Numa esquina congestionada
Dum cruzamento crucial
À Avenida Brasil
Travado ao trânsito
Sob sol de meio-dia
Avistou-o - Lá estava
Folgado livre
Sem brio nem culpa
Em passinhos delicados
Vagueando pelo cimento
Das vagas dum estacionamento
Um belo bem cuidado gato vira-lata
Desconhecendo o tráfego
As horas e seus lamentos
O bichano pairava tateando
Angelical fenômeno
Satisfeitíssimo por certo
De si da vida e do mundo
Em sua pelugem maltada
De expressivos bege e creme
Lânguido ignorava o poeta
Ah o poeta!
Que num minuto de semáforo
Bem notou tamanha felina alegria
Lá estava - Contemplava-o
Lá estavam das luzes os mistérios
Tempo espaço sabor e liberdade
Naquele gato se encerravam
As soluções todas da sina humana
Altos saltos sobre muros
Caçar besouros passarinhos
Destreza força garras estendidas
O chamego de moças desentendidas
Capôs abertos para sempre
Estradas largas fontes calmas
Ossadas sem fim ao fio dos dentes
Mas o poeta - Ah o poeta!
Confrontou-o com o amor
Com o valor das responsabilidades
Que eram agora a vileza e a nobreza
Que eram a música e as letras
Todo o certo e errado dos homens?
Das filosofias estacionadas
De tantas almas congeladas
Que restara então da vontade?
O poeta aguardava respostas
O bichano porém virou-lhe as costas
Com o mais santo desdém que havia
Honra moral virtude o futuro inteiro
Suspensos balouçando aos ventos
Urravam silentes por uma resolução
Mas era enfim tarde demais
Retiniam as buzinas impacientes
O farol abrira há um instante-
E a perfeição perdida
Ronronava já distante.
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