Bonação

O homem é essa confluência de suas musas
Um hálito que é na verdade a fusão dos hálitos todos por ele amados.
Eu, ao menos, sou isto
Uma fogueira que queima com lenha de todo mundo
Uma sopa fumegando ingredientes de Portland, Maine a Timbuktu
Uma árvore salivando algodão doce
Uma pedra inspirando canto de cotovias
Um lenço secando a lágrima da Eva reencontrada
A espada embainhada aguardando o derradeiro silêncio do Ódio.

Uma solicitude trânsfuga
Nau sanguinolenta de minha cruel honestidade
Minha lógica mais ardente que minha loucura
Minhas cadeiras pregadas à impalpabilidade de meu Elemental.

E sigo reto
Roto roxo
Rouco frouxo
Um galardão pulsante
Vinte dedos agarrando pelos cabelos à Vida
Treze juntas piramidicamente espiralando
A ampulheta do eterno interno
O vento soprando o pó que pouco a pouco desprendo ao espaço sideral...

Acabei de respirar profundamente
Sinto a leveza
O homem é uma confluência de musas
Somos todos inspiração
Divina e eternamente cósmica
Já que só o Tudo existe, então o Nada nunca existiu
Completos e infinitamente minusculos
Milionésimos de segundos
Uma única respiração
Intensa e expansiva
Ostentação
Prazer pelo imenso Prazer de festejar o Todo
Somos eternos
Luxuria
Gozo: vide dicionário.
Sementes que plantamos
Anseios que velamos
O prazer do detrás-da-moita
A suculência afoita.
Santa ignorância
Matre concordância
Quasequase horripilância
Tal e qual instância
A devida irrelevância
Da paramétrica importância
- E um beijo de Luz.

Os chavões estacas com que ceifar vampiros
Os dogmas escudos contra os desilibidos
A rima uma ensandecência incandescente
O ritmo um golpear de máquina mortífera
O tesão um tesouro - Inominável
O Amor um estouro: o Indeterminável.

Ah, Interminável em mim!
Ah, minha bastarda sanguinolência!
Raiva putrefa de minha insolência!
Ai, meus confins... meus afins e atchims...
Ai de mim
Tão sorridente
Tão ciente dos caninos molares cisos...
Ai de mim, tão confidente
Confiante
Ser afronte
Um monte
Uma papagaiada
Várias coisinhas se tornando um empilhamento...

Ai, ai, ai... Ah, da minha bastarda sanguinolência...
Sedenta do fedor da entranha do verme covarde
Sedenta do muco do pós-guerra
Sedenta do suco
Do sumo da fera
Do ventre da bela...
Ai de mim, meu Senhor...

Nenhum comentário:

ESTÓRICO