Se existe porquê
para o que a gente sente
sei que ele é insondável...
Se existe um porquê
para cada ação cada som
se existe razão
lógica latente -
do nada que sei
sei que jamais saberei.
Se do silêncio
a súbita interrupção
Se da angústia
a crescente mansidão
se o que se sente
é ainda passível de senso
beijo mãos e dou graças
se o que se vê
é ainda possível imagem
dou graças e um bom abraço!
A Vida
pediu para ser vivida
Pressurosa
volátil
atraente como mulher
Com duros dedos
tricotadeira prodígia
a colecionar corações
A Vida
implorou ser vivida
Exigiu
bateu pé
acendeu velas em oração
Esperneou chorou
a Vida cruzou braços
esperançando ser vivida...
Orgasmagia
verso transmoderno brasileiro
Pertador
Quem mandou
quem mandou pintar de desabafo
o quadro da poesia?
Quem mandou
dar tons tais de melancolia
esborraçar lamento e lamúria?
Quem disse
quem foi que disse
que a vida é dor e labuta -
quem foi o filho da puta?
Que envenenou
a infância
com peçonhas pessimistas
quem corrupto alarmista
quem envenenou de carência
a bibliografia do sossego
pingou is com lágrimas
fez porém de cada vírgula -
quem, quem?
Foi homem
bicho de braços
coisa pensante sobre dois pés,
ou será obra conjunta
magnânima bazófia
o encabresto universal? -
Chove sal sobre a lesma
o poeta rasga as roupas
deita o rosto ao chão.
Esta noite
é de dança
e da dança
virá a aurora.
quem mandou pintar de desabafo
o quadro da poesia?
Quem mandou
dar tons tais de melancolia
esborraçar lamento e lamúria?
Quem disse
quem foi que disse
que a vida é dor e labuta -
quem foi o filho da puta?
Que envenenou
a infância
com peçonhas pessimistas
quem corrupto alarmista
quem envenenou de carência
a bibliografia do sossego
pingou is com lágrimas
fez porém de cada vírgula -
quem, quem?
Foi homem
bicho de braços
coisa pensante sobre dois pés,
ou será obra conjunta
magnânima bazófia
o encabresto universal? -
Chove sal sobre a lesma
o poeta rasga as roupas
deita o rosto ao chão.
Esta noite
é de dança
e da dança
virá a aurora.
Primevoo
Regozijai! Ah o ar puro do supremo amor!
Pelas calçadas megalopáticas da capital
Caminham ainda de mãos atadas o poeta e sua musa
Musa transestelar
De poros e pensares escancarados
Modelo e manequim irretocável de fotógrafos amadores da Vila Mariana
No ponto de ônibus duas senhoras veem passar o casal
Que estanca circunspecto subitamente para um beijo ardente
Toca um telefone na loja defronte
Rasgam os motores vociferantes pela rua mas o ósculo divino não se incomoda
Sem nódoas bastardas ou cânticos de reprimenda
A gratidão galopa destroçando a mesmice do passeio paralelepípedico
Pascente beijo o emplastro de todo engodo
Cura de toda fria obliquidade das almas
Flores lumessenciais ornam a lentidão do compasso
Ópa trepa à pitangueira a guerreira da emoção!
Gostoso gostosinho!
É vivaz meio-dia inconsternado de horários veronis
A hora varonil funde ponteiros e descompassa a pressa...
Regozijai! Ah o tempo maravilhoso da paixão confessa!
Da paixão brutalmente sincera e perfeccionista!
Anunciam-me tempestades em cada esquina
Mas o que vejo é a promessa do arco-íris
A paciência veste coroa de maduras daturas
Uma transeunte nauseabunda cata cacas de seu cãozinho
Crianças absortas afagam filhotes felinos às prateleiras do petshop banal
Linhas de ônibus e baldeações confusas não conduzem a esta felicidade
Tal amor pertence às calçadas machucadas do bairro velho
Às camadas esquecidas do palimpsesto multimorfo
Há guerras e produções cinematográficas multimilionárias em andamento
Mas ali
A três passos do ponto aleatório e suas duas senhorinhas desmoralizadas
De frente ao comércio deserto cujo telefone ninguém atendeu
Ali o poeta e sua musa
Estancam o passo e se beijam
E o universo deixa de rodar
Os oceanos cessam o agitar
Pombos e pássaros sortidos congelam ao ar
Na palma da mão de Deus
Que diga-se de paragem nunca precisou de Nietzsche para amar
No fluxo freado em velocidade de milagre
O beijo estala molhado
Olhares de indescritível ternura se entrelaçam
O dia cai e o mundo se esvai e se repõe em duas dúzias de segundos
A meditação completada
Tornam abstratos ao trânsito
Pitando sal sagaz na rotina destemperada...
Regozijai! Ah o ar puro do supremo amor!
