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não me querem aqui

não querem o ingrato
o bicho selvagem sereno que prefere o chão duro de campanha à cama burguesa rainha das escoliozes
o bicho feio feroz e suas bacias de salada indecentes
não querem aqui o ingrato barulhento em seus maracatus e bebops solos
o corneteiro sorveteiro malévolo expondo sempre o fato no flato

não me querem aqui
querem o bicho no mato longe onde a cantoria de lavadeira passe desapercebida
onde os grandes mitos e suas tumbas e catacumbas estejam reservadas ao silêncio bestial do medo
onde a felicidade é prática que não se dá conta de si
onde vivem os outros bichos selvagens indomados javalis nojentos babando grunhindo fumaças azuis e lilás em ilhas pluviais

e eu não me quero aqui
não me que em sujeição de caráter
cabisbaixo
tendo de apoio uma cama de faquir
não me quero aqui
desgostoso das atitudes em que irrefreado rebento de ódio de bicho
desgostoso de meu coração por força de regras e cronogramas em que uns não partilhem das conquistas dos outréns

e não me deito com putas
nem me apetece a constelação das anfetaminas
e por tanto portanto vou embora pra um adestino
antidestino da andança pela estrada sem fim do brazyw de macunaíma
indestino do intestino forte e distante vagueando na brisa como dente de leão prenhe

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