Abissal

Minha insegurança que vá pelos ares!
Estou aqui
Isto só já é fantástico
Isto só já é fantasia inominável e inegável
Isto só já é irrepreensível indeterminabilidade, instigante contemplabilidade!

Cá estamos
E o Sol tão próximo afaga amoroso
Mesmo multimodal
Em meio à mais cruel madrugada -
O calor do incrível frio cósmico me apazigua
Os arrepios breves como soluços
Me guiando águia
Em lótus esvoaçante
Um novo jardim além do Caos
Um novo pulsar
Entre melodias tão familiares
Irritado com a desobediência alheia
Esperançoso graças à desobediência alheia -
Mil praias a visitar
Mil musas a degustar
E meu coração impassível
Vez ou outra me querendo tomar a palavra, saltar boca afora.
Meus instintos tão benfazejos
Me ensinando dos tropeços irremediáveis
Cantando aos trôpegos honestos que afinal compõem a história do Amor.

Penso em não vacilar
E no nésguismo de momentum já hesitei -
Que será que deixei de escrever enquanto pensava no que escrever...?

Sinto
O fôlego profuso
Confuso
Repetitivo
Coisa chata que não pára nunca - me interrompo:
Pára, pois, ah!, se pára!...

Há de parar.
Hei de me deitar à relva infinitamente pacífico um dia.
Mas hoje sou guerra
Campo de batalha
Criatividades em choque sangrento
Habilidades e prepotências em fustigantes investidas
Eu contra eu mesmo
Fulgor de minha incontrolável ira
Raiva escaldante que cozinha minha emoção
Maciez desprezadora destilando minha paixão
Homem que sou, jovem como nunca mais serei
Ainda sou, ainda não parei.
Hei de um dia sentir esvair-se de mim o último suspiro
Hei de contemplar à última desilusão e quem sabe acordar noutro Sonho.
Mas hoje estou impaciente
Reluzente, porquê inconsequente -
Há, sim, emanação de perfeição possível
Há também coincidências, há destino plausível
E há o bucólico, o desatinado, o desaforado, o melancólico
Há o coice do coito, o valor do afoito
Sem contar tudo o mais que não cabe em nenhum abismo...

E então
O sublime invisível retorna
A luminosidade viva do ar me arrebata novamente em encanto translúcido
E lúcido, loucamente invejo-me a mim mesmo
Por testemunhar sozinho tal advertência
Por vislumbrar por cima de mim minha complacência
Por me atolar em breguice
E desembocar pudico em minha parvoice
Por desrespeitar meu passado pra que meu futuro ganhe imprevisibilidade,
Pecar contra minha certeza só pra demonstrar a certeza ininalienável,
Constatar o lampejo
Reconstruir o desejo
E me redescobrir mais velho que ao começo do poema
Surrealista
Venerando qualquer coisa inconcebível
Orando numa dança que continua inclusive Eternidade adentro...

Minhas lágrimas escorrem aura coroa acima
Meu olhar obsequioso encontra um espelho no papel
E sinto amar-me a mim mesmo desmerecidamente
Percebo minha vaidade amarga em torno de eus que são outrém
Em torno de eus que já fui - serei ainda eu mesmo?

Desfaço o laço de meu ventre
E quero escrever simplesmente
Não de coisas simples
Que não só a coisa não há, como muito menos as simples!
Mas tenho pressa de esquecer que vivi
Talvez pra poder entender novamente que vivo
Como entendesse pela primeira vez...
Quero mesmo tudo de novo, só que sempre como da primeira vez...
Ninguém poderia deixar de entender o que não se pode explicar...
Esfrego mais uma vez os olhos
E lembro de ser borboleta
De voar adimensional o cristal água atemporal
Me entrego nesta vertente de termos e rompantes
Nesta calma insidiosa de touro em tourada
Nesta funesta imensidão inalcançável de meu super-heroísmo
E penso num instante em pedir a Deus pelo perdão de minha intrusão -
Perdão
Perdão, meu Senhor:
Perdão por chamar-te Senhor e pedir-lhe perdão por que quer que seja.

Vestindo uma camisa de ferro
Saltitando maracatu
Pulsos firmes e muito gengibre
As novelas todas me atravessando como um raio -
E quem sabe o trovão humano não desdobre em alegria incontível nossa Xambala
O seio divino afinal nos venha aos lábios - e mordisquemos o duro mamilo
E novamente o Silêncio nos presenteie com a promessa de uma magia explanável
E todas as transições
Cada transformação
Sobreposição
Superlativização
Que enfim todo signo-movimento se unifique numa pedra
Como um buraco-negro vivo estático no coração do cérebro humano
E a ânsia pelo transparente reafirme as montanhas
A sede de gozo verde redesenhe as marés
O luar nos alce refrescante em vôo
Até que nos enfatiesmos de voar e vivamos onde devemos viver, ao chão
E cuidemos de nossas crianças como a seres que hão de conhecer um futuro a nós desinteressante
E tenhamos a sensibilidade em que se sente a largura fenomenal dos passos das formigas
E nos deparemos ao menos uma vez com uma mariposa tomando Sol
E nos exasperemos com alguma bela dama nunca devidamente amada e a devidamente amemos
E nos convulsionemos em êxtase ao troçar do Esquecimento
E nos convencionemos puros e reais e nunca mais
Nunca mais
Deixemos de lado o que não se deve deixar jamais de lado...

O branco preocupante que surge quando gente saudável baixa as pálpebras consternadas
As cores, afinal - que há de mais desconcertante?
Os vinte dedos as treze articulações
Nosso modo de vida traduzido em poder de compra
Nossa andarilhagem avessa a si mesma
Nosso vexame intransponível -
Ah!, vão-se pelos ares minha insegurança!

Sou pavão imperial
Iconoclasta desleal
Parcimônico improvável
Infinitamente detestável
Sou morcego babilônico
Capitão lacônico
Perseverando
Paciente
Preciso
E elegante
Uno coeso conciso rítmico
Acima do rótulo -
Abaixo o inócuo!
Jovem cheio de tesão sem um pingo de cinismo constatável
Ironia bélica
Aflição esquálida
Circunspecção profusa
Bestialidade obtusa
Amenidade sã
Deliberação vã
Mortificação pagã
Paz lilás
De cauda aberta, penas lavadas, esquadro radial
Chegando mais perto do sei-lá-o-quê -
Indo! Mas não sozinho! Sozinho não! Vem, vem comigo! Vem!

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