De Sopetão

Em primícias falava o homem da pedra filosofal
Tão selvagem quanto urso entre ursos leão entre leões
Em sua longeva inocência louvava virtudes antropomórficas mesmo ao barro e ao líquen.

Transportava seu foco entuchava enfim sua mônada e sua gônada goela abaixo da faunaflora
E via vingança na carnificina tão beata da hiena
Via sortilégio sádico na manipulação divertida do rato por parte do gato
Via e quem sabe ainda veja honra no pavão e santidade no louvadeus -
E os pensamentos humanos que atribuímos aos bichos
Falácia moralista que pregamos pra tentar afirmar que a natureza em verdade é prova concreta de que o humanóide bípede incorrente é o fundamento de todo propósito universal.

Ah cabal aparição -
Ah nossa poesia nos cegando
Nos cegando como a verdade deva cegar a uma deidade.

Evoluía
E mesmo os gêneros dentre as espécies lhe pareceram um tanto indiferentes -
Lembrou-se das rãs fêmeas que trocam de sexo quando não há machos coachantes -
A Vida sempre encontra um jeito
É o que se dizia alcionicamente.

E será que não somos também isto?
Também pura inconsequência e caos
Caos no sentido literal claro que no fundo está tudo em seu lugar -
Não seremos também a mais irrestrita inconsciência?
Também o mais inelutável descontrole -
E se somos
Que é de todo mérito?
Tudo bem que nesta toda falha também caia por terra
Mas estaremos em paz repousando na certeza de que tudo é engendramento e nada mais?
Repousaremos na certeza de que não há castigo nem recompensa?
De que nossas vitórias são tão naturais quanto a queda das folhas no outono
De que nossas tragédias são tão inevitáveis quanto o correr da ampulheta?

Se Sim
Daí a única liberdade
É Aceitar.

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ESTÓRICO