Súbita

Há os que entendem e honram à terra e à eternidade
Eles vivem sobre valores diferentes e têm recompensas diferentes.

Dos Aderidos

Quando cheguei tudo estava virado
Excluíam a inclusão
Dentes rangiam.

Disseram-me tenho sedes
Disseram-me dê-nos voz e vez
Até que chegou minha hora
Aprendi a ensinar.

Na cidade das flores o assombro
Fábricas de nuggets fétidas
Retornavam sobremesas em refluxos
Adaptavam o sentido olfativo
Acostumando ao fel de podridão.

Íamos rumo ao sucesso
Não havia poréns
E os ziguezagues das estradas
Eram as veias a latejar.

Lutava-se com modos
Pela educação
A antipatia o grande dragão
Éramos seiva bruta de fé.

Os céus espancavam frescor
Em chuvas de verão caipira
Havia a certeza do torpor
De calos de enxadas aposentadas
E o sol girava ao girassol.

Tudo era esperança tímida
De lucros e amizades doutoras
Os ministérios comiam poeira
O progresso vinha do avesso
Processo lento e fleumático
Nossas charretes de fogo.

Dubope

O príncipe pitava
Palpitando a nova era
Alimpando os aquários colossais.

Mixturando alheias técnicas
Programando a agrofloresta mundial
Amalgamava mil natividades em tão tenra idade
O herdeiro de direito ensaiava gestos da glória graciosa.

A nova tirania
Brazukona
Mestiçaça
Casava madonnas e pelés
Congruos pluridestilados
Da ortogenia heterodoxa.

A descendência cafuza fazia confusão
Em vestes aleatórias revezando a representação
Ora bélica precisa alemã ora surfista sofista egípcia
O príncipe corria no que tilintava a vara de pesca divina.

Entre fartas ceias e rudes provisões
Erguia bandeira branca da una nação da paz
Murmarava o hino sem letras com a mão torta sobre a pélvis.

Aristocracia em rabos de arraia
O futuro rei plantava bananeiras
E o ministério da alegria pregava tábuas amorais
Fagueirando sobre jacarandás petrificados
As novas leis ditavam aleluias nanofísicos.

As sardinhas escapando das latinhas
O reinado impondo ordens entrópicas
A pátria global mamando mamando
E mil sementes numa só brotando
A inédita yggdrasil permaculta.

Sentinela

Ela que cuida do mundo
Ela que toma conta do andamento da própria natureza
Ela está cansada e a garganta seca ao deserto inóspito exaspera.

Ela que resguarda os turnos das formigas
Ela que acaricia os céus furibundos nos dias de chumbo
Ela que ralha com os castores sobre as fundações das represas
Ela está imóvel sob a catástrofe e suas orações colorem os vazios do mistério.

Ela a santa desvirginada em bacanau
Ela a flama mortiça que acalenta aos nevoeiros
Ela a suicida retraída que segue vivendo por covardias
Ela a inata guardiã de todos os véus da moléstia e da loucura
Ela perspira agora valores pueris no coração quixotesco do amante.

Sobre o monte de oliveiras
Tola
Vê o mundo dar suas voltas
Ninguém vem lhe falar
Sabem-na apenas tola
Mas ela vê o mundo dar suas voltas.

Matrizes

Uma fabulosa fome
Bernes à parte.

A pequena esmagava dedos febris
Em seus primevos momentos de vida
A criança brotava fértil e roxa como terra
Trazendo novos reinos e promessas.

Alimentavam a esperança
Nos olhos carrascos da grande mãe do rosa.

ESTÓRICO