Banho Frio

de tanto abuso o brinquero quase quebra -
fantásticas epopéias sobre maratonas da libido

numerei e cataloguei organogramas de valores
planifiquei os abismos do desespero e conferi à minha virtude sentido humano -
bebi da mais fresca fonte e repousei ao mais delicado regato
sonhei com preces atendidas e despertei solene em sorriso solar

pouco a pouco me dei conta de minha inevitável expiração
da sutil surrealidade da posse de meus gestos
do pormenorizar de eloqüências tão abruptamente exigido por minha solidão

pouco a pouco me entreguei à tarefa de morcego insone
detalhando sensações e sentimentos em deletrear vilipendioso
sugando sangue inocente no descuido do breu
preparando armadilhas aos ladrões e mágicas poções aos fanfarrões
deitando poesia à brancura como deita veneno à presa a cascavel
sacudindo a poeira milenar de idolatrias superticiosas
estilhaçando os espelhos da conscienciosidade, do altruísmo, da bondade
impacientando-me em deleite de meditação
atraindo em magnetismo meu irreversível, meu funesto, meu ensandecido mestre
Picasso de olhos cerrados violentando sua musa tão grata pelo estupro
Einstein espirrando pigarro na banheira morna pai duma quântica bruxaria
Jung tão confuso em sua circunspecção delimitante, horror da liberdade de gênero e razão da desrazão esquecida da multiplicidade de faces do cristal
Bonaparte em sua seita inaudita rogando à Maria compassiva um oblíqüo oblivion de dinamite e igualdade de direitos

a desgraça de aperceber-se antípoda de inúmeros antepassados
a alegria de reger-se a si déspota magnificente
capitão da nau do templo chamado corpo
rei dum castelo de ossos e músculos
insígnia sórdida do falo estupendo
mortiça irrepreensibilidade em soluços fragrantes de lírios delirantes

um despudor em sucesso e retorno
esfaimante amante
salivar escaldante

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ESTÓRICO