Pai Quiçá

Painho gosta mais de moça que de rapariga.
Painho quer ceiar solo
Quer infeliz vislumbrar-se um predestinado ao labirinto.

Pai Quiçá troça com a plebe humilde
E rói corrói o amargo da pobre burguesia.
Painho gosta de café sem açúcar
Carambola verde temperada com sal limão azeite-de-oliva
De manhãzinha quanto mais ácido melhor
No meio-dia sustância relembrança às vezes um orgasmo dourado
Meia-noite perder-se nadar nú no Mar olhar o infinito enfrente...

Pai Quiçá brinca de travesso
Mas é mais sério que ferrão de marimbondo.
Painho veio contar a Estória Desconhecida
Pular o muro do famigerado Futuro do Homem
Chorar zoroastro
Serestar sonhonauta
Veio provar
Por ah-mais-bê
Que humano é bicho que voa
Que inseto é bicho que sente
Que estrela é bicho que ri
Que árvore é bicho do mais belo soletrear - eh!, arvoredo poeta!, quanto verso em cada ranhura do teu silêncio...

Pai Quiçá se esquenta nas velas de macumba
E bole com a flôr da pequena até fazer inchaço.
Painho tem medo de esquecer da Lua -
De esquecer do cenário
Obra Prima Circundante
Tem medo de esquecer a coceira que sempre dá no não-se-sabe-bem-onde...
Painho é cipreste
Trepadeira raio-de-sol vidro-embaçado
É agreste
Cachimbeiro preguiçoso vulcão-de-Amor
É uma peste
Imoral desregrado apressado pesadão.
Pai Quiçá gosta de carregar o céu nas costas
Mas às vezes é o céu quem o carrega às costas...

Painho acha que mutuca e borrachudo é fisioterapeuta acupunturista
E acha graça mórbida no pavor com que os urbanóides pisoteiam as baratas e aranhas...
Pai é cheio de truque mágico
Passeia na madrugada pra se fazer de ladrão
Acorda tarde do serviço pra se fazer de fanfarrão
Passa dia e noite buscando um desconforto que comprove a sobrevivência de Deus -
Chega a ser da laia dos que se dão conta de que têm muito ainda o que aprender antes de fazer a Dança das Cinzas...

Pai Quiçá vigia dormindo
E se limpa se sujando.
Dizem que é tripé
Dizem que é maluco pétrio
Dizem que pensa pensamentos incríveis -
E tanto pensa que nem crê que pensa no que pensa!

Painho vai e vem
Na Roda da Verdade.

Dependurado nalgum galho musgado
De ponta-cabeça âncora dalgum baile
Zéfiro de espaço-tempo degringolado
Qualquer disciplina afoita
Alguma interjeição inexprimível
Um pouco de timidez, que assiste ao ouvido adolescente -
Um relance de maturidade entre litros de baba do bebê -
Aquela saideira tão necessária que se faz parecer a primeira rodada...

Pai Quiçá já dropava cristas numa quatro-dez mui antes de descobrir que existe a Tristeza.

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