Abençoados artistas da emoção
Esculpindo e polindo o marmóreo magma do coração!
Contemplar a vida e a criação
Abraçar a Deus
Entregar-se à redenção.
É uma nova eternidade respirando afoita
A borboleta ri seu riso visceral
As senhoras relembram sonhos de outrora
O asfalto ruge e o sol atravessa o cinza da segunda-feira parametral...
Regozijai!
Mariando
O tempo é uma ilusão que não para.
Ilusão é a fome do ser pelo ser
pela vida
pelo testemunho cúmplice.
Onde houver vida há partilha.
Vida é um termo seco
reto e duro apesar da caligrafia
grosso além das letras.
Vida é um processo -
Cósmico.
Vida é um infinito de processos cósmicos.
Que, pelo bem, pelo mal
lembramos de encaixar nesta palavrita.
Amor, amizade.
São processos cósmicos
espiralando eternas interações
ciclos tiques e trejeitos
das danças galácticas
vida é um termo seco e duro
para traçar bordas ao inefável...
Ilusão é a fome do ser pelo ser
pela vida
pelo testemunho cúmplice.
Onde houver vida há partilha.
Vida é um termo seco
reto e duro apesar da caligrafia
grosso além das letras.
Vida é um processo -
Cósmico.
Vida é um infinito de processos cósmicos.
Que, pelo bem, pelo mal
lembramos de encaixar nesta palavrita.
Amor, amizade.
São processos cósmicos
espiralando eternas interações
ciclos tiques e trejeitos
das danças galácticas
vida é um termo seco e duro
para traçar bordas ao inefável...
Canção para a Amada Adormecida
Sustos de amor.
Ela me dá
sustos de amor.
Chega pulando meu portão
Me surpreende
lavando as louças -
De sopetão!
Ela
tão aguardada
A mais amada.
Ela gosta de doces
ela dança docemente
Ela -
ela sabe se cuidar.
Ela tem sabor
sabor de amor
ela é bálsamo sobre a dor.
Vanessa bailarina
Vanessa cósmica ninfa
Vanessa musa do amanhecer
Vanessa sabe quando emudecer.
Sustos de amor.
Ela gosta
de me pregar peças
chega de fininho
passinhos cheios de calor -
Ela é tudo que pedi a Deus.
Mestra e aprendiz
é ouro tudo o que diz
Vanessa é jovem e anciã
Rainha de invisível clã.
Ela sabe bem o que quer
sabe quando quer parar
Ela purifica o ar
pinta e borda o ser.
Vanessa nua
sonhando em minha cama
Vanessa valsa
embala ginga na trama -
Vanessa tem fome
fome e sede de alegria
Vanessa sabe mastigar
pérolas e diamantes da magia -
Vanessa…
Vanessa é real?
Vanessa não tem igual!
Sustos de amor
peripécias feminis
néctar de almejos viris
séria feliz ela é ardor.
Sustos suspirados
surpresas de bem tranquilas
toques segredados
suas vozes coloridas -
A intimidade mais pura
descalçada para voar
ela carrega em si um mar
receitas da melhor loucura -
Vanessa
oásis vivo no deserto
Vanessa
gatilho de tiro certo.
Sustos de amor.
Ela me dá
sustos de amor.
Ela me dá
sustos de amor.
Chega pulando meu portão
Me surpreende
lavando as louças -
De sopetão!
Ela
tão aguardada
A mais amada.
Ela gosta de doces
ela dança docemente
Ela -
ela sabe se cuidar.
Ela tem sabor
sabor de amor
ela é bálsamo sobre a dor.
Vanessa bailarina
Vanessa cósmica ninfa
Vanessa musa do amanhecer
Vanessa sabe quando emudecer.
Sustos de amor.
Ela gosta
de me pregar peças
chega de fininho
passinhos cheios de calor -
Ela é tudo que pedi a Deus.
Mestra e aprendiz
é ouro tudo o que diz
Vanessa é jovem e anciã
Rainha de invisível clã.
Ela sabe bem o que quer
sabe quando quer parar
Ela purifica o ar
pinta e borda o ser.
Vanessa nua
sonhando em minha cama
Vanessa valsa
embala ginga na trama -
Vanessa tem fome
fome e sede de alegria
Vanessa sabe mastigar
pérolas e diamantes da magia -
Vanessa…
Vanessa é real?
Vanessa não tem igual!
Sustos de amor
peripécias feminis
néctar de almejos viris
séria feliz ela é ardor.
Sustos suspirados
surpresas de bem tranquilas
toques segredados
suas vozes coloridas -
A intimidade mais pura
descalçada para voar
ela carrega em si um mar
receitas da melhor loucura -
Vanessa
oásis vivo no deserto
Vanessa
gatilho de tiro certo.
Sustos de amor.
Ela me dá
sustos de amor.
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