa sabedoria
a guerra intermitente
o ouro
um único mantra

Ela

A Didática

A Suprema Indestronável

O Amor

A Vida

e tudo o mais que se encaixa em vôo sem vírgulas
um único mantra

O Único Mantra

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