foi-se o tempo
em que eu sabia escolher
em que sabia o que pensar
foi-se o tempo
em que o coração mergulhava
e os nervos cantavam
hoje o rio que corria
formou por dentro uma imensa bacia
represa de torrentes outrora sadias
hoje o mar que rugia
está calmo e me mostra seu fundo
é uma dor ver o segredo do abismo assim imundo
foi-se o tempo
da rebeldia de adolescentes presunçosos
da mania de retroceder e inverter os pólos
cansei-me da mercearia
das negociatas do ouro de tolos
ou a agonia que se cansou
de mim e do habitat úmido e escuro do meu peito
hoje quando choro é por direito
é um lamento alegre que exige respeito
outrora soube entregar-me
apaixonar-me
desvairado e tão bem centrado
outrora soube agir
mas o conhecimento
ingrato me tirou as tintas dos dedos
me deixou com antigos medos
que pela força de uma brisa vou soprando longe
é quase uma postura de monge
perdi os prados e as florestas
queimados em vão no ardor da sabedoria
restou-me um arado sem sementes
fiquei um tanto demente
pelo veneno que há nas pessoas
busquei minha alma de cavalo
galopando pra além de todo desprezo
eu ainda tinha algum apreço
pelas peças que o destino podia pregar
foi-se o tempo
daquela perfeita ignorância
fulgurosa e imponente intolerância
foi-se o tempo
de mudar o mundo e os homens
que só bons pais farão bons jovens
perdi minhas chaves
desfiz-me junto das correntes
os cadeados estavam cerrados
mas os arranquei por fúria aos dentes
já vi tantos poentes
as pontes que atravessei
ninguém sabe isso eu sei
a paz que encontrei ninguém conhece
é algo tão distinto que só se merece
é um dom da terra que nos batiza
com a emoção de poder ouvir
mais que a mecânica do som
a altivez de saber ver
o que não cabe no arco-íris
sentir com o amor toda confusão
de enigmas que nunca quebrarei
quem sabe fui um rei
quando dançava com as borboletas
e o vento era meu mestre
quem sabe o que sei
por ter morrido tantas vezes
morte em vida que me refez
hoje eu dou graças
ao fim de algo que começou
pois não é pouco o que restou
dou graças ao dia e à vida
ela soube me moldar
fazer do sonho meu ar
e enquanto o poeta viver
falido anônimo e infantil
enquanto o artista resistir
em sua caverna tão vil
enquanto o espírito ainda respira
e o velho pensador se alucina
haverá uma esperança
o talvez de uma nova dança
haverão estradas a percorrer
enquanto as pernas ainda se erguem
e as lágrimas suaves escorrem
haverão picos a escalar
mas no auge máximo da cordilheira
quando a vitória se me insinuar
quero escapar da satisfação
pois só uma nova luta há de me fascinar
Baby Einstein
Não há frio,
apenas ausência de calor.
Não há escuridão,
apenas ausência de luz.
Não há maldade,
apenas ausência de fé.
apenas ausência de calor.
Não há escuridão,
apenas ausência de luz.
Não há maldade,
apenas ausência de fé.
